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A vacina BCG foi desenvolvida para combater a tuberculose em uma época que essa doença era uma das principais causas de morte no mundo. Agora, perto de completar 100 anos de sua descoberta, algumas pesquisas têm demonstrado que ela pode ser uma aliada no combate ao SARS-CoV-2.
Desde seu desenvolvimento, esta vacina é altamente estudada, não só para avaliar sua eficácia contra as formas mais graves de tuberculose, como também para investigar como ela estimula o sistema imune, gerando proteção indireta contra outras doenças infecciosas respiratórias.
A pesquisadora da Fiocruz Bahia, Theolis Bessa, conta que estudos conduzidos na África, em 2011, reacenderam o debate sobre os efeitos da BCG na redução da mortalidade por outras enfermidades. No ano seguinte, houve a primeira demonstração de como alterações em células imunes poderiam explicar esse fenômeno, que ficou conhecido como “imunidade treinada”. A imunidade clássica gerada com outras vacinas é chamada de “resposta imune de memória”, que é uma imunidade específica contra a doença para qual a vacina foi desenvolvida.
Com a pandemia da Covid-19, algumas observações levaram a comunidade científica a considerar um possível papel protetor da BCG contra o SARS-CoV-2. Segundo Theolis, uma delas foram as divergências entre as projeções realizadas por cientistas e como de fato a Covid-19 se comportou em alguns países. Para alguns pesquisadores, a explicação para essas divergências não estaria apenas em diferenças sócioeconômicas, nas políticas de combate à pandemia ou no grau de preparação do sistema de saúde.
“Como a BCG não é uma vacina adotada em todos os países, os dados das projeções da Covid-19 gerados durante a pandemia mostraram que talvez a vacinação tivesse influência nos resultados encontrados, pois já estava sendo bastante estudado o efeito dessa vacina contra outras doenças respiratórias”, observou.
Outro dado que chamou a atenção dos pesquisadores foi o fato de crianças não serem tão suscetíveis ao novo coronavírus, sendo muitas assintomáticas, diferente de outras doenças virais e respiratórias que geralmente são mais graves nessa faixa etária. Theolis explica que a BCG é uma das primeiras vacinas aplicadas nas crianças e traz uma resposta imune importante na primeira década de vida, que é a faixa etária mais poupada pelo coronavírus, além de ter se mostrado eficaz na proteção para outros vírus do trato respiratório.
Os primeiros estudos realizados sobre a relação da BCG com a Covid-19 foram epidemiológicos, somente de observação, chamados estudos ecológicos, especificamente. Esses trabalhos compararam diversos países com populações parecidas com relação a uma série de parâmetros que podem influenciar no impacto do novo coronavírus, mas que tinham diferentes políticas de administração de BCG. “Os resultados desses estudos deram peso inicial para que a vacina pudesse ser cogitada como protetora contra Covid-19”, comentou a pesquisadora.
Atualmente, estão em andamento pesquisas clínicas, que são estudos em que pessoas são testadas voluntariamente com a vacina. Em Salvador, pesquisas estão sendo realizadas para estimar a eficácia da primeira dose da vacina BCG e da revacinação na redução da incidência e mortalidade por Covid-19. Entre as instituições que fazem parte desse trabalho está o Instituto Couto Maia (BA), com apoio da Rede CoVida, projeto realizado através de parceria entre o Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) e o Instituto de Saúde Coletiva (ISC/UFBA). Clique aqui para saber mais.
Sobre a BCG
A vacina do Bacilo Calmette–Guérin (BCG) foi desenvolvida pelos médicos franceses Calmett e Albert Guerin, no Instituto Pasteur, em Paris. Passou a ser utilizada no combate à tuberculose a partir de 1921. No Brasil, desde 1976, o Ministério da Saúde tornou obrigatória a administração da BCG em crianças até os 4 anos e está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo dados do DataSus, do Ministério da Saúde, a vacina BCG foi a única das 16 vacinas do esquema básico a atingir a meta da cobertura vacinal em 2017 e 2018 no país. Ela teve cobertura de 96,41% em 2017 e de 96,09% em 2018.
A tuberculose é uma doença infecciosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis, o bacilo de Koch. A Organização Mundial da Saúde considera a doença a infecção mais mortal do mundo, com cerca de 1,5 milhões de morte por ano e mais de 10 milhões de infectados, mesmo sendo uma doença tratável e prevenível com a vacinação. Em 2019, o Brasil registrou 73.864 mil casos de tuberculose, com mais de 4 mil mortes.