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O curso “Transcriptômica e bioinformática de células individuais aplicadas ao estudo de doenças transmissíveis e não transmissíveis” reuniu, entre os dias 13 a 23 de março, na sede do Instituto Gonçalo Moniz (IGM/Fiocruz Bahia), pesquisadores do Brasil, Chile e Estados Unidos para discutir os conceitos de transcriptômica em single cell. A atividade foi coordenada pelos pesquisadores da Fiocruz Bahia Patricia Veras e Ricardo Khouri e pelo professor Vinicius Maracaja-Coutinho, da Universidade do Chile.
O curso contou com o apoio da CAPES Print e da Iniciativa Chan Zuckerberg. Através de aulas teóricas e atividades práticas, foram abordados temas como o estudo de sequenciamento genômico de células aplicados ao estudo de doenças transmissíveis e não transmissíveis, base de dados públicas para genômicas, comunicação célula-célula, entre outros.
“Cada vez que fazemos uma análise mais aprofundada da resposta celular de um organismo em condições relacionadas a doenças, podemos identificar o desenvolvimento dessa doença e, com isso, desenhar de maneira mais precisa tratamentos ou medicamentos em resposta”, conta Patricia Veras. Ela conta que essa foi a primeira atividade sobre a pesquisa de transcriptômica em células individuais na Fiocruz Bahia e que a reposta dos participantes foi bastante positiva. “Esse encontro certamente reforçou as nossas possibilidades de pesquisa e também possibilitou a cooperação com outros pesquisadores”.
Ricardo Khouri concorda. “O curso foi uma experiência muito positiva para todos os envolvidos. A técnica é considerada desafiadora por muitos, mas acreditamos que com a abordagem didática utilizada, conseguimos transmitir o conhecimento de maneira clara e efetiva”. O pesquisador comenta que, além do objetivo de fomentar a internacionalização, o curso foi mais uma maneira de continuar atualizando o conhecimento repassado. “Essa técnica ainda é pouco explorada, mas já demonstrou ser muito efetiva na análise de células individuais em diferentes tipos de tecidos. Acreditamos que a formação dos alunos deve incluir técnicas inovadoras e emergentes, preparando-os para o futuro e contribuindo para a construção de uma ciência mais avançada e qualificada”.
Vinicius Maracaja-Coutinho explica a técnica através de uma analogia entre um milkshake e os estudos genômicos: antes, o que existia era uma mistura de células diversas, onde se obtinha uma análise média da expressão dos genes, para uma técnica que permite que se visualize cada “fruta” individualmente. “Essa é uma nova abordagem que esta mudando os paradigmas do estudo da genômica. Ela nos permite conhecer toda a heterogeneidade das células que existem dentro de um tecido em condição patológica, com aplicações promissoras para o futuro”, afirma Coutinho, que prevê a aplicação da técnica single cell no estudo da resposta imune às arboviroses, como a Zika.
O professor disse que, além de especializar os pesquisadores em uma técnica ainda pouco aplicada em larga escala, o evento teve como objetivo colateral estreitar os laços de cooperação entre a Fiocruz Bahia e a Universidade do Chile, favorecendo a internacionalização entre os cursos de pós-graduação das instituições.
Responsável pelas atividades práticas, o pesquisador da Universidade Tecnológica Metropolitana do Chile, Raúl Arias-Carrasco, destacou as instalações do IGM. A parte prática do curso foi uma das mais elogiadas pelos participantes. Vitor Gregório, mestrando na Universidade Federal do Paraná (UFPR), contou que o curso lhe foi indicado por seu orientador e já imagina a aplicação dos estudos de interação single cell em seu doutorado.
“O curso foi essencial. O fato de estar imerso nesse período com pessoas que entendem do assunto, discutindo artigo e teoria e fazendo a prática é muito importante”, avalia Vinícius Rodovalho, pós-doutorando da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Pesquisador especializado na análise de microbiomas, Rodovalho também se interessa pela aplicação da transcriptômica em célula individual em seus estudos. “É muito importante analisar a diversidade de células do intestino e é justamente o que a técnica de single cell permite, que é entender cada tipo de célula e suas interações. Vimos muitos exemplos de aplicação em estudos sobre o câncer”.
Já Sara Nunes, pesquisadora externa do Laboratório de Interação Parasito-Hospedeiro e Epidemiologia (LAIPHE) da Fiocruz Bahia, declarou que o potencial de aplicação da transcriptômica de single cell é maior do que esperava. Temos trabalhado com técnicas muito bem estabelecidas, mas existem outras que não conseguíamos ver o potencial. Nós podemos realizar pesquisas para predizer pontos importantes da interação de células que, de outra forma, não poderíamos ver. Esse conhecimento pode direcionar sugestões para novos tratamentos”, considera.