Festival Pint of Science promoveu diálogos sobre ciência de forma descontraída

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Nos dias 13, 14 e 15 de maio a Fiocruz Bahia participou do Festival Internacional de Divulgação Científica Pint of Science. O evento gratuito que reuniu um público de quase 500 pessoas ao longo dos três dias, aconteceu na Cervejaria Art Malte, no Rio Vermelho, em Salvador, e contou com a participação de pesquisadores e especialistas, com o intuito de abordar a ciência de forma descontraída e acessível à população. O evento na cidade tem a coordenação geral da pesquisadora da Fiocruz Bahia, Valéria Borges, e a vice coordenação do professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Denis Soares. 

Durante o evento, Valéria Borges reforçou a relevância da interdisciplinaridade, a inclusão, equidade e diversidade para o exercício da ciência. “Não podemos esquecer da pandemia e as tentativas de descredibilização da ciência, o que reforça ainda mais a importância de encontros como o Pint of Science e ações de divulgação científica que levem a pesquisa para fora dos muros das instituições”.  

O tema de abertura do Festival, no dia 13/05, foi ‘Potências Negras: a nossa diversidade faz e move a ciência e a educação’, com mediação de Deboraci Prates, professora da UFBA/Instituto de Ciências da Saúde. Participaram como painelistas Marilda Gonçalves, diretora da Fiocruz Bahia; Miriam Reis, diretora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), Campus dos Malës; e Antonio Alberto Lopes, diretor da Faculdade de Medicina da UFBA. 

Marilda Gonçalves compartilhou sua experiência ainda como estudante de Farmácia, de ser uma das duas pessoas negras da sua turma, e ressaltou que devido às políticas afirmativas como as cotas, o cenário nas universidades está mudando e se tornando um ambiente mais diverso. “Acho que estar na Fiocruz e ser a primeira mulher diretora também foi um passo muito importante. Hoje, com o nosso instituto completando 67 anos, fizemos uma grande festa de aniversário e isso foi muito bom para mostrar que pessoas negras e outras mulheres podem ocupar esse cargo, e que a gente pode transformar sim, porque o Brasil é um país plural, temos diversidade e isso tem que estar incorporado no nosso cotidiano”, destacou. 

Além disso, a pesquisadora pontuou a importância de compartilhar a atuação profissional de pessoas negras e como tais experiências podem ser um legado para as gerações futuras. “Precisamos mudar a realidade que está posta. O racismo existe, e acho que é importante a gente falar dele em lugares como esse, falando da nossa trajetória, do que nós fizemos e do quanto que conseguimos mudar vidas”, observou Gonçalves. 

“Comunicando Ciência” 

Em clima de descontração, a segunda noite do festival, realizada na terça-feira, 14/05, teve como tema: ‘Comunicando Ciência: tudo o que você sempre quis saber sobre vacinas e tinha vergonha de perguntar’.   

O painel, moderado pelo coordenador da Gestão da Comunicação e Divulgação Científica da Fiocruz Bahia, Antonio Brotas, contou com a participação da vice-diretora de Ensino e Informação da Fiocruz Bahia, Claudia Brodskyn; da pesquisadora da Fiocruz Bahia e membro da Academia de Ciências da Bahia, Viviane Boaventura; do pesquisador da Fiocruz Bahia e líder do Centro de Pesquisas Clínica (CPEC) das Obras Sociais Irmã Dulce, Edson Duarte e da professora da UFBA e membro da Academia de Ciências da Bahia, Suani Pinho.    

Cláudia Brodskyn iniciou a noite explicando sobre como o sistema imunológico do ser humano reage durante o processo de vacinação. A pesquisadora falou sobre o papel da vacina e a sua importância no combate às doenças, especialmente ao coronavírus. “A vacina da Covid-19 é o nosso exemplo mais recente, mas é importante lembrar que temos muitas outras que também são importantes”, lembrou.   

Edson Moreira falou sobre a produção das vacinas, explicando cada etapa de produção, os testes realizados e os critérios de segurança adotados durante a produção, distribuição e aplicação dos imunizantes. “As vacinas são seguras, foram produzidas com muito cuidado e merecem, no mínimo, a nossa gratidão”, defendeu.   

Viviane Boaventura também abordou a segurança e os requisitos para aprovação de uma vacina e sobre a realização de estudos de acompanhamento dos seus efeitos. “Toda vez que temos um relato de efeitos adversos que podem ser associados ao uso das vacinas, isso é encaminhado formalmente para as autoridades de saúde, a empresa produtora é obrigada a manter uma vigilância e os pesquisadores também fazem o papel de acompanhar a etapa após a sua produção”, tranquilizou a pesquisadora.   

Enquanto Suani Pinho abordou os modelos matemáticos para explicar as taxas de transmissão e disseminação do vírus, especialmente durante a epidemia do Covid-19, ressaltando a importância desses dados para o estabelecimento de medidas sanitárias e epidemiológicas pelos órgãos de saúde buscando beneficiar a população.  

“Cidadania, arte e inovação” 

Já na quarta-feira, 15/05, terceira e última noite do festival Pint of Science, o tema debatido foi ‘A ciência está em tudo: cidadania, arte e inovação’. Com a moderação de Denis Soares, o painel contou com a participação de Lynn Alves, professora do Instituto de Humanidades, Artes & Ciências Professor Milton Santos da UFBA; da professora do Instituto de Ciência da Informação da UFBA, Bárbara Coelho; do José Maurício Brandão, diretor da Escola de Música da UFBA e do Paulo Miguez, reitor da UFBA. 

Lynn Alves mencionou que, apesar de avanços, ainda existe uma resistência à aceitação da pesquisa em áreas humanas como parte do processo do desenvolvimento científico. Paulo Miguez ressaltou a importância da compreensão da construção da arte e a pesquisa em áreas humanas como parte do fazer científico. O pesquisador falou ainda sobre a relevância da incerteza e o olhar subjetivo para o fazer artístico, reforçando também a importância de eventos como o Pint of Science como um espaço de enfrentamento a discursos que descredibilizam a ciência e a arte.  

Para José Maurício Brandão o fazer artístico é tão profundo quanto o fazer ciência. Durante sua contribuição ao painel, Brandão mencionou que há algumas décadas atrás havia uma pressão para que a pesquisa em música se adequasse aos moldes das ciências exatas, como forma de ser levada a sério. Bárbara Coelho reforçou a urgência da discussão sobre o avanço do uso indiscriminado da inteligência artificial (IA), seu objeto de estudo, especialmente durante o período de processo eleitoral. Ressaltou ainda o impacto da IA nas pautas de equidade de gênero e raciais 

O festival 

O Pint of Science teve início no ano de 2013, em Londres, por iniciativa de estudantes que queriam contar sobre suas pesquisas e os seus resultados positivos utilizando ambientes descontraídos como bares e restaurantes. 

No Brasil, o festival chegou no ano de 2015 e, em Salvador, ocorre desde 2017, inicialmente coordenado pelo pesquisador Denis Soares, da Faculdade de Farmácia da UFBA. Este ano o evento foi coordenado pela cientista Valéria Borges, da Fiocruz Bahia. Em 2024, o Pint of Science aconteceu simultaneamente em 25 países e em mais de 400 cidades em todo o mundo, 179 delas no Brasil. 

A organização do Pint of Science Salvador contou com uma comissão local formada por Jailson Andrade (UFBA/Apub Sindicato), Samuel Pita (UFBA), Rafael Short (UFBA), Daniel Almeida (CIMATEC), Márcio Santos (Fiocruz Bahia), Jéssica Ferro (UFBA), Yasmin Monara (Fiocruz Bahia) e Yasmin Luz (Fiocruz Bahia). O evento foi apoiado pela Cervejaria ArtMalte, Bons de Fogo, Assessoria de imprensa Berradêro, Academia de Ciências da Bahia, Apub Sindicato, Síntese Biotecnologia e CBDMed Brasil. O Pint of Science mobilizou ainda a equipe da Vice-Diretoria de Ensino da Fiocruz Bahia e cerca de 50 voluntários dos programas de graduação e pós-graduação das instituições de ensino e pesquisa envolvidas. Esta edição contou ainda com uma cerveja “Pint” exclusiva produzida com malte e lúpulo nacional e promoveu uma ação solidária SOS Rio Grande do Sul, arrecadando material de higiene pessoal para doação. 

O Festival Internacional de Divulgação Cientifica já tem data para ocorrer em 2025, nos dias 19, 20 e 21 de maio e promete ampliar as ações de popularização da Ciência ao redor do mundo.   

Texto: Jamile Araújo com supervisão de Júlia Lins, Dalila Brito e Caio Costa | Fotos: Caique Fialho, Jessica Guanabara e Mateus Almeida

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