Pesquisa sugere desenvolvimento de antimalárico através da união da atovaquona com metais

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Um estudo propõe o desenvolvimento de novos fármacos antimaláricos mais eficientes através da união do medicamento atovaquona (um medicamento já utilizado no tratamento da malária) com os metais prata, ouro e cobre. O trabalho foi realizado em colaboração com grupos de pesquisas do Brasil, Portugal e França, incluindo o grupo do pesquisador da Fiocruz Bahia, Diogo Moreira, e a estudante do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia em Medicina Investigativa (PGBSMI), Adrielle Sacramento. O artigo foi publicado no periódico Inorganic Chemistry.

A malária é uma doença infecciosa, aguda e potencialmente grave, causada pelo parasito do gênero Plasmodium, transmitido pela picada de mosquitos do gênero Anopheles infectados, mas também pode ser transmitido pelo compartilhamento de seringas, transfusão de sangue ou até mesmo da mãe para feto, na gravidez.

O estudo teve como objetivo verificar se há aumento da eficiência desses compostos frente ao Plasmodium falciparum, especialmente em cepas resistentes a outros tratamentos, além de evidenciar o mecanismo de ação base dos compostos.

A partir de ensaios padronizados como o de crescimento parasitário e citotoxicidade celular, os cientistas apontam que os complexos metálicos desenvolvidos apresentaram alta estabilidade, tanto no estado sólido quanto em solução, o que é crucial para garantir sua eficácia durante o tratamento. Também foi evidenciada sua capacidade de inibir o crescimento do Plasmodium falciparum de forma comparável à atovaquona, sem apresentar toxicidade significativa para células humanas.

A fim de compreender melhor acerca do possível mecanismo envolvido na ação desses compostos, foi realizado um ensaio de “inibição da β-hematina”. No curso normal da doença, durante a infecção, o parasito ataca os glóbulos vermelhos e consegue ingerir em pouco tempo boa parte da hemoglobina, composta pelas proteínas heme e globina, cuja função mais importante é fixar o oxigênio para ser transportado pelo sangue. No ambiente parasitário, a fração “heme” é tóxica ao parasito, mas o Plasmodium consegue convertê-la numa substância cristalina inofensiva, a hemozoína.

O ensaio da β-hematina revelou que os compostos são promissores, já que, além de preservar a eficácia da atovaquona, eles conseguiram inibir a formação de hemozoína, o “pigmento malárico”, deixando a “fração heme” livre, causando toxicidade ao parasito. Ao interromper esse processo de desintoxicação, os compostos metálicos aumentam a concentração de heme tóxico dentro do parasito, levando à sua morte.

Os pesquisadores concluíram que o estudo abre novas perspectivas para o tratamento da malária, especialmente em áreas onde a resistência aos medicamentos atuais é um problema crescente. A combinação de atovaquona com metais pode representar uma solução inovadora para combater a malária de forma mais eficaz e com menor risco de resistência.

Por Jamile Araújo, com supervisão de Júlia Lins

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