Transmissão simultânea dos vírus da dengue, chikungunya e zika é analisada em Salvador

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A partir de 2014, grandes epidemias de chikungunya e Zika assolaram o Brasil e outros países das Américas, se juntando à dengue para compor um grupo de doenças febris transmitidas por mosquitos que representa um emergente problema de saúde pública urbana: as arboviroses. Desse modo, a correta diferenciação clínica de cada uma dessas doenças ficou ainda mais difícil. Além disso, há a possibilidade de infecção simultânea (co-infecção) por mais de um dos vírus e as implicações dessa ocorrência em relação à apresentação e evolução clínica são pouco claras.

Diante dos desafios e lacunas, no conhecimento no que se refere à frequência em que co-infecções ocorrem durante períodos de intensa co-transmissão de diferentes arbovírus, a quais manifestações clínicas são mais frequentes em cada uma dessas infecções e à capacidade dos médicos suspeitarem corretamente do diagnóstico delas, o pesquisador da Fiocruz Bahia e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Guilherme Ribeiro, liderou um estudo com objetivo de responder a essas perguntas.

A pesquisa, realizada entre setembro de 2014 e julho de 2016, incluiu 948 pacientes atendidos por doenças febris em uma unidade de saúde de emergência de Salvador, os quais foram sistematicamente investigados por exames laboratoriais para verificar se a causa da doença poderia ser atribuída aos vírus da dengue, chikungunya ou zika.

Os resultados do trabalho foram publicados no periódico científico Clinical Infectious Diseases, um dos mais conceituados meios de divulgação de resultados de pesquisas na área das doenças infecciosas. Além de pesquisadores da Fiocruz Bahia e da UFBA, participaram da pesquisa estudantes de pós-doutorado, doutorado, mestrado e iniciação científica, e pesquisadores das instituições internacionais Yale University, Emory University e University of Texas Medical Branch, todas localizadas nos EUA.

Os resultados indicaram que essas três arboviroses são uma importante causa das doenças febris que acometem aqueles que procuram uma unidade de emergência. De cada 100 pacientes incluídos no estudo, 26 deles tinham uma infecção aguda por um dos arbovírus, sendo que 24 tinham uma infecção causada por apenas um dos arbovírus, enquanto que 2 apresentava uma co-infecção por dois arbovírus. A elevada frequência de detecção de infecções e co-infecções por arbovírus entre os pacientes febris investigados ocorreu em função da intensa transmissão simultânea dos três arbovírus, em Salvador, durante o período do estudo.

Foi observado também que, de uma forma geral, as manifestações clínicas da dengue, Zika e chikungunya eram semelhantes. Entretanto, os pacientes com Zika apresentaram erupção cutânea e prurido mais frequentemente do que aqueles com dengue e chikungunya. Por outro lado, dores articulares foram mais comuns naqueles que tiveram o diagnóstico de chikungunya, comparados àqueles diagnosticados com dengue e Zika.

Apesar dessas diferenças, os médicos apresentaram grande dificuldade em fazer uma suspeita clínica do diagnóstico corretamente, visto que o maior acerto ocorreu para os pacientes que tiveram o diagnóstico laboratorial de Zika e esse acerto foi de somente 23%. Uma parte da dificuldade para fazer uma suspeição clínica correta se deveu ao fato de que a transmissão do vírus chikungunya, em Salvador, ainda não estava completamente evidente no período.

O estudo, conduzido durante um período de intensa transmissão simultânea de Dengue, Chikungunya e Zika, concluiu que as arboviroses são uma importante causa de doenças febris e indicou que as co-infecções são comuns nessas circunstâncias. Dadas as semelhanças clínicas entre as três arboviroses existe uma necessidade urgente do desenvolvimento de testes diagnósticos que detectem essas três infecções de forma simultânea, que forneçam um resultado em pouco tempo e possam ser realizados na s unidades de pronto-atendimento, sem necessidade de um laboratório especializado.

Além disso, informações epidemiológicas sobre sazonalidade, suscetibilidade da população e intensidade de transmissão desses vírus em cada local são necessárias para orientar os médicos na sua suspeição clínica.

 

 

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