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A corrida pelo desenvolvimento da vacina ou de um tratamento adequado para o combate ao novo coronavírus são a esperança para enfrentamento da Covid-19, doença que em poucos meses ceifou milhares de vidas e modificou a rotina de populações de diversos países, levando também a impactos econômicos. Enquanto não é possível encontrar soluções a curto prazo, a discussão sobre testes para detectar indivíduos infectados tem ganhado destaque no cenário de pandemia do novo coronavírus.
O pesquisador da Fiocruz Bahia, Manoel Barral Netto, explica que para entender a importância dos testes é necessário pensar sobre alguns aspectos: o que são esses testes, quais as suas potencialidades e limitações e quando utilizá-los como instrumento para tomada de decisão.
De acordo com Barral, o teste em si não resolve a situação da pandemia, mas fornece informações que irão modificar as ações de saúde coletiva. A relevância dos testes está não só em detectar quem está doente, mas em ter controle dos contatos desses pacientes, evitando que pessoas potencialmente contaminadas continuem circulando pela cidade, impedindo que o vírus se espalhe com mais facilidade.
Como o vírus permanece nas vias respiratórias, podendo ser transmitido para outras pessoas por algum tempo, algumas vezes antecedendo até o surgimento dos sintomas, também é importante detectá-lo o quanto antes. “Há um problema maior, que é quando o indivíduo permanece assintomático e transmitindo. Por isso, a estratégia de se fazer muito mais testes do que se costuma fazer em situações como essa”, pontua Manoel Barral.
Na Bahia, o cenário em relação à testagem é parecido com o que ocorre no Brasil inteiro; abaixo do necessário. Pela complexidade da coleta e do processamento da amostra, exigindo maquinário especialidade e reagentes que estão sendo requisitados pelo mundo inteiro dos fabricantes, ainda não é possível realizar a testagem em larga escala na população, como seria o ideal.
Dos dois tipos de testes utilizados atualmente, um detecta o vírus no indivíduo infectado e o outro detecta anticorpos contra o vírus em quem já teve a infecção. “Esses testes são se suma importância em todas a fases da pandemia, para criar uma estratégia de liberação dos indivíduos para o retorno de suas atividades gradativamente”, observa o imunologista.
Tipos de testes
O teste mais utilizado no Brasil é o molecular, chamado de Transcrição Reversa seguida de Reação em Cadeia da Polimerase (RT-PCR), que identifica o RNA do vírus através do swab nasofaríngeo, com a coleta de amostra na mucosa no cavidade nasal do paciente.
Essa técnica detecta o vírus quando o indivíduo está doente, mesmo sendo assintomático. Não é um teste fácil de ser feito, pois a manobra do swab exige profissionais treinados e um cuidado maior com o material coletado por ser altamente contaminável, colocando em risco quem realiza o exame. Esse teste, além de sensível, é muito específico, portanto confiável.
A outra técnica disponível é a sorológica, que detecta a presença de anticorpos para coronavírus na amostra de sangue, indicando que a pessoa foi infectada com o vírus em algum momento passado. Manoel Barral observa que a principal função desse tipo de teste é mostrar como está a exposição da população ao vírus.
O teste rápido para detecção de anticorpos foi recentemente liberado para ser realizado em farmácias. O pesquisador alerta que esses testes podem criar uma falsa sensação de proteção no indivíduo, visto que ainda não está comprovado que pessoas que foram expostas ao novo coronavírus estão realmente protegidas contra uma nova infecção. “E caso haja a imunização de fato, ainda não sabemos por quanto tempo esses indivíduos estão protegidos, porque os primeiros casos de Covid-19 são recentes”, acrescenta.
Além disso, segundo o pesquisador, o ideal é que esses testes sorológicos tenham sensibilidade acima de 90% e especificidade próxima a 98%, mas, por enquanto, eles têm apresentado respostas abaixo do esperado e por isso não são muito confiáveis, pois pode ocorrer um número alto de resultados falso positivos ou falso negativos.
Futuro com covid-19
Após a primeira onda da pandemia da Covid-19, o esperado é que boa parte da população não tenha sido exposta ao vírus e, portanto, não esteja imune. Como o coronavírus ainda estará circulando, o risco de uma segunda onda do surto é uma realidade. “Nós temos que tomar muito cuidado após a primeira onda de contaminação, ter uma vigilância muito ativa para detectar novos casos e fazer os trabalho de isolamento de pessoas doentes e seus contatos”, explica Barral.
Por isso, a realização de testes e comportamento cauteloso das pessoas continuarão a ser importantes mesmo após a primeira onda. “É necessário ficar claro, para todos nós, que a nossa vida vai mudar por um tempo. A gente não vai voltar à vida normal de uma hora para outra, vai ter que continuar circulando com máscara, usando muito álcool gel e lavando as mãos de forma muito intensiva”, afirma o pesquisador.