Grand Challenges Icoda Covid-19 Data Science seleciona três projetos da Fiocruz

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Cristina Azevedo (Agência Fiocruz de Notícias)

Três projetos liderados por pesquisadores da Fiocruz estão entre os dez selecionados em todo o mundo pelo Grand Challenges Icoda Covid-19 Data Science, uma iniciativa que apoia projetos de dados em saúde para responder de forma mais precisa à pandemia e a possíveis desafios no futuro. Com o apoio da Fundação Bill & Melinda Gates, da Minderoo Foundation e do programa AI for Health, da Microsoft, eles receberão um fundo de US$ 100 mil (R$ 515 mil) para seu desenvolvimento por um ano. Acesse aqui o anúncio do Grand Challenges.

Os pesquisadores da Fiocruz à frente dos três projetos selecionados pelo Grand Challenges Icoda Covid-19 Data Science

Efetividade da vacinação de Covid-19 no Brasil utilizando dados móveis, liderado por Fernando Bozza, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz); Avaliação dos efeitos das desigualdades sociais na pandemia de Covid-19 em um país de média e baixa renda, comandado por Maria Yury Ichihara; e Avaliação rotineira de infecções, prevenção e controle de Sars-Cov-2 em populações desiguais, que tem à frente Juliane Fonseca, ambas do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), estão entre os dez escolhidos, numa seleção que envolveu mais de 400 inscritos de 69 países. Além dos três projetos brasileiros, os demais selecionados incluem pesquisadores de 19 países com foco particular em nações de rendas média ou baixa, como Colômbia, Ruanda e África do Sul. 

Luz sobre “invisíveis” 

Pesquisador do INI e chefe do Laboratório de Medicina Intensiva, Bozza lidera o projeto que tem cerca de 15 pessoas em seu núcleo central, entre epidemiologistas, engenheiros de computação, cientistas de dados, não só da Fiocruz, como também da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), em diferentes estados. O grupo já vinha trabalhando com o impacto da Covid-19 sobre o sistema de saúde brasileiro. Agora, o projeto passa a englobar a vacinação, seu acesso e efetividade, tanto para evitar a forma grave da doença como o contágio, em especial nas populações mais vulneráveis. 

“No início da pandemia, desenvolvemos um aplicativo de testagem, Dados do Bem, que já teve mais de dois milhões de downloads. Essa informação coletada vai ser usada para entender a efetividade nas comunidades onde a gente vem trabalhando em mais detalhe, como é o caso da Maré”, explica Bozza, referindo-se à comunidade no Rio onde já era desenvolvido o Conexão Saúde, um projeto que se refletiu na redução de mortes por Covid-19, e que agora também inicia um estudo de vacinação em massa. 

O pesquisador lembra que o Brasil, ao longo dos anos, vem construindo um sistema de informação bastante amplo, como o Data SUS. “Por outro lado, ainda falta muito na área de análise. Hoje, muitas das políticas no país ainda são baseadas em impressões”, diz Bozza. Para ele, o novo projeto pode contribuir para aprofundar a cultura de análise de dados em saúde, em tempo real, de uma forma mais próxima das pessoas e das comunidades. “Essa é uma das contribuições que eu gostaria que o projeto trouxesse: trazer essa luz aos invisíveis. O Estado brasileiro e o sistema de saúde ainda não têm capacidade de enxergar bem e entender o que acontece nessas comunidades.” 

Cidacs em dose dupla 

Os outros dois projetos escolhidos vêm do Cidacs, com alcance igualmente nacional. O grupo de Maria Yury é integrado por cerca de dez pessoas da Fiocruz, da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da London School. Ele pretende criar um Índice de Desigualdade Social para a pandemia, o IDS-Covid-19, medindo as diferenças em termos socioeconômicos, demográficos e de acesso aos cuidados de saúde. Seu desenvolvimento é um desdobramento do Índice Brasileiro de Privação (IBP), de cuja elaboração a vice-coordenadora do Cidacs também participou.  

“Esse índice vai medir a condição de vulnerabilidade, como está a desigualdade da população em relação à doença”, conta Maria Yuri. Se o IBP já usava dados do censo, como renda, escolaridade e condições de moradia, o novo índice vai agregar uma dimensão sociodemográfica — como raça, idade e densidade domiciliar —, além de informações sobre o acesso ao sistema de saúde. Vai mostrar ainda a curva de mortalidade por Covid-19 nos 5.570 municípios brasileiros. A partir daí serão analisados os padrões e sua relação com o indicador de desigualdade. 

“Espero que esse índice possa auxiliar a entender melhor o impacto da Covid em áreas mais vulneráveis, a desenhar políticas de proteção social, a mitigar os efeitos adversos da pandemia e melhor alocar recursos”, conta. Como o trabalho parte de dados simples de serem coletados por organismos demográficos e de estatística em países de baixa e média rendas, Maria Yuri espera que outras nações possam reproduzir a metodologia.  

Tradução de estatísticas 

Já o trabalho liderado por Juliane Fonseca pretende desenvolver métodos matemáticos e estatísticos para estabelecer modelos sobre a transmissão da Covid-19 e tornar esses dados mais acessíveis à população. Ele é uma continuação de um projeto financiado pelo Programa Fiocruz de Fomento à Inovação, o Inova Fiocruz. Em sua primeira parte, foi desenvolvida uma plataforma de visualização de modelos analíticos, onde os dados são atualizados em tempo real, para ver cenários e métricas e saber se a doença está controlada ou não. Com a verba do Icoda, ele entra em uma nova fase.  

“O objetivo é continuar com essa plataforma e ter agora resultados que impactem mais nas estratégias de vacinação, levando em consideração a questão da pobreza. Temos um mapeamento em tempo real do risco de infecção e hospitalização para cada cidade brasileira”, conta a pesquisadora da Fiocruz e da Universidade do Porto, à frente de uma equipe de nove pessoas, que inclui ainda integrantes da UFBA. 

Um outro aspecto é o trabalho de divulgação científica junto às comunidades, que já vinha sendo desenvolvido. Agora os pesquisadores esperam conseguir entrar um pouco mais nas áreas mais carentes. “Vamos usar cartilhas, minicursos, seminários, vídeos explicativos para deixar mais palpável o que a gente tem na parte de matemática e estatística, os resultados analíticos e as recomendações, por meio de uma linguagem mais acessível”, conta. 

Muito competitivo, o chamado grant pilot, além de recursos, traz projeção internacional. “Um dos pontos importantes do Icoda é que ele destaca muito a cooperação internacional. Tudo o que a gente está desenvolvendo fica aberto e pode ser reproduzido. Um país na África pode aproveitar nossos dados e conhecimento, por exemplo”, diz Juliane. “Ter três projetos da Fiocruz entre esses dez selecionados é muito importante. Mostra que a Fiocruz tem impacto e que é um exemplo”, conclui. 

Grand Challenges e ICODA 

O Grand Challenges é uma família de iniciativas lançadas pela Fundação Bill & Melinda Gates em 2003 para estimular inovações em busca de soluções para problemas globais em saúde e desenvolvimento. Já o International Covid-19 Data Alliance (ICODA) é uma aliança global convocada pela HDR UK (o instituto nacional para dados de saúde do Reino Unido), em 2020. A iniciativa já mapeou cerca de cem repositórios de dados, plataformas e bancos de dados relevantes para o combate à Covid-19. Apoiam ainda a iniciativa a Mindaroo Foundation, uma organização filantrópica com base na Austrália, e a AI for Heath, um programa filantrópico da Microsoft destinado a melhorar as condições de saúde no mundo.

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