Pesquisa avalia impactos dos desastres naturais na saúde em meio à pandemia da Covid-19, em Moçambique

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Um estudo analisou o impacto dos desastres naturais e da pandemia de Covid-19 no contexto da saúde pública em Moçambique, um dos países mais pobres e desiguais do mundo. O trabalho faz parte da tese de doutorado realizada no Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA), pelo estudante moçambicano Vánio Mugabe, sob a orientação de Guilherme Ribeiro, pesquisador da Fiocruz Bahia e professor da UFBA. Os resultados foram publicados no BMJ Global Health.

Os pesquisadores analisaram dados sobre danos (patrimoniais, econômicos, ambientais e número de pessoas afetadas, feridas e mortas) causados pelos ciclones Idai e Kenneth, que afetaram as regiões centro e norte de Moçambique, em 2019. Adicionalmente, examinaram a frequência de doenças diarreicas (incluindo cólera), malária e desnutrição nos habitantes dos distritos mais afetados pelas catástrofes, nas Províncias de Sofala e Cabo Delgado.

As duas províncias também têm sofrido grande impacto social e sanitário, tendo que lidar com o acolhimento de mais de 700.000 pessoas que vivem em extrema vulnerabilidade, deslocadas de seus domicílios como resultado das catástrofes climáticas e de violentos ataques terroristas que assolam a província de Cabo Delgado desde 2017.

No artigo, os pesquisadores relatam que os ciclones Idai e Kenneth foram os mais mortíferos e destrutivos da história de Moçambique, tendo atingido o país três anos após a pior seca registrada em três décadas, dois anos após o início dos ataques terroristas na região norte e um ano antes da pandemia de Covid-19. De acordo com os dados do artigo, os ciclones causaram enormes danos, que incluem perdas agrícolas, destruição de infraestruturas, ativos e meios de subsistência e deixaram quase 2,2 milhões de pessoas necessitando de ajuda humanitária, além daqueles que já precisavam de ajuda após a seca anterior. Por um longo período, as estradas foram danificadas, os serviços de telecomunicações e energia foram interrompidos e o acesso a serviços de saúde ficaram limitados. 

De acordo com o artigo, a interrupção dos serviços básicas de abastecimento de água, saneamento e higiene (WASH), aumentou o risco de transmissão de doenças infecciosas, com destaque para cólera que afetou 6.773 pessoas em Sofala (taxa de ataque de 571,4/100,00 habitantes) e 346 em Cabo Delgado (taxa de ataque de 105,5/100,00 habitantes). A perda da safra aumentou o problema de insegurança alimentar que já assolava o país.

A pesquisa aponta ainda que a pandemia da Covid-19 exacerbou a crise humanitária, sobrecarregando ainda mais o sistema de saúde que já era deficiente, mediante o aumento de taxas de morbidade e mortalidade de outras doenças que competem com a Covid-19 para diagnóstico e atendimento. Quase dois anos após a passagem dos ciclones de Idai e Kenneth em Moçambique, muitas famílias ainda sofriam com a escassez de alimentos e falta de acesso à moradia adequada e água potável.

Diante do cenário desafiador e da necessidade de uma resposta de saúde pública eficaz, os pesquisadores apresentaram estratégias de enfrentamento, como treinamento contínuo do pessoal de saúde, melhoria dos sistemas de vigilância, monitoramento e fortalecimento do programa de vacinação nacional. Os autores também apontaram a importância da união de esforços, em níveis nacional e global, de partes interessadas da saúde e outros setores, para lidar de forma contínua com os desafios de saúde pública que Moçambique enfrenta.

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