Homenagem reuniu cientistas e amigos do pesquisador Ricardo Ribeiro (in memoriam)

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O pesquisador emérito da Fiocruz Bahia, Ricardo Ribeiro dos Santos (in memoriam), foi homenageado no dia 24 de abril, na instituição. O cientista, que faleceu em abril de 2023, realizou inúmeras contribuições para a ciência e pesquisa em saúde no Brasil. Participaram do evento pesquisadores, colegas de trabalho, alunos e amigos, que compartilharam declarações e agradeceram as experiências vivenciadas. O evento foi conduzido pelo doutorando do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa (PGBSMI) e ex-aluno de Ribeiro, Breno Cardim.

A diretora da Fiocruz Bahia, Marilda de Souza Gonçalves, que estava representando a instituição em uma atividade externa, enviou um vídeo exibido na ocasião, destacando a carreira científica e a importância do pesquisador para o instituto. “Ricardo Ribeiro teve uma participação importante no desenvolvimento da Tecnologia da Informação e do Biotério, áreas importantes no IGM. No laboratório, ele participou de momentos relevantes na geração de conhecimento e na orientação de alunos de pós-graduação. Estamos aqui, hoje, para celebrar o que ele realizou em vida, este grande cientista, amigo e parceiro profissional”, disse a diretora.

Roberto Badaró, pesquisador e professor do SENAI de Inovação em Saúde do CIMATEC e representante da Academia de Medicina da Bahia, leu o memorial sobre o homenageado. “Ricardo Ribeiro dedicou sua existência à pesquisa científica e à medicina. Foi muito mais que um pesquisador brilhante. Foi um exemplo inspirador de dedicação, excelência e compromisso com a ciência”, iniciou Badaró.

A assessora especial da Presidência da Fiocruz, Camile Sachetti, representou o presidente Mário Moreira. A mensagem enviada por Moreira abordou a trajetória institucional de Ricardo Ribeiro que se iniciou na Fundação em 1988, permitindo interações com várias unidades do Rio de Janeiro e depois na Bahia. “Onde contribuiu fortemente com pesquisas em doenças de Chagas e, posteriormente, na terapia celular, onde, pelo pioneirismo, foi reconhecido e recebeu vários prêmios e honrarias. Ricardo participou de um momento importante na Fiocruz, no qual contribuiu cientificamente na construção da Estratégia Fiocruz para terapias avançadas”, dizia um trecho.

Mitermayer Galvão dos Reis, pesquisador da Fiocruz Bahia, falou sobre a vinda de Ricardo para a Bahia, sua convivência e contribuição. “Eu acho que o Brasil deve a Ricardo Ribeiro pelo que ele fez e representou na condição de médico, de professor, de pesquisador e de cidadão”, destacou.

Antônio Carlos Campos de Carvalho, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, contou sobre a experiência com Ricardo e o estabelecimento, em função da gestão do Instituto do Milênio, de uma rede nacional e condução de um estudo, junto com várias outras iniciativas, que colocou o Brasil no mapa mundial das terapias celulares. “Lembro da alegria dele quando o primeiro paciente foi tratado. Tinha um vídeo de um paciente, do interior da Bahia, que era um lavrador que tinha limitações severas na sua atividade física. Ricardo mostrava esse filme, com enorme orgulho de médico, de pesquisador, de cidadão e ser humano, mostrando esse lavrador capinando com a enxada na sua terra”, comentou Antônio.

A superintendente de Educação e Ciência do SENAI CIMATEC, Josiane Dantas, compartilhou a sua experiência de trabalho com Ricardo Ribeiro, a partir da criação do Instituto de Tecnologia da Saúde. “Nós, da nova geração, temos muito que aprender com quem faz ciência e construiu um legado, porque essas histórias não estão nos livros. Elas são contadas por pessoas que viveram”.

Ricardo Santana de Lima, superintendente do Hospital Universitário da Universidade Federal do Vale do São Francisco, um de seus primeiros estudantes, compartilhou emocionado suas lembranças com o mestre. “Passa um filme na cabeça. Ele me confiava tudo, até a casa dele, me confiava o carro, a única BMW que dirigi”, brincou. “Um pai, um mestre, e tínhamos muitas coisas em comum: o judô e o jiu-jitsu, o nome igual, a visão. Além de estar numa pós-graduação hoje tratando de bioengenharia, com terapia celular”, observou.

A atual chefe do Laboratório de Engenharia Tecidual e Imunofarmacologia (LETI) da Fiocruz Bahia, implementado por Ricardo Ribeiro, Milena Soares, agradeceu emocionada a todas as pessoas envolvidas na homenagem e disse como era difícil para ela falar na ocasião. “Foram 25 anos de convivência, muito aprendizado, bons momentos, muitas construções e alegrias”. Milena lembrou que Ricardo dizia que era maravilhoso poder fazer o que se gosta ainda ser pago para fazer isso. “E realmente ele amava a ciência, ele trabalhou até o fim da sua vida, fazendo o que ele gostava”, finalizou.

Também participaram da atividade por vídeo o atual presidente da Associação Brasileira de Terapia Celular e Gênica, Martin Bonamino, que em nome da sociedade prestou reconhecimento pela contribuição científica feita por Ricardo; Spencer Luiz Marques Payão, professor e pesquisador Faculdade de Medicina de Marília; e Gabriela Sampaio, uma das últimas alunas do pesquisador.

O pesquisador

Ricardo Ribeiro nasceu em 1941, na cidade de São Paulo. Formou-se em Medicina, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e ingressou na Fiocruz em 1988, no Rio de Janeiro. A busca por uma terapia para o tratamento de pacientes com a forma cardíaca da doença de Chagas tornou-se uma missão para o cientista. Em 1998, transferiu-se para a Fiocruz Bahia, onde implantou o biotério, a informática, e o Laboratório de Imunofarmacologia (LIF), que posteriormente se tornou o Laboratório de Engenharia Tecidual e Imunofarmacologia (LETI). Nele, implantou a triagem de fármacos com ação antiparasitária e imunomoduladora e foi inovador ao propor o uso de células-tronco para tratamento da doença de Chagas.

Um dos marcos da sua carreira foi a ideia inovadora de usar células-tronco para o tratamento de doença de Chagas, o que o levou a receber o prêmio Zerbini, pela relevância nas pesquisas na área de cardiologia no país. Em 2009, Ricardo implantou o Centro de Biotecnologia e Terapia Celular (CBTC), uma parceria técnico-científica entre a Fiocruz e o Hospital São Rafael, desdobramento do primeiro estudo clínico em pacientes com cirrose hepática. Com isso, foi possível desenvolver as condições para desenvolvimento de terapias celulares avançadas.

O pesquisador também fundou a Associação Brasileira de Terapia Celular e Gênica (ABTCEL-gen), em 2004, e promoveu a implantação da plataforma de reprogramação celular para a geração de células-tronco pluripotentes induzidas e para a reprogramação direta, tecnologia que abriu inúmeras possibilidades de desenvolvimento tecnológico e terapias. Recebeu títulos e prêmios como fruto de suas contribuições para a ciência, incluindo o de Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico.

Texto por Jamile Araújo, com supervisão de Júlia Lins. Fotos por Mateus Almeida.

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