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A Plataforma de Diagnóstico para a Covid-19 da Fiocruz Bahia tem como prioridade pacientes provenientes de cidades com menor acesso a laboratórios de diagnósticos e populações em situação de vulnerabilidade social. Até o momento, a instituição tem recebido amostras de pacientes atendidos em postos de saúde dos municípios de Salvador e Irecê, bem como de populações indígenas e comunidades quilombolas da Bahia. Uma das ações estratégicas da plataforma é realizar testagens semanais dos funcionários e colaboradores da própria instituição que precisam manter atividades presenciais.
O teste molecular realizado na Plataforma de Diagnóstico, chamado de Transcrição Reversa seguida de Reação em Cadeia da Polimerase (RT-qPCR), identifica o RNA do vírus através do swab nasofaríngeo, sendo uma das técnicas de diagnóstico mais confiáveis. A testagem da Covid-19 é fundamental para a implementação de medidas de vigilância sanitária, bem como para monitoramento e controle da infecção durante a pandemia. Desde que começou a funcionar, em julho, foram realizados mais de 7.600 testes para detecção do novo coronavírus. A estrutura tem capacidade para realizar 200 testes por dia e está liberando os resultados em até 48h. A meta é chegar a 50 mil testes nos próximos 6 meses.
Em breve, a estrutura receberá um robô de automação, disponibilizado pela Fiocruz. Segundo o pesquisador da Fiocruz Bahia e coordenador da Plataforma, Ricardo Khouri, o uso do robô de automação ampliará a capacidade de testagem da Plataforma. “A automatização dessa parte do processamento da amostra vai possibilitar um trabalho mais eficiente, com mais segurança, menos exposição e de forma mais rápida”, explicou.
Atualmente, trabalham presencialmente um grupo de profissionais que realiza o recebimento, o pré-processamento e a extração do material genético viral das amostras, além da preparação e execução das reações de RT-qPCR. Há também uma equipe que trabalha remotamente na análise e liberação dos laudos, após o processamento e obtenção dos resultados das amostras. O trabalho remoto é possível graças a um sistema on-line desenvolvido por um grupo de pesquisadores da Fiocruz Bahia especialmente para esse projeto.
As equipes são compostas por alunos de mestrado, doutorado e pós-doutorado que se voluntariaram para participar e foram selecionados de acordo com as habilidades em biologia molecular. A seleção da equipe atraiu um número grande de pessoas que desejavam participar da iniciativa tendo em vista a importância do contexto histórico de enfrentamento das consequências da pandemia para a saúde pública. “Nós tivemos vários voluntários interessados em participar, mas recrutamos aqueles que possuíam experiência prévia nos métodos aplicados para o diagnóstico do coronavírus”, explica Clarissa Gurgel, pesquisadora da Fiocruz Bahia e integrante da coordenação da plataforma.
A implementação da Plataforma de Diagnóstico para Covid-19 na Fiocruz Bahia foi consolidada por meio de cooperação com Distritos Sanitários Especiais Indígenas da Bahia (DSEI/BA), o Laboratório Central de Saúde Pública (LACEN/BA), a Secretaria Estadual de Saúde da Bahia (SESAB) e a Prefeitura de Salvador, em consonância com a Coordenação de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde e a Coordenação de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz. Os kits para diagnóstico são desenvolvidos pelos institutos de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), no Rio de Janeiro, e de Biologia Molecular do Paraná (IBMP).
Implementação
O projeto de testagem para Covid-19 surgiu a partir do desejo dos pesquisadores em colaborar com o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, diante da emergência em saúde pública. Há diversas possibilidades de atuação para pesquisadores, como no desenvolvimento de vacinas ou ensaios clínicos para teste de medicamentos. O núcleo da Fiocruz Bahia optou por desenvolver uma plataforma que auxiliasse os órgãos de saúde pública na tomada de decisões sobre o combate à Covid-19. “Essa foi a maneira que encontramos de contribuir com uma ação concreta, produzindo diagnósticos e gerando informação sobre a situação, de modo a retribuir à sociedade o investimento que foi feito na nossa formação como cientistas e cidadãos solidários”, explica Khouri.
Na coordenação de biossegurança do projeto, o pesquisador da Fiocruz Bahia, Leonardo Paiva, comenta sobre as precauções para garantir a segurança de todos os participantes. Como referência, foram usadas as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC/ EUA), além de trabalhos publicados recentemente, bem como a troca de informações com outros institutos que estavam realizando a testagem. “Nós não possuíamos muito a nosso favor, a não ser o desejo de ajudar as pessoas, ao ver a angústia de muitas delas em estar em um hospital sem conseguir fazer testagem”, afirmou Paiva.
Para Clarissa Gurgel, foi a união dos esforços de cada pesquisador e pessoas envolvidas no projeto que o tornou viável, juntando as experiências de cada um. “Todo mundo entendeu essa necessidade e a vocação que a gente tem, aqui na Fiocruz, de ser pesquisador em saúde pública. É isso que nós somos e precisamos atender a essa demanda em saúde pública”, acrescentou a pesquisadora.
O pesquisador da Fiocruz Bahia, Bruno Bezerril, integrante do projeto, destacou o modelo de gestão da plataforma e considerou como inovador o desenvolvimento de ferramentas de rastreabilidade de amostras e de documentação de processos e resultados em tempo real, que pode ser visualizado utilizando uma interface fácil e didática. “Em um curto espaço de tempo a equipe responsável pela implementação da plataforma montou uma infraestrutura de alta qualidade, com dedicação de espaço exclusivo, mobilização de equipamentos, insumos e de pessoal, para possibilitar atividades obedecendo elevados padrões de boas práticas de laboratório no contexto da testagem da Covid-19”, declarou.
Pesquisadores integrantes do grupo que implementou a plataforma de diagnóstico tiveram projetos de otimização de diagnóstico para Covid-19 aprovados em edital do Programa Inova Fiocruz. A ideia é que esse diagnóstico otimizado seja disponibilizado para que os serviços de saúde possam ter acesso a exames moleculares sem precisar de uma infraestrutura mais complexa. “Queremos desenvolver um teste que possa ser aplicado no leito do paciente, de forma rápida”, explicou o autor de uma das propostas e pesquisador da Fiocruz Bahia, Bruno Solano, que também integra a plataforma.