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A Fiocruz Bahia promoveu a primeira sessão científica do ano de forma especial, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher (08/03). O evento contou com as palestras das biólogas Deboraci Prates, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Luisa Maria Diele e Helena Araújo, ambas da Rede Kunhã Asé de Mulheres na Ciência, da historiadora Patricia Valim, da UFBA, e da assessora da Finep, Julieta Palmeira, mediadas pela pesquisadora da Fiocruz Bahia, Natália Tavares.
Estiveram presentes a Diretora de Políticas e Programa da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia (Secti), Sahada Luedy, os vice-diretores de Pesquisa, Gestão e Ensino da Fiocruz Bahia, Ricardo Riccio, Valdeyer Reis e Claudia Brodskyn, respectivamente, além de pesquisadores. A diretora da Fiocruz Bahia não pode estar presente, mas gravou um vídeo que foi exibido na ocasião. “Fui solicitada a estar na Fiocruz, no Rio de Janeiro, para participar de uma mesa redonda e de uma homenagem a algumas mulheres da instituição. O dia 8 de março é um dia de luta e peço que os homens estejam conosco”, disse a diretora.
Sessão Científica
A apresentação de Deboraci Prates teve como título “Mulheres negras na ciência e educação antiracista”. A professora mencionou aspectos do racismo, fez uma reflexão sobre a articulação dos saberes eurocêntricos, indígenas, africanos e afrodiaspóricos produzidos no âmbito acadêmico e apresentou dados da distribuição desigual das bolsas de produtividade em pesquisa entre homens e mulheres. “Um aspecto muito importante que esses dados vêm refletindo é o das interseccionalidades, que estão presentes nas ciências e nas instituições acadêmicas. Uma pesquisa feita pelo Dieese aponta que mulheres negras ganham 38,4% menos que mulheres não negras. Comparando com homens negros, as mulheres negras ganham 52% menos”, comentou.
Luisa Maria Diele e Helena Araújo abordaram o tema “Semeando Ciência: estimulando o empoderamento jovem em comunidades tradicionais”. Elas falaram do projeto realizado em 12 escolas do país, que teve como foco, na quarta edição, as comunidades tradicionais e as mudanças climáticas. “A ideia foi a gente se aproximar e fazer com que as crianças se vissem representadas em diferentes espaços, como o acadêmico. Começamos a discutir na escola, como um todo, questões relacionadas à equidade de gênero e inclusão”, contou Helena.
As dinâmicas do projeto também envolvem discutir na escola os sonhos dos estudantes e entender a percepção deles do que é ciência e de como é um cientista. “Tentamos mostrar para os alunos que eles podem se tornar lideranças locais, agentes transformadores da sua realidade”, completou Luisa.
Durante a palestra “Parentalidade na ciência”, Patrícia Valim apresentou o movimento Parent in Science e a Rede Brasileira de Mulheres Cientistas, das quais faz parte, falou do impacto da maternidade para as cientistas, das propostas dessas entidades para enfrentar os desafios e apresentou dados de pesquisas sobre o assédio no ambiente acadêmico. “Existe uma luta por uma licença paternidade paritária, no mesmo período das mães, para que a gente consiga diminuir esse efeito drástico na nossa carreira e não tenha que escolher entre ser mãe ou ser cientista. Que a gente tenha as mesmas condições de produção científica que os nossos colegas tem”, pontuou.
Julieta Palmeira falou sobre “Oportunidades para mulheres na ciência” abordando como a desigualdade de gênero se expressa na ciência, sobre as dificuldades da mulher na progressão na carreira, a equiparação salarial aos homens e dos desafios para a ampliação das mulheres na alta gestão de instituições e entidades científicas. “O patriarcado restringe as oportunidades das mulheres. Esse patriarcado também está na raiz do problema da violência contra as mulheres e que tembém está em espaços de poder, e a ciência é um desses espaços de poder”.
Fiocruz pela equidade de gênero
Como parte da programação do Dia Internacional da Mulher na Fiocruz, foi realizada, no Campus Manguinhos, no Rio de Janeiro, a roda de conversa “Fiocruz pela equidade de gênero: mulheres nos espaços de poder institucional”, organizada pela Coordenação de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas (Cedipa) da Fiocruz e o Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça. A mesa de Abertura foi formada por Lúcia Helena da Silva, vice-presidente do Sindicato dos Servidores de Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública (Asfoc); Zélia Profeta, chefe de Gabinete da Presidência; e Andréa da Luz, coordenadora geral de Gestão de Pessoas (Cogepe).
A roda teve como palestrantes: Anamaria Corbo, diretora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV); Marilda Gonçalves, diretora da Fiocruz Bahia; Jennifer Kelly, técnica de Inovações Farmacêuticas do Bio-Manguinhos; e Bruna Catalan, bolsista do Programa Fiocruz Saudável. A mediação foi feita por Hilda Gomes, coordenadora de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas.
Marilda Gonçalves destacou que, em quase 67 anos da Fiocruz Bahia, ela foi a primeira diretora mulher da unidade. “Espero que seja um marco, que tenha sido uma linha, e que várias mulheres queiram estar nesses espaços. Pois estar em espaços de poder é uma luta diária, porque por ser mulher, algo que embora não seja dito, mas que é subentendido, nós sempre precisamos de uma aprovação, e sempre precisamos estar provando a nossa capacidade”, afirmou.
A diretora ressaltou a importância das mulheres estarem nos espaços de poder com apoio amplo e aliadas aos homens. “Acho que nós temos que estar unidas, junto com os homens. A Fiocruz tem dado tantos exemplos como na pandemia, em outros momentos especiais, com a ministra Nísia Trindade, e tudo que representamos na sociedade brasileira e internacionalmente, nós temos que estimular que mais mulheres estejam nesses espaços. E que nós não sejamos citadas como exemplo de poucas, que tenhamos muito mais, e que possamos dividir com os homens esses espaços de poder”, observou Marilda.