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Necrose celular é um fenômeno complexo que envolve diferentes motivos, como estresse ou ações mecânicas, embora muitas necroses celulares sejam programadas pelo próprio organismo para manutenção do seu equilíbrio.
Durante a infecção por tuberculose, a necrose é particularmente prejudicial, uma vez que facilita a disseminação micobacteriana. Recentemente, foi descoberta uma nova forma de morte celular, a ferroptose, que é desencadeada por sobrecarga de ferro, sendo considerada um contribuinte para morte celular associada a doenças como diabetes, câncer, neurodegeneração e insuficiência renal. A ferroptose também é altamente relevante para a infecção por Mycobacterium tuberculosis.
O pesquisador Bruno de Bezerril Andrade, da Fiocruz Bahia, é um dos autores de uma pesquisa recente que analisou o papel da ferroptose celular ocorrida em macrófagos (célula de defesa) infectados por Mycobacterium tuberculosis in vitro e in vivo. A descrição do estudo foi publicada no Journal of Experimental Medicine. Como o excesso de ferro é um importante gatilho para ferroptose e, em certas condições, é conhecido por promover tuberculose, o estudo buscou mostrar a correlação desses dois fenômenos.
Para examinar a morte celular in vitro, foram utilizadas células-tronco de camundongos derivadas de macrófagos, infectadas em diferentes multiplicidades de infecção. Nos testes in vivo, camundongos foram infectados com tuberculose e foram analisadas mostras de tecido pulmonar.
Resultados
A pesquisa apontou que houve o aumento do nível de ferro intracelular e superoxidação mitocondrial, além de elevação substancial na membrana de peróxido lipídico. Mostrou também a redução dos níveis da enzima que faz parte do sistema de defesa antioxidante e da enzima Gpx4, que protege células da peroxidação da membrana celular.
Nos dois testes foi utilizado Ferrostatin-1, inibidor de ferroptose, como tratamento. No teste in vitro, observou-se uma inibição da morte celular graças à redução da peroxidação lipídica. No teste in vivo, o tecido coletado do pulmão dos camundongos também mostrou redução dessa oxidação que colabora com a propagação bacteriana extracelular.
Ficou provado que a morte celular causada por tuberculose, seja in vitro ou in vivo, aumenta a oxidação da membrana que reveste a célula e o uso de bloqueador de ferroptose bloqueou essa acumulação, assim como reduziu a morte celular.
Essas descobertas trazem questionamentos se Ferrostatin pode possuir propriedades similares ou mais potentes que a vitamina E contra tuberculose ou se essa vitamina pode ser usada como inibidor de ferroptose também. Estudos adicionais são necessários para validar a ferroptose como alvo viável para terapia voltada ao hospedeiro da tuberculose.