Estudo aponta disseminação e aumento de infecção por HTLV na Bahia

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Uma pesquisa desenvolvida pela Fiocruz Bahia fez uma estimativa, a partir de dados de testes realizados no Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia (LACEN-BA), da taxa de infecção pelo vírus linfotrópico da célula T humana (HTLV) e sua distribuição geográfica na Bahia.

O estado tem a maior taxa de infecção do vírus no Brasil. Um dos aspectos importantes deste estudo é que além de Salvador e regiões próximas, outros focos de infecção foram identificados (Barreiras, Extremo sul e região central). O trabalho também é importante por sua extensão e pelo número de indivíduos avaliados.

O HTLV é um retrovírus que pertence à mesma família do HIV, que infecta um dos tipos de células humanas de defesa. As principais formas de transmissão são através da relação sexual, aleitamento materno e agulhas de seringas contaminadas. Diferente do HIV, que destrói o sistema imunológico, o HTLV provoca alterações sistêmicas que prejudicam a qualidade de vida e causa doenças como leucemia, incontinência urinária, disfunção erétil e problemas neurológicos. Ainda não há cura.

Para o estudo, foram analisadas amostras de cerca de 234 mil indivíduos, de 394 municípios (a Bahia tem 417 municípios), do período de 2004 a 2013. As amostras eram, em sua maioria, de doadores de sangue, gestantes e indivíduos que apresentavam sintomas de doenças infecciosas, do sistema público de saúde. O LACEN-BA é responsável pela vigilância de doenças infecciosas de todo o estado.

Os resultados da pesquisa liderada pela pesquisadora da Fiocruz Bahia, Fernanda Grassi, indicam que a infecção pelo vírus é disseminada na Bahia, com taxa global moderada de infecção. A média de casos positivos em todo o estado foi de 14,4 por 100.000 habitantes, que representa a prevalência de infecção em 0,84% da população. No trabalho, os pesquisadores salientam que esse número pode estar subestimado.

Também foi observado um aumento no número de casos positivos em todas as microrregiões da Bahia, principalmente após o ano de 2008, no qual foi encontrado cerca de 4 casos de HTLV por 100.000 habitantes, em comparação com, aproximadamente, 10 casos por 100.000 durante o período final (2009-2013). Cerca de 95% dos municípios do estado relatou pelo menos um resultado positivo.

Perfil e distribuição geográfica

O Brasil é considerado uma área endêmica para o HTLV, sendo as regiões Norte e Nordeste com a maior prevalência da doença. Segundo os cientistas, Salvador, capital da Bahia, é o epicentro da infecção pelo HTLV, no país, e pertence a uma das três microrregiões que tiveram taxas acima de 20 casos positivos para HTLV por 100.000 habitantes: Barreiras (24,83), Salvador (22,90) e Ilhéus-Itabuna (22,60).  

No estudo, foi identificado um cluster de infecção por HTLV ao redor da microrregião de Salvador, compreendendo as microrregiões de Entre Rios, Santo Antônio de Jesus e Catu, formado por 43 cidades, concentrando quase um terço da população do estado.  

Além disso, três outros clusters endêmicos foram identificados: um localizado no extremo sul (microrregiões de Ilhéus, Itabuna Itapetinga, Porto Seguro e Vitória da Conquista, com 86 municípios e 2,7 milhões de habitantes), um na região central (microrregiões de Jacobina e Serrinha, com 33 municípios e 750.000 habitantes) e outro na região mais ocidental do estado (microrregião de Barreiras, com 7 municípios e 280.000 habitantes).

Na maioria das mesorregiões do estado, a pesquisa detectou uma proporção maior de mulheres infectadas pelo HTLV-1. De acordo com os pesquisadores, esse resultado pode ser atribuído às amostras que eram, principalmente, do sexo feminino e, além disso, a transmissão do vírus é conhecida por ser mais eficiente de homens para mulheres.

Ainda na pesquisa, os autores explicaram que o vírus foi introduzido no país com o tráfico de escravos trazidos da África, principalmente para as cidades do Nordeste. Curiosamente, os dados apresentados no estudo apontam que as microrregiões com as maiores taxas de infecção da Bahia foram as com predominância de comunidades quilombolas.

Do total de amostras positivas analisadas, cerca de 92% eram de HTLV-1, cerca de 3% de HTLV-2 e 5% foram positivas para coinfecção pelo dois vírus. Apenas 5,5% dos municípios (com cerca de 260 mil pessoas) não enviaram nenhuma amostra para o LACEN-BA durante o período do estudo, com destaque para as microrregiões de Santa Maria da Vitória e Jeremoabo, das quais não foi possível obter informações sobre infecção pelo vírus.

 

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