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Baseado em dados de um estudo internacional conduzido nos Estados Unidos, Quênia e Tailândia, pesquisadores da Fiocruz Bahia analisaram os riscos associados à anemia grave em indivíduos vivendo com HIV. Coordenado pelo pesquisador Bruno Bezerril, o estudo demonstrou que estes pacientes apresentaram maior risco de desenvolvimento da síndrome de imunoreconstituição inflamatória (SIRI), associada ao aumento significativo da mortalidade e morbidade, mesmo após o início da Terapia Antirretroviral (TARV). O trabalho, publicado no periódico eBioMedicine, tem como primeira autora a estudante egressa do Programa de Pós-Graduação em Patologia Humana (UFBA/Fiocruz Bahia), Mariana Araújo Pereira.
A SIRI é uma condição caracterizada por uma rápida deterioração clínica e com processos inflamatórios descontrolados, apesar da supressão da carga viral do HIV e aumento de LT CD4+, podendo surgir no contexto de uma ampla variedade de infecções oportunistas. Os pesquisadores exploraram a relação entre a anemia grave e a SIRI, examinando a ocorrência da síndrome em pessoas vivendo com HIV e seu surgimento de acordo com diferentes graus de anemia.
Com dados levantados de 2006 a 2018, a pesquisa utiliza informações de 506 pacientes, acompanhados por seis meses, antes e depois de iniciarem a TARV. Os estudos clínicos foram conduzidos com pessoas acima de 18 anos, com diagnóstico positivo para HIV, e sem histórico de TARV. Primeiro, os cientistas analisaram a incidência de anemia no grupo e concluíram que 16,3% dos pacientes tinha níveis normais de hemoglobina. Os demais, 83,7%, apresentaram baixos níveis de hemoglobina e foram considerados anêmicos.
Durante o período de acompanhamento dos pacientes, 19,3% desenvolveram a SIRI. A condição foi mais frequentemente diagnosticada em pacientes anêmicos e, de acordo com os pesquisadores, o risco de surgimento da síndrome mostrou-se estar associado a gravidade da anemia. A mortalidade geral também aumentou de acordo com a gravidade do quadro anêmico. Entre os grupos de indivíduos sem anemia, com anemia leve, moderada ou grave, os níveis de mortalidade foram de 4,88%, 5,28%, 6,20% e 19,2%, respectivamente. Os resultados favorecem a hipótese de uma relação entre a gravidade do quadro anêmico e o risco de SIRI e morte em pessoas vivendo com HIV.
A análise do tempo transcorrido até a morte revelou que os óbitos ocorreram mais frequentemente durante as primeiras três semanas da TARV. Também foi comparado o perfil dos pacientes que desenvolveram a SIRI e as vítimas fatais. A maioria, 75,9%, foram pacientes sem a SIRI que sobreviveram; 4,8% foram pacientes sem a SIRI que faleceram; 17,9% foram sobreviventes que desenvolveram a SIRI; e 1,4% foram pacientes com a SIRI que morreram. Indivíduos com SIRI e os casos de óbito apresentaram maior grau de marcadores inflamatórios e níveis mais baixos de hemoglobina do que os sobreviventes sem a SIRI.
Os resultados do estudo reforçam a ideia de que a alta inflamação sistêmica e a anemia grave estão ligadas a maiores chances de surgimento da SIRI e da alta do risco de morte em pessoas com HIV avançado, mesmo no início da TARV. Para os pesquisadores, o quadro grave de anemia pode ser um marcador da progressão da infecção por HIV, o que aponta para um diagnóstico tardio dos pacientes.
Para o grupo de pesquisa, estes achados reforçam a necessidade de diagnóstico e tratamento precoce, assim com a necessidade de monitoramento da anemia em pessoas com HIV antes e durante a TARV. Os pesquisadores destacam que a presença desta condição pode ser um importante marcador do risco de desfechos desfavoráveis, como SIRI e óbito, em pessoas vivendo com HIV.