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O projeto Meninas Baianas na Ciência, da Fiocruz Bahia, iniciou mais uma ação, com o apoio da Secretaria de Educação do Estado da Bahia e o financiamento da 2ª chamada Garotas STEM, do British Council e Fundação Carlos Chagas. A iniciativa organizada pelas pesquisadoras Isadora Siqueira, Karine Damasceno e Natália Machado, recebeu, na terça-feira (26), a visita de estudantes baianas de nove colégios estaduais da rede pública.
A programação contou com as palestras da diretora da Fiocruz Bahia, Marilda de Souza Gonçalves, e de Zélia Profeta, coordenadora de Estratégias de Integração Regional e Nacional da Presidência da Fiocruz, seguidas de debates com as estudantes. O projeto busca despertar o interesse das estudantes baianas da rede pública para a área científica, com uma série de apresentações com participação das pesquisadoras da Fiocruz Bahia. A iniciativa irá promover um evento todo mês, até novembro, para que as alunas conheçam o trabalho da instituição.
A mesa de abertura foi composta por Marilda Gonçalves; o vice-diretor de Pesquisa da Fiocruz Bahia, Ricardo Riccio; a vice-diretora de Ensino e Informação, Claudia Brodskyn; e a representante da Secretaria Educação da Bahia, Andreia Santana. “É importante que a gente tenha mais projetos com essa temática, de forma a incentivarmos que as meninas façam parte desse universo, um universo que é grande”, afirmou Marilda. A diretora agradeceu a participação das estudantes, assim como o apoio que tornou possível o projeto. “Espero que possamos influenciar a formação dessas meninas na ciência”.
Para Claudia Brodskyn, é necessário aplaudir iniciativas como esta. “A gente tem alcançado um nível de envolvimento das meninas muito grande. Isso nos anima a continuar mostrando para elas o que é a ciência hoje, o que a gente faz aqui, para que essa geração também sinta o prazer que a gente sente em fazer ciência”.
Ricardo Riccio salientou que projetos como o Meninas Baianas na Ciência podem e devem mudar o cenário predominantemente masculino da ciência. “É fundamental que a gente tenha olhares diversos na ciência, para que possamos responder aos desafios e perguntas de forma que possa envolver a todos”. O pesquisador destacou que as portas da instituição estão abertas para todas as alunas.
Também presente na abertura, Deborah Bittencourt, coordenadora da Pós-Graduação de Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa (PGBSMI), afirmou ter a expectativa de ver algumas das presentes na pós-graduação. “A gente espera que algumas participem das feiras de ciência”, convidou a professora. Juliana Perrone, vice-coordenadora da Pós-Graduação em Patologia Humana e Experimental (PGPAT), também reforçou o desejo de ver novas colegas na área e apresentou os programas da Fiocruz.
Inclusão
Um dos objetivos do trabalho é ampliar a representatividade das meninas alcançadas pelo projeto. Para isso, a comissão organizadora do Meninas Baianas na Ciência recebeu a visita de jovens indígenas da nação Pataxó, estudantes do Colégio Indígena da Coroa Vermelha, da aldeia da Coroa Vermelha, localizada em Santa Cruz Cabrália, no sul da Bahia. Acompanhadas da professora Siuane de Oliveira Lima, Maria Eduarda Guedes e Rauane Andrade, de 16 e 15 anos respectivamente, visitaram as instalações da Fiocruz Bahia antes das palestras.
“Espero sair daqui com novos aprendizados e que possa continuar nesse caminho da ciência”, afirmou Maria Eduarda, que deseja ser médica. Rauane sonha em se tornar advogada, mas não estava menos interessada na visita e nas oportunidades que se apresentaram. “Quis aprender mais e passar para o meu povo também. Porque, eu, vindo aqui e aprendendo, posso voltar para lá e mostrar para eles, para que eles também possam ter interesse e queiram também aprender”, contou.
“A ciência que nós fazemos é para a população. As comunidades tradicionais merecem todo o nosso respeito e admiração. Estamos aqui porque elas vieram antes de nós. Acho muito importante essa aliança do presente com o passado, que eles representam, e auxiliar para que também façam parte do nosso futuro”, declarou Marilda Gonçalves.
As escolas que participaram do evento foram Colégio Estadual Deputado Rogerio Rego; Colégio Estadual Heitor Villa Lobos; Colégio Estadual Mãe Stella; Colégio Estadual Cosme de Farias; Colégio da Polícia Militar – Unidade I/Dendezeiros; Colégio Estadual Eduardo Bahiana; Colégio Estadual da Bahia Central; e Escola Estadual Deputado Naomar Alcântara, além do Colégio Indígena da Coroa Vermelha.
Palestras
Zélia Profeta iniciou citando a missão da Fiocruz e a busca por equidade de gênero na instituição, que teve ênfase em 2017, com a eleição de Nísia Trindade para a presidência, que culminou em um manifesto das trabalhadoras da instituição. “Colocamos o nosso papel como mulheres cientistas de pensar um outro modelo de desenvolvimento, um modelo que fosse mais inclusivo, que pensasse o Sistema Único de Saúde de forma que ele fosse mais universal e equânime, que trabalhássemos para o fortalecimento de políticas”, compartilhou.
Dentro das ações da Fiocruz, ela também destacou o “Programa Meninas e Mulheres na Ciência”, lançado em 2019, com atividade em todas as unidades. Atualmente 56% da força de trabalho da instituição são mulheres, mas, apesar das iniciativas, a proporção delas em cargos estratégicos flutua em torno dos 30%. “Apresentar esses desafios, não é para desanimar ninguém. Eu acho que a gente tem que atuar em programas e projetos como esse que estamos desenvolvendo, agarrar essas oportunidades e também atuar na discussão com outros grupos para eliminar a desigualdade”, declarou.
Marilda Gonçalves relatou que a abordagem de gênero e raça dentro da instituição foi desenvolvida em consonância com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 5 para Agenda 2030, da Organização Mundial de Saúde (OMS). “Somente reforçando, os homens ainda são 70% dos pesquisadores em todo o mundo. Nós precisamos realmente mudar esse quadro”, comentou. “Quanto mais estivermos abertos a falar sobre as desigualdades, mais se materializa a necessidade de reduzi-la”, finalizou a diretora.