Fiocruz Bahia promove evento em celebração ao Novembro Negro 

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Com o tema “Novembro Negro: Consciência, Equidade e Diversidade” a Fiocruz Bahia promoveu um seminário para marcar o mês em que se celebra o Dia da Consciência Negra (20 de novembro). Realizado pelo Núcleo Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz Bahia, com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc), o evento ocorreu na última quinta-feira (17/11), e contou com palestras e um momento cultural.  

Abrangendo assuntos diversos, o dia teve palestras ministradas pela diretora da instituição, Marilda Gonçalves, pela professora da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), Denize Ribeiro, e pela professora de Sociologia e diretora de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis do Instituto Federal da Bahia (IFBA) Marcilene Garcia. A mediação das apresentações ficou por conta do coordenador da Gestão da Comunicação e Divulgação Científica da Fiocruz Bahia, Antonio Brotas.  

Como a primeira cientista negra eleita para a diretoria do instituto, em 65 anos de história, Marilda Gonçalves conhece os obstáculos que enfrentou, mas reitera a importância de ter ocupado o cargo. “É uma carreira difícil, mas, de alguma forma, nós temos que quebrar essas barreiras. Quero que as mulheres negras tenham essa perseverança, e que não desistam dos seus sonhos”.  

“Precisamos fazer essa discussão em nossa instituição, principalmente estando na Bahia, que é uma federação com forte origem africana. Nós temos ainda um número muito reduzido de pessoas afrodescendentes dentro do instituto. Essa participação da população negra tem que ser ampliada”, reconhece. 

A responsabilidade social das instituições brasileiras foi reforçada por Denize Ribeiro. A professora recordou que as dificuldades enfrentadas por Marilda Gonçalves e outras pessoas negras em espaços institucionais são classificadas como racismo institucional. “Fazer pesquisa, fazer ciência no Brasil também é passar por vários níveis de racismo institucional, desde o acesso às universidades, até o acesso a pós-graduação e às bolsas. As instituições têm um trabalho muito grande de abrir suas portas para que essa comunidade também possa acessar esse espaço”, considera.  

Refletindo sobre o tema da saúde da população negra, a pesquisadora considera importante pensar no impacto do racismo sobre a saúde. “Para nós, mulheres negras, essa posição que ocupamos em uma sociedade racista pesa na nossa vida. Falar sobre saúde da população negra é falar sobre os impactos do racismo na qualidade de vida da população negra. A existência de uma sociedade racista faz com que uma mulher negra perambule seis vezes mais atrás de atendimento em maternidades do que as mulheres brancas”, afirma, citando dados de uma pesquisa da Fiocruz.  

“É preciso que nós pensemos nas razões que levam uma instituição de 65 anos a ter, pela primeira vez, uma mulher negra como diretora. Quais foram os obstáculos que impediram outras mulheres negras de estarem nesse lugar? Precisamos fazer essa reflexão o ano inteiro, não somente em novembro, e não compete apenas aos negros e negras fazerem isso”, declara Denize.  

A professora Marcilene Garcia abordou a temática das Ações Afirmativas em sua fala, reiterando o papel dessas ações, como a lei de cotas, para contornar as desigualdades que afetam os negros brasileiros. “Estamos falando de políticas para promover igualdade de oportunidades. Por isso as Ações Afirmativas, por meio das cotas, são extremamente importantes. Elas são revolucionárias”, assegura.  

“A valorização da sociedade é fundamental para a ciência. Precisamos de gente nova. A possibilidade de que negros acessem mais a universidade, principalmente na área da saúde, possibilitou maiores avanços para a saúde da população negra”. De acordo com Garcia, é preciso contornar a ideia de meritocracia e mudar a imagem que as instituições projetam para a população. 

“A mudança, sobretudo as institucionais, tem a ver com responsabilidade pública. Responsabilidade da administração pública, mas também de seus gestores e gestoras. A história que temos é de pactuação desses gestores com a manutenção do status quo. Mas não podemos passar décadas e mais décadas excluindo a população negra. Somos o foco das pesquisas, mas não usufruímos delas, não temos acesso às tecnologias”.  

Momento cultural 

O nosso objetivo foi celebrar o novembro negro, viabilizar pautas pertinentes a nossa causa”, conta a presidente do Comitê Pró-Equidade Lorena Magalhães, uma das organizadoras do Novembro Negro no instituto. “Entretanto, acho importante, que essas discussões permaneçam durante todo o ano e não somente em novembro”. 

Para celebrar a cultura negra no país, o evento contou com um momento cultural do evento, com uma feira de microempreendedores, oficina de turbantes e produção de penteados com tranças, e a degustação de acarajé e de cocada. A empreendedora Fabiana Pontes, CEO da Ouromim Ancestralidade Afro Brasileira, foi uma das expositoras, levando para a Fiocruz Bahia semijoias inspiradas nos Orixás.  

“Estou muito feliz por participar desse evento na Fiocruz Bahia. Nossa meta é a partir da nossa historicidade entender que temos potencial suficiente para ocupar qualquer espaço. É muito importante estarmos aqui dialogando acerca do que o empreendimento representa para a gente. É como se fosse um gatilho para a identificação”, julga Fabiana. 

A servidora do setor administrativo, Rafaela Correia, enfeitou seus cabelos com as tranças nagô que estavam sendo elaboradas pelas trancistas convidadas. Ela ressaltou a importância do evento. “Acho o evento massa porque valoriza nossa cultura negra e a diversidade do nosso país. Eu como uma mulher negra me sinto orgulhosa de ter um evento desse porte aqui no Instituto”.  

Priscila Dias, secretária do Setor de Gestão do Trabalho e também uma mulher negra, ressalta a importância de o evento ter sido idealizado por pessoas negras. “Foi muito bonito podermos apresentar elementos da cultura africana”, diz.  

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