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Os determinantes das diversas apresentações clínicas da malária não são completamente entendidos. Estudos prévios desenvolvidos pelos pesquisadores da Fiocruz Bahia, Manoel Barral Netto e Bruno Bezerril Andrade, relataram que a coinfecção por malária e hepatite B está associada ao aumento da probabilidade de apresentar malária assintomática (ver estudo aqui), mas pouco se conhece sobre os mecanismos imunitários que conduzem essa associação.
Um novo estudo coordenado pelo pesquisador Bruno Bezerril Andrade analisou múltiplas citocinas, quimiocinas e proteínas de fase aguda, em grupos de pacientes com diferentes apresentações de infecção por malária, por hepatite e com ambas as enfermidades, com sintomas e sem sintomas. O artigo foi publicado na PLOS Neglected Tropical Diseases.
Foram analisadas amostras de sangue de um banco de dados contendo 601 indivíduos da Amazônia. Os dados sobre os níveis plasmáticos de múltiplas quimiocinas, citocinas, proteínas de fase aguda, enzimas hepáticas, bilirrubina e creatinina foram analisados para descrever e comparar os perfis bioquímicos associados a cada tipo de infecção.
Os resultados indicaram que a coinfecção é marcada por um conjunto de respostas imunes relacionadas a cada uma das monoinfecções, que resulta em uma inflamação balanceada associada à imunidade clínica e ausência de sintomas.
De acordo com o artigo, em termos biológicos, as leituras são de que as respostas combinadas a cada patógeno induzem um perfil distinto de ativação imune sistêmica, com a atividade marcada de IL-10, uma citocina imunorreguladora, em confluência principalmente com atividade de CCL2 e IL-4. Essas múltiplas vias impediriam a atividade pró-inflamatória desequilibrada associada à malária sintomática e/ou grave.
Além disso, esses achados destacam a importância do sistema imunológico na condução da apresentação da doença, levantam a discussão sobre a imunoterapia na malária e como essas abordagens têm o potencial de realmente influenciar os resultados clínicos.
Os resultados do trabalho mostram que mecanismos distintos associados à atividade antiviral e antimalárica são devidos a alterações no equilíbrio de citocinas e levam ao aumento da probabilidade de ocorrência assintomática de malária na coinfecção por malária e hepatite.
Este conhecimento de respostas em ambos os patógenos que combatem as respostas pró-inflamatórias ajuda a descrever a fisiopatologia associada com a coinfecção e pode ser relevante para futuros estudos e abordagens com imunoterapia em casos de malária grave ou infecção por hepatite B.