Pesquisadores analisam experiência da pandemia da Covid-19 na região Nordeste

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Um estudo realizado pelo grupo “Epidemiologistas do Nordeste para a Covid-19”, do qual participam pesquisadores do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (CIDACS/Fiocruz Bahia) e diversos especialistas de outras instituições de pesquisa da região, avaliou as diferenças e similaridades entre a evolução e comportamento da Covid-19, nos estados do Nordeste. O período analisado foi de março a julho de 2020.

No trabalho, os pesquisadores afirmam que, embora medidas de distanciamento social tenham sido implementadas, amenizando os efeitos da pandemia, a crise na saúde vem aprofundando as desigualdades já existentes na região, produzindo não só grande número de casos e óbitos, mas também o aumento da pobreza, o crescimento das disparidades raciais e étnicas e afetando, sobretudo, as mulheres. A epidemia da Covid-19, que atinge a região e o país em um dos períodos mais difíceis de sua história política, econômica e social, deixará marcas para sempre no futuro de suas gerações, concluem os autores.

Os cientistas esclarecem que a interação entre pobreza, desemprego, nível de escolaridade, raça, gênero e cor têm sido documentadas como determinantes da Covid-19. Populações com baixa renda são mais expostas à contaminação por doenças infecciosas, incluindo o SARS-CoV-2, devido à falta de acesso a saneamento básico, educação e serviços de saúde, além de residirem de forma precária, com número excessivo de moradores, utilizarem transporte público e estarem em empregos informais. Todos esse fatores dificultam que as pessoas fiquem em casa e façam o distanciamento físico adequado.

O Nordeste é marcado pela pobreza e pela desigualdade socioeconômica, cenário que ajuda a explicar o impacto da Covid-19 na região brasileira composta por mais de 50 milhões de habitantes, distribuídos em nove estados. De acordo com o estudo, a maior incidência da Covid-19 foi registrada nos estados de Sergipe, Paraíba e Ceará. Piauí, Paraíba e Ceará foram os que mais realizaram testes.

Também foi observado que não tem sido praticada, nos níveis necessários para cessar ou reduzir significativamente a doença, a implementação de medidas mais radicais que acompanhem o distanciamento físico, tais como: renda prolongada para famílias vulneráveis; teste em massa; autoisolamento das pessoas confirmadas com a doença, com oferta de locais onde possam realizar o isolamento quando o mesmo não for possível, como hotéis e escolas; e rastreamento dos contatos.

Segundo os pesquisadores, o vírus entrou pelas capitais, mas atinge cidades do interior ainda mais despreparadas para lidar com a pandemia. No interior dos estados no Nordeste, algumas fragilidades incluem a falta de assistência de nível terciário (assistência hospitalar), o número de leitos de UTI por habitante, escassez de profissionais da saúde com qualificação no manejo de pacientes internados e dificuldade de acesso da população a unidades de saúde.

Para os especialistas, várias epidemias estão ocorrendo simultaneamente na região e, provavelmente, haverá novas ondas da epidemia, tanto nas capitais como no interior dos estados da região, enquanto medidas mais fortes de distanciamento físico não forem postas em prática ou até que surja uma vacina, ou que a população atinja níveis de “imunidade de rebanho”.

O artigo “Covid-19 no Nordeste brasileiro: sucessos e limitações nas respostas dos governos dos estados” foi publicado na Revista Ciência e Saúde Coletiva. Clique aqui e confira a análise completa.

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