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As resolvinas da série D já foram descritas, em diversos estudos, como potentes mediadores anti-inflamatórios e imunomoduladores, embora não se saiba se elas desempenham papéis significativos na infecção por Leishmania. Neste cenário, um estudo realizado pelos pesquisadores Hayna Malta, Bruno Andrade, Dalila Zanette, Jackson Costa, Aldina Barral, Jaqueline França e Valéria Borges, da Fiocruz Bahia, em conjunto com as pesquisadoras Patrícia Bozza, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), e Christianne Bandeira-Melo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); abordou esta questão, avaliando os níveis circulantes desses mediadores lipídicos em pacientes com leishmaniose tegumentar (LT).
A LT é causada por um patógeno intracelular e exibe manifestações clínicas associadas ao equilíbrio entre a replicação do parasita e a destruição inflamatória mediada por imunidade do tecido da pele. Na forma clínica mais comum, chamada leishmaniose cutânea localizada (LCL), são observadas úlceras de pele, geralmente responsiva ao tratamento de primeira escolha. Por outro lado, uma forma clínica rara sem tratamento eficiente disponível, a leishmaniose cutânea difusa (LCD), é caracterizada pelas numerosas lesões nodulares com macrófagos fortemente parasitados.
Para caracterizar o papel das resolvinas na infecção por Leishmania, os pesquisadores avaliaram os níveis circulantes de resolvinas D1 e D2 (RvD1 e RvD2) em pacientes com LCL ou LCD de uma área endêmica no Brasil. Também foram realizados ensaios in vitro com macrófagos humanos derivados de monócitos infectados com L. amazonensis. Os resultados da pesquisa podem ser encontrados no artigo publicado no periódico Scientific Reports, no dia 10 de abril, intitulado “Resolvin D1 drives establishment of Leishmania amazonensis infection”.
Ao testar se os níveis plasmáticos elevados de RvD1 estavam associados ao aumento da replicação de Leishmania in vivo, os pesquisadores encontraram correlação positiva entre os níveis de RvD1 com o número de lesões na população estudada. As concentrações de RvD2 não foram diferentes entre os grupos clínicos. Essas observações sugeriram que a RvD1 aumenta a carga de infecção de L. amazonensis em macrófagos humanos e levaram os especialistas à hipótese de que os níveis de RvD1 poderiam estar associados a um ambiente imunológico que favorece o desenvolvimento de LCD.
Esses resultados são consistentes com a ideia de que o parasito desencadeia uma produção precoce e transitória de RvD1 por macrófagos que devem ser importantes para a proliferação intracelular de Leishmania. As descobertas apresentadas ainda precisam de validação adicional em diferentes populações de pacientes e configurações epidemiológicas em estudos prospectivos, mas apontam para a ideia de que interferir com a via RvD1 poderia potencialmente servir como uma terapia adjuvante para LCD e outras formas clínicas da doença. Esses achados argumentam fortemente que o bloqueio da produção de RvD1 pode servir como uma estratégia para reduzir a carga intracelular de infecção por L. amazonensis.