Pesquisadora explica como funciona a imunização em pessoas que foram infectadas por Covid-19

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O tema da imunidade para o novo coronavírus tem sido um dos assuntos discutidos em meio a pandemia, uma vez que a vacina ainda não está disponível e algumas pessoas têm depositado na imunidade adquirida após a infecção da Covid-19 a esperança para que a vida volte ao normal aos poucos. Algumas questões têm sido alvo de debate científico: seria possível alcançar a chamada imunidade de rebanho? E a imunidade após a infecção, ela é duradoura? 

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“O distanciamento social é a única medida que temos enquanto uma vacina não é produzida”, afirma Fernanda Grassi, pesquisadora da Fiocruz Bahia.
Para compreender como a imunidade funciona nos casos de Covid-19 é preciso entender o que acontece no corpo ao ser infectado. A médica imunologista e pesquisadora da Fiocruz Bahia, Fernanda Grassi, explica que na infecção por um vírus há inicialmente uma resposta imune inata do organismo: o vírus infecta uma célula e o organismo passa a produzir uma proteína para interferir na sua multiplicação e estimular a atividade de defesa de outras células. Isso cria um estado “antiviral”, que tenta impedir que haja infecção das células vizinhas. 
 

No caso da Covid-19, o pulmão é infectado pelo coronavírus e essa infecção levará a uma resposta imune protetora que ocorre com o processo de destruição da célula infectada e a inativação do vírus por anticorpos neutralizantes, capazes de impedir uma nova infecção pelo mesmo vírus. Os anticorpos para Sars-CoV-2 podem ser detectados em exame cerca de 10 dias após a infecção. 

Até o momento, o que se sabe sobre a imunidade para Covid-19 é que mais de 80% dos indivíduos que foram infectados pelo novo coronavírus têm anticorpos neutralizantes e já se sabe que títulos maiores de anticorpos estão relacionados à maior gravidade da doença. 

A pesquisadora compara dados das infecções anteriores por SARS-CoV-1, em 2002, e MERS-CoV, em 2012, com o que já foi descoberto na pandemia de SARS-COV-2. O pico de proteção dos infectados nas epidemias do passado foi de três a seis meses após a exposição ao vírus, com diminuição em cerca de 16 meses. Cerca de seis anos após essas infecções, menos de 10% das pessoas ainda tinham anticorpos para esses vírus.

Para Sars-CoV-2, na fase aguda da doença, há um maior nível de anticorpos em indivíduos sintomáticos do que assintomáticos, persistindo na fase de recuperação até três meses após a exposição ao vírus. Após esse período, ocorreu uma diminuição dos níveis de anticorpos nestes indivíduos e cerca de 40% dos indivíduos assintomáticos apresentaram uma negativação, não sendo possível mais detectar anticorpos pelos métodos atuais de testagem.

Imunidade de rebanho e vacina

A chamada ‘imunidade de rebanho’ ou ‘imunidade de grupo’ ocorre quando uma parte da população possui anticorpos contra uma doença e acaba protegendo outra parte que não possui anticorpos, pois a imunidade dessa parcela faz com que diminua a circulação do vírus na população. No caso do SARS-CoV-2 acredita-se que seja necessário que entre 40% e 70% da população esteja imune à doença, seja pela infecção natural ou vacinação, para obter a imunidade de grupo. 

Fernanda aponta que um levantamento, feito entre 14 e 21 de maio, mostrou que as 15 cidades brasileiras com maior soroprevalência ainda estão bem longe desse número de imunidade de grupo, a maior sendo em Belém, no Pará, com 15%. “Para alcançar a porcentagem estimada para imunidade de grupo, nós teríamos uma proporção de mortes muito alta, então o distanciamento social é a única medida que temos enquanto uma vacina não é produzida”, explicou a pesquisadora.

A cientista ressaltou que é preciso que a vacina leve a uma produção de anticorpos neutralizantes para que seja eficaz contra o vírus. Até o dia 28 de julho, havia mais de 190 candidatas à vacina sendo estudadas e seis delas se encontram na fase de testes em humanos. Como até o momento ainda não foi possível caracterizar a resposta imune protetora mais importante, essas vacinas estão sendo feitas através de apostas na melhor forma de proteger o indivíduo, em tempo recorde. 

“Eu espero que elas funcionem, mesmo que estejam pulando várias etapas para desenvolver uma vacina, porque muita gente está morrendo e precisamos dar uma resposta rápida a essa pandemia”, concluiu a pesquisadora.

 
 

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