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Pesquisadores da Fiocruz Bahia realizaram uma análise de todo transcriptoma para investigar a resposta imunológica na leishmaniose disseminada, uma forma da leishmaniose cutânea caracterizada por um elevado número de lesões em todo o corpo. Para o estudo, foi feito o sequenciamento de RNA de sete biópsias de lesões da doença no hospedeiro, que foram comparadas a um grupo controle de amostras de pele saudável. Os achados sugerem que as lesões por leishmaniose disseminada podem ser caracterizadas por uma assinatura inflamatória na qual quimiocinas, neutrófilos e macrófagos estão fortemente presentes, além de marcadores citotóxicos e células NK.
O trabalho liderado pelo pesquisador da Fiocruz Bahia, Pablo Ramos, e pela aluna egressa do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (UFBA), Juqueline Cristal, e coordenado pela pesquisadora da Fiocruz Bahia, Aldina Barral, foi descrito no Journal of Investigative Dermatology. Os cientistas identificaram 2.149 genes diferencialmente expressos, desses 1.765 foram regulados positivamente e apenas 384 foram regulados negativamente. Esses resultados indicam que a expressão gênica na leishmaniose disseminada é voltada para a ativação de vias de remodelamento tecidual, com redução da resposta imune celular.
Dados de uma análise sobre a relevância das células T CD4 + e IFN-γ no controle da infecção, para averiguar quais marcadores da resposta imune caracterizaram essa desregulação, reafirmam estudos anteriores que demonstraram que a imunossupressão seletiva, juntamente com a ativação de moléculas citotóxicas, está presente em lesões desta forma da doença.
A comparação, através de metodologias computacionais, entre assinaturas moleculares no transcriptoma na leishmaniose disseminada, leishmaniose cutânea localizada e leishmaniose difusa apontou processos em comum envolvendo inflamação em todas as formas da doença, contudo, processos relacionados à sinalização, desenvolvimento e proliferação foram reconhecidos exclusivamente na forma disseminada, o que pode apontar para mecanismos envolvidos na disseminação do parasito.
Os achados revelaram que a leishmaniose disseminada difere tanto clinicamente de outras formas de leishmaniose cutânea, como também do ponto de vista de expressão gênica, tendo sido este o primeiro conjunto de dados de RNA-seq descrito para lesões de leishmaniose disseminada.
O Brasil é um dos países que mais registram casos de leishmaniose cutânea na América Latina, e estimativas da OMS indicam que mais de 52% da população encontra-se sob risco de infecção pelo parasito causador da doença. A Fiocruz Bahia, em seus vários laboratórios, dedica esforços para compreender, mitigar e combater os impactos desta doença negligenciada na população da região e no país.