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Com o objetivo de construir uma agenda de saúde que inclua as demandas de populações que vivem em bairros periféricos e comunidades de Salvador e Região Metropolitana, um grupo de 20 coletivos e entidades, além de pesquisadores, membros do Conselho Municipal de Saúde e do Cidacs/Fiocruz Bahia participaram de uma reunião no CEAO – Centro de Estudos Afro-Orientais – UFBA, nesta segunda-feira (23). Durante o encontro, questões estruturais do campo da saúde foram discutidas, bem como quais os problemas que devem ser tratados como prioritários pelas gestões públicas municipais, estadual e federal.
“Nossa ideia é o fortalecimento das redes que atuam em bairros periféricos e comunidades de Salvador no sentido de construir um diagnóstico que indicasse as condições de saúde nestas regiões”, afirmou Richarlls Martins, coordenador executivo do Plano Fiocruz de Enfrentamento à Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro. O pesquisador foi um dos facilitadores da oficina que construiu a agenda de saúde para bairros periféricos e comunidades de Salvador e Região Metropolitana junto com a socióloga e ativista Vilma Reis, da Coletiva Mahin Mulheres Negras.
Na mesa de abertura do encontro, estiveram presentes a epidemiologista Maria Yury Ichihara, vice-coordenadora do Cidacs/Fiocruz Bahia, e o jornalista Paulo Almeida, da Agência de Notícias das Favelas. A pesquisadora relembrou o papel da Fiocruz na história da saúde pública no Brasil e em momentos como a epidemia da Zika, de influenza e mais recentemente com a Covid-19. “A Fiocruz vem buscando trabalhar apoiando o desenvolvimento de ações de intervenção e produção do conhecimento. O IGM [Instituto Gonçalo Moniz] aqui na Bahia também segue essa diretriz estratégica de resolução de problemas de saúde pública para resolver emergências sanitárias”, declarou Maria Yury.
O jornalista Paulo Almeida destacou o papel da Agência de Notícias da Favela, que, em Salvador, está sediada no Bairro da Paz, na produção de notícias para a periferia. “Comunicação é uma ferramenta capaz de salvar vidas. Trabalhamos com notícias que não vão para mídia hegemônica, temos um trabalho de combate à fake news e de formação de novos comunicadores populares”, explicou.
Desigualdades é temática transversal da agenda de saúde
Ao longo da reunião, todas as pessoas que participaram puderam fazer relatos sobre suas experiências no campo da saúde integral, bem como levantar problemas e apresentar diagnósticos tendo como foco a saúde das populações periféricas e comunidades de Salvador e Região Metropolitana. Entre as temáticas discutidas estiveram os impactos das mudanças climáticas na saúde destas populações, as populações em situação de rua, violência policial, segurança alimentar, saúde mental, agricultura familiar, o tema dos corpos diversos (pessoas gordas, pessoas com deficiência etc.), entre outras.
A experiência do Cidacs/Fiocruz Bahia também foi apresentada por Maria Yury Ichihara, que abordou resultados de pesquisas recentes, como o estudo que apontou profundas desigualdades na mortalidade infantil, principalmente entre indígenas e pretas; além da construção do Índice Brasileiro de Privação (IBP) e Índice de Desigualdades Sociais para Covid-19 (IDS-Covid-19). “O Cidacs trabalha usando dados administrativos para produzir conhecimento e avaliar quais são os efeitos das desigualdades na saúde da população”, contextualiza.
A oficina que construiu a agenda de saúde priorizou os seguintes eixos de trabalho: articulação em rede, formação, pesquisa, fomento e segurança alimentar. Visitas de campo também foram previstas na Ocupação Jardim Vitória, no bairro do Caji, em Lauro de Freitas, e no Bairro da Paz, nos dias 24 e 25 de janeiro, respectivamente. O grupo deve voltar a se reunir no dia 2 de março, na sede da Fiocruz Bahia, e convidar mais participantes para ampliar essa discussão.
Fonte: Cidacs