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Um projeto coordenado pelo pesquisador da Fiocruz Bahia e líder do grupo de pesquisa Multinational Organization Network Sponsoring Translational and Epidemiological Research Initiative (Monster), Bruno Bezerril, validou uma ferramenta de predição de mortalidade em pacientes com casos graves da Covid-19, em unidades de terapia intensiva (UTIs). Publicado na revista Frontiers in Medicine, o trabalho demonstrou que o escore, intitulado Pneumonia Shock Score (pShock), alcançou bom desempenho na predição do risco de mortalidade de pacientes hospitalizados.
O pShock foi desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Medicina Intensiva (GEMINI), núcleo da Monster que estuda pacientes críticos coordenado pelo médico Nivaldo Filgueiras, para avaliar o risco de morte em pacientes admitidos na UTI por pneumonia, suprindo a falta de ferramentas de rápida aplicação que auxiliariam o manejo clínico destes pacientes. Observando que as ferramentas que estavam sendo desenvolvidas para auxiliar no combate à pandemia possuíam alto risco de viés, os autores propuseram a validação do pShock para o cenário da infecção pela Covid-19.
Para o estudo, foram utilizados dados de 605 pacientes coletados no período entre janeiro de 2020 a março de 2021, provenientes da colaboração de quatro UTIs localizadas na Bahia. O teste com o pShock atingiu uma área sob a curva característica de operação do receptor, métrica de acurácia, de 0.80. Com esse resultado, o escore performou melhor que outros sistemas de predição comumente utilizados.
O escore estimou, no período de 30 dias, uma taxa de mortalidade bastante semelhante à demonstrada nas UTIs, com diminuição da probabilidade de sobrevivência em pacientes com pontuações mais altas no pShock. Comparando os dados dos não-sobreviventes com os sobreviventes, constatou-se que o primeiro grupo apresentou a taxa de frequência respiratória por minuto mais elevada, contagem de leucócitos e da ureia alta, maior fração inspirada de oxigênio (FiO2) menos de 6 horas após a admissão hospitalar, necessidade de ventilação mecânica e de vasopressores, baixo valor no hematócrito e um índice menor na Escala de Coma de Glasgow.
Para além dos dados clínicos, ainda se observou que dos pacientes estudados, a maioria das vítimas fatais tinha idade mais avançada (média de 70 anos) do que os sobreviventes (57 anos em média). No entanto, as informações coletadas não evidenciaram índices de risco referentes ao gênero, nem parâmetros clínicos objetivos relacionados a frequência cardíaca, pressão arterial e níveis de sódio.
Os pesquisadores consideram que, devido à escassez de recursos para o cuidado intensivo, ganha maior importância a triagem e estratificação de risco em pacientes hospitalizados pela Covid-19 para se otimizar a alocação destes recursos. O pShock foi desenvolvido tendo em vista as limitações de regiões de baixa e média renda, sendo um sistema que não demanda exames muito complexos para se estimar o prognóstico.
Os cientistas ressaltam algumas limitações do estudo, como o número – considerado modesto – de pacientes analisados, o que pode afetar a aplicação do sistema em UTIs com maior taxa de ocupação. Há também a possibilidade de que a variação no tratamento dos pacientes, alguns com uso de esteroides como o remdesivir, possa ter impactado o desempenho do pShock.