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Pesquisadores da Fiocruz Bahia realizaram um estudo sobre a Neisseria lactamica, uma bactéria comensal fermentadora de lactose que pode estar associada à imunidade natural contra a Neisseria meningitidis, causadora da meningite bacteriana. A pesquisa foi realizada para melhor compreender sobre esse microrganismo pouco investigado. O artigo “Epidemiology and molecular characterization of Neisseria lactamica carried in 11–19 years old students in Salvador, Brazil“, publicado na revista científica International Journal of Medical Microbiology, descreve a epidemiologia e a diversidade genética de N. lactamica.
Esta bactéria é frequentemente isolada da nasofaringe de crianças e é raramente associada à doença invasiva, pois não possui vários fatores de virulência geralmente encontrados em N. meningitidis. Entretanto, a evidência de respostas de reatividade cruzada contra antígenos comuns entre as duas espécies tem encorajado o desenvolvimento de vacinas contra o meningococo baseadas em N. lactamica. Além disto, alguns desses antígenos são componentes da vacina 4CMenB para o sorogrupo B de N. meningitidis.
A administração da vacina 4CMenB e a presença de N. lactamica podem ser sinérgicas, ou seja, pode sensibilizar ou reforçar a resposta imune. Por outro lado, a vacinação pode resultar na eliminação ou prevenção da colonização por esse microrganismo, resultando na perda da imunidade natural. O estudo contínuo da caracterização de cepas circulantes de N. lactamica pode contribuir para um melhor entendimento sobre a colonização meningocócica, os fatores de virulência e a resposta a vacinas.
Para o presente estudo, coordenado pela pesquisadora da Fiocruz Bahia Leila Campos, foram analisadas amostras de orofaringe coletadas de 1200 estudantes de Salvador, com idade de 11 a 19 anos, de 134 diferentes escolas públicas, durante setembro a dezembro de 2014. O material passou por isolamento e identificação de N. lactamica e caracterização molecular através do sequenciamento do genoma total. Foi identificada uma grande diversidade genética, com a presença de 32 sequências tipo (ST) diferentes, quando comparadas com a base de dados de sequências de genoma de Neisseria, o BIGSdb.
No estudo, foi encontrada a prevalência da bactéria em 4,5% (54/1200) dos jovens estudados, sem diferença estatística entre sexo e idade, embora se tenha observado uma tendência de maior prevalência entre os indivíduos de 11 anos de idade. A prevalência de N. lactamica nos diversos grupos etários foi semelhante a de N. meningitidis na mesma população. Apenas um participante foi co-colonizado por N. meningitidis e N. lactamica.
Em relação aos componentes da vacina 4CMenB, foi constatado que nenhum dos isolados de N. lactamica continha as proteínas recombinantes presentes na vacina NadA ou FHPB, utilizados na preparação da vacina. Entretanto, foram identificadas 21 variantes das proteínas recombinantes FetA, 20 de NhbA e duas variantes da PorB. Estudos futuros, incluindo um maior número de isolados são necessários para avaliar o impacto da vacina 4CMenB na colonização pela bactéria. Os resultados deste estudo fornecem informações importantes sobre o genoma de N. lactamica para a realização de análises futuras que poderão auxiliar a nossa compreensão sobre a dinâmica de colonização das espécies de Neisseria.