Laboratório abre inscrições para seleção de pós-doutorado

Posdoc 2017 EDITALO Laboratório de Patologia e Biologia Molecular (LPBM) da Fiocruz Bahia divulga dois editais de seleção pública para pós-doutorado, que contemplam as áreas de Biologia Molecular e Celular e de Epidemiologia com ênfase em investigações eco-epidemiológicas relacionadas a arboviroses. Interessados em participar da seleção devem enviar o Currículo Lattes e uma carta de intenção apresentando os motivos pelos quais deseja pleitear a vaga, para o e-mail lauratauro@gmail.com, até 13 de outubro.

Os candidatos selecionados integrarão o grupo de pesquisa sobre a epidemiologia e a dinâmica de transmissão de arboviroses no meio urbano. Este grupo é liderado pelos pesquisadores da Fiocruz Bahia, Guilherme Ribeiro e Mitermayer Reis, com colaboração do pesquisador da Universidade de Emory (EUA) e Professor Visitante Especial do Programa Ciência Sem Fronteiras, Uriel Kitron.

Para a área de Biologia Molecular e Celular o candidato deve ter doutorado na área de saúde, biologia, bioquímica ou veterinária. Já na área de Epidemiologia, espera-se um profissional com doutorado na área de saúde, preferencialmente em epidemiologia, saúde pública, saúde coletiva ou áreas correlatas. Ambos devem manifestar interesse em realizar pesquisa interdisciplinar na interface da epidemiologia, estatística, ecologia e entomologia; e em realizar inquéritos de campo em uma comunidade urbana. Devem comprovar elevado nível acadêmico e ser aptos para comunicação em inglês.

Para informações como atividades a serem desenvolvidas, valor da bolsa e outros detalhes, acesse os editais:

Pós-Doutorado em Biologia Molecular e Celular

Pós-Doutorado Epidemiologia

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Lei da Biodiversidade impacta todas as pesquisas com patrimônio genético brasileiro

Assessora da Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Manuela da Silva, ministrou palestra sobre o tema no IGM

A assessora da VPPCB da Fiocruz, Manuela da Silva, em visita ao IGM.
A assessora da VPPBC, Manuela da Silva, em visita ao IGM.

A legislação de acesso ao patrimônio genético, sobre a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado e repartição de benefícios para conservação e uso sustentável da biodiversidade, foi apresentada na Fiocruz Bahia/IGM, pela assessora da Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas (VPPCB) da Fiocruz, Manuela da Silva. Intitulada “A Lei da Biodiversidade (Lei 13.123/15 e Decreto 8.772/16) e seu impacto na pesquisa básica e aplicada”, a palestra foi ministrada em 15 de setembro, no auditório Aluízio Prata, na instituição.

Em vigor desde novembro de 2015, a Lei da Biodiversidade, considerada um marco na área de pesquisa do país, revogou a Medida Provisória 2186/2001, se alinhando com as normas internacionais de diversidade biológica. Em entrevista, Manuela da Silva falou sobre as principais mudanças promovidas pela lei e os desafios e os ganhos para a pesquisa científica decorrentes da nova legislação.

 

IGM – Quais as principais mudanças advindas da regulamentação da Lei de Biodiversidade e acesso ao patrimônio genético?

MS – São muitas mudanças, uma das mais importantes é a substituição da autorização prévia por um cadastro autodeclaratório, também houve a ampliação do escopo da legislação, que agora inclui pesquisas básicas como taxonomia molecular, filogenia, epidemiologia molecular, ecologia molecular, assim como o uso de sequências genéticas depositadas em bancos públicos como GenBank. Outra mudança é na composição do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), agora constituído por ministérios e a sociedade civil, consequentemente a Fiocruz perdeu o assento no Conselho.

Nós estamos representados pelo setor acadêmico (SBPC, ABA e ABC). As atividades abrangidas são pesquisa e desenvolvimento tecnológico, com a exclusão de bioprospecção, e exploração econômica que é quando haverá a repartição de benefícios. Outra novidade é a definição de que qualquer micro-organismo isolado em território brasileiro é considerado patrimônio genético.

IGM – As instituições já se adequaram às mudanças?

MS – Ainda não. Infelizmente ainda há muita desinformação, principalmente no meio acadêmico com relação à pesquisa básica. São poucas as instituições de pesquisa que estão se organizando para informar seus pesquisadores sobre a nova legislação e que estão se adequando.

IGM – Quais as implicações para as pesquisas desenvolvidas na Fiocruz? Houve a criação de alguma estrutura organizacional especial para acompanhar esse processo?

MS – A implicação é o não cumprimento da lei e consequentemente a possibilidade de multas milionárias para a instituição. Temos o Grupo de Trabalho da Lei da Biodiversidade, coordenado pela VPPCB, com a importante participação da Coordenação de Gestão Tecnológica da Fiocruz (GESTEC) e membros de alguns Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT), envolvida com a implementação da nova legislação.lei da biodiversidade2

Também contamos com a participação do sistema GESTEC-NIT, principalmente na capacitação dos NITs para poderem apoiar os pesquisadores no cumprimento da lei. Também temos usado a Câmara Técnica de Pesquisa, para informar os Vice-diretores de pesquisa sobre a questão e a importância do envolvimento deles na sensibilização dos pesquisadores.

IGM – Quais os tipos de pesquisas e atividades que foram mais impactadas nesta regulamentação?

MS – Todos as pesquisas com o patrimônio genético brasileiro, que na lei está definido como “Informação de origem genética de plantas, animais, micro-organismos ou outras espécies da natureza, incluindo substâncias derivadas do metabolismo destes seres vivos”. Portanto, praticamente todas as pesquisas com a biodiversidade brasileira.

IGM – Quais as medidas institucionais adotadas para mitigar os impactos sobre a pesquisa?

MS – As principais medidas foram:

  • Criação de um cadastro institucional contendo todas as atividades previstas no art. 12 §2º da Lei 13.123/15 realizadas desde a entrada em vigor da lei (17/11/2015) até a disponibilização do cadastro pelo MMA, para garantir o acesso à informação e o controle das atividades realizadas durante o vácuo legal e a indisponibilidade do SisGen pelos órgãos fiscalizadores.
  • Encaminhamento de memorando circular para os Diretores, Vice-Diretores de Pesquisa das Unidades e NITs definindo os procedimentos para o preenchimento do cadastro prévio por todos os coordenadores de projetos.
  • Disponibilização de um modelo de TTM/MTA para o caso de remessa de material biológico para o exterior e instrumento jurídico no caso de envio.
  • Estabelecimento do Grupo de Trabalho (GT Lei da Biodiversidade).
  • Futura criação de outro sistema para o cadastro de projetos de bioprospecção e desenvolvimento tecnológico realizados de 30/06/2000 a 17/11/2015 para incluí-los em um único Termo de Compromisso para a regularização quanto à MP 2.186/2001.
  • Sensibilização dos pesquisadores e estudantes da Fiocruz quanto a nova legislação e as exigências
  • Participação na Câmara Setorial da Academia do CGEN, como coordenadora, para propor resoluções e orientações técnicas para fazer alguns ajustes necessários e notas informativas para esclarecimentos necessários.

IGM – Qual sua recomendação para os pesquisadores cujos projetos em andamento foram afetados por esta regulação? O que devem fazer?

MS – Devem se informar sobre a lei e o que deve ser feito para cumpri-la, inclusive utilizando o material informativo disponível no Portal da Fiocruz, e em caso de dúvidas devem procurar o seu NIT que está capacitado para ajudá-los. Nós informaremos quando o SisGen estiver disponível, e quando isso acontecer é importante que os pesquisadores façam logo o cadastro das atividades.

IGM – Como tem visto esta questão no IGM, a partir da visita realizada recentemente?

Pude constatar que a Direção do IGM está mobilizada para a sensibilização dos seus pesquisadores e alunos, e que está se preparando para o momento quando o SisGen estiver disponível. E, muito importante, está dando o apoio para o NIT poder absorver mais esta importante tarefa. Aproveito para agradecer novamente esta oportunidade de informar e sensibilizar os pesquisadores e alunos do IGM, uma unidade que tem muitas pesquisas com a biodiversidade brasileira.

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Carcinogênese espontânea e participação da via Hedgehog na doença hepática é tema de tese

AUTORA: Juliana Ribeiro de Freitas
ORIENTADORA: Patricia Sampaio Tavares Veras
TÍTULO DA TESE: CARCINOGÊNESE ESPONTÂNEA E PARTICIPAÇÃO DA VIA HEDGEHOG NA DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA INDUZIDA POR DIETA EM CAMUNDONGOS.
PROGRAMA: Doutorado em Patologia Humana (UFBA /Fiocruz)
DATA DE DEFESA: 17/10/2017

RESUMO

Introdução: A doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) é uma condição associada à obesidade, que afeta adultos e crianças em todo o mundo. Atualmente, é considerada como manifestação hepática da síndrome metabólica e estima-se que nas duas próximas décadas será a doença hepática mais prevalente no mundo. Na patologia, a DHGNA varia de esteatose pura à esteato-hepatite (EHNA), quando a esteatose é acompanhada de balonização hepatocelular e/ou inflamação lobular e/ou fibrose perisinusoidal. Pacientes com EHNA têm maior risco de desenvolvimento de cirrose. Estudos mostram que um percentual menor de pacientes com esteatose pura podem também evoluir para cirrose. Pacientes com EHNA têm risco maior de desenvolvimento de carcinoma hepatocelular (CHC), mesmo sem cirrose estabelecida. Os mecanismos envolvidos na progressão da DHGNA e carcinogênese não são bem conhecidos. A via de sinalização Hedgehog (Hh) parece estar envolvida na agressão e regeneração hepáticas na DHGNA.

Objetivo: O presente estudo teve como objetivo utilizar um modelo em camundongos de DHGNA induzido por dieta, que reproduz do ponto de vista clínico, laboratorial e histológico a DHGNA humana e verificar a ocorrência de CHC espontâneo e avaliar a participação da via Hh no parênquima hepático e no CHC.

Metodologia: Camundongos C57BL/6 foram alimentados com dieta hipercalórica por 11 meses. Após eutanásia, foi colhido soro para dosagem bioquímica e retirado fígado para exame anatomopatológico, imuno-histoquímica e avaliação de expressão gênica. O grupo controle foi alimentado com ração regular do biotério.

Resultados: Os animais alimentados com dieta hipercalórica desenvolveram obesidade, diabetes, elevação de colesterol e de enzimas hepáticas. Todos os animais obesos apresentaram EHNA, sendo que 40% desses animais desenvolveram CHC, do tipo esteato-hepatítico. A avaliação da via Hh mostrou ativação da via no parênquima dos animais obesos e nos CHC, com intensa produção de osteopontina (OPN). Houve maior ativação da via Hh no parênquima não neoplásico dos animais que desenvolveram CHC do que nos animais obesos sem CHC.

Conclusão: O modelo de indução de DHGNA por dieta em camundongos resultou em EHNA em todos os animais obesos, com desenvolvimento de CHC espontâneo. Foi detectada ativação da via Hh nos fígados dos animais com EHNA e nos CHC. A ativação da via Hh no parênquima hepático dos animais obesos precede o surgimento do CHC, indicando que essa ativação com produção de OPN é um evento precoce nesse modelo de carcinogênese espontânea em DHGNA.

Palavras-chave: esteato-hepatite; carcinoma hepatocelular; Hedgehog, Osteopontina.

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Dissertação descreve a epidemiologia das infecções causadas por Gram-negativos multirresistentes

AUTORA: Helena Ferreira Leal
ORIENTADOR: Joice Neves Reis Pedreira
TÍTULO DA DISSERTAÇÃO: EPIDEMIOLOGIA DAS INFECÇÕES DE CORRENTE SANGUÍNEA CAUSADAS POR BACTÉRIAS GRAM-NEGATIVAS MULTIDROGA RESISTENTES EM UM HOSPITAL GERAL DE SALVADOR-BA.
PROGRAMA: Doutorado em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa
DATA DE DEFESA: 16/10/2017

RESUMO

Introdução: As infecções de corrente sanguínea (ICS) são uma das mais prevalentes no ambiente hospitalar e estão associadas a elevadas taxas de morbimortalidade. O isolamento de bactérias Gram-negativas multirresistentes (MDR) nesse tipo de infecção é considerado uma tendência nos últimos anos, implicando na redução do arsenal terapêutico e aumentando o impacto clínico dessas enfermidades. Dentre as preocupações relacionadas à resistência, destacam-se a produção de enzimas β-lactamases de espectro ampliado (ESβL) e carbapenemases.

Objetivos: Descrever a epidemiologia das infecções de corrente sanguínea causadas por Gram-negativos multirresistentes, procurando elucidar fatores de risco para multirresistência e mortalidade; verificar a presença de genes de resistência e principais clones circulantes; bem como avaliar a performance de testes microbiológicos que detectam a presença de β-lactamases.

Metodologia: Foi realizado um estudo prospectivo, no qual dados clínico-epidemiológicos foram coletados através da revisão de prontuários. Os micro-organismos foram identificados por MALDI TOF-MS e o perfil de susceptibilidade foi determinado pelo sistema automatizado VITEK-2® e método de Kirby-Bauer; a pesquisa de genes de resistência foi realizada através de PCR e a genotipificação foi realizada por PFGE e MLST. Os testes fenotípicos avaliados consistiram no Teste de Hodge Modificado (MTH), Método de Inativação de Carbapenemases, Teste indireto de carbapenemase, Blue-CARBA, RAPIDEC ® CARBA-NP e o teste recomendado pela Nota Técnica 01/2013 da ANVISA.

Resultados: Dos 143 pacientes incluídos no estudo, 28,7 % (n=41) foram acometidos por ICS causadas por patógenos MDR. Foram identificados como fatores de risco para infecções MDR o uso prévio de antimicrobianos, doença hepática, sexo masculino, idade ≥60 e bacteremia por K. pneumoniae. Óbito foi independentemente associado à idade ≥60, escore de Pitt ≥4 e infecção MDR. Dentre os determinantes de resistência pesquisados SHV, TEM, OXA-1-like e CTX-M-1 foram variantes enzimáticas predominantes, enquanto CTX-M-9, CTX-M-2, KPC, VIM, GES, OXA-48-like, NDM e OXA-23-like caracterizaram-se como enzimas emergentes. K. pneumoniae foi a espécie microbiana mais resistente e com maior prevalência de genes de resistência 37/50 (74,0%); a caracterização molecular de isolados desta espécie revelou uma estrutura populacional policlonal, entretanto todos os isolados de K. pneumoniae detentores do gene blaKPC foram identificados como pertencentes ao grupo clonal CG258. A avaliação dos testes fenotípicos evidenciou uma elevada concordância entre o VITEK-2 e o teste manual de disco aproximação para detecção de ESβL (95,9 %), indicando este último como uma boa alternativa para laboratórios com limitações financeiras. Quanto à detecção de carbapenemases, o MTH foi o teste de maior acurácia. No que tange à detecção da enzima KPC todos os testes mostraram-se boas alternativas, uma vez que nenhum falso-negativo foi detectado.

Conclusões: No presente estudo a epidemiologia das ICS causadas por MDRGN foi descrita pela primeira vez na cidade de Salvador, fornecendo importantes informações acerca de fatores de risco, preditores de mortalidade, genes de resistência e clones circulantes. Adicionalmente, a avaliação dos testes fenotípicos aqui empreendida fornece valiosas informações para microbiologistas que realizam a detecção de ESβL e carbapenemases na prática clínica.
Palavras-chave: Bacteremia. Resistência microbiana a medicamentos. Bactérias Gram-negativas.

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Ministério da Saúde lança primeiro boletim sobre suicídio no Brasil

Agência Saúde / Ministério da Saúde

AF-cvv_setembro-amarelo_faixaEm alusão ao setembro amarelo, mês de conscientização sobre a importância da prevenção do suicídio, o Ministério da Saúde divulgou, nesta quinta-feira (21/9), o primeiro Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Brasil. Um dos alertas é a alta taxa de suicídio entre idosos com mais de 70 anos. Nessa faixa etária, foram registradas média de 8,9 mortes por 100 mil nos últimos seis anos. A média nacional é 5,5 por 100 mil. Também chamam atenção o alto índice entre jovens, principalmente homens, e indígenas. O diagnóstico inédito vai orientar a expansão e qualificação da assistência em saúde mental no país.

O Ministério da Saúde, com base nos dados do boletim, lança uma agenda estratégica para atingir meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) de redução de 10% dos óbitos por suicídio até 2020. Entre as ações, destacam-se a capacitação de profissionais, orientação para a população e jornalistas, a expansão da rede de assistência em saúde mental nas áreas de maior risco e o monitoramento anual dos casos no país e a criação de um Plano Nacional de Prevenção do Suicídio. Desde 2011, a notificação de tentativas e óbitos é obrigatória no país em até 24h.

“Temos o compromisso de reforçar agora toda nossa rede de atenção psicossocial junto aos gestores locais, visando fortalecer e ampliar a assistência a todos os indivíduos que necessitam de atenção e cuidado neste momento”, afirmou o Secretário de Vigilância em Saúde, Adeilson Cavalcante.

O diagnóstico registrou entre 2011 e 2016, 62.804 mortes por suicídio, a maioria (62%) por enforcamento. Os homens concretizaram o ato mais do que as mulheres, correspondendo a 79% do total de óbitos registrados. Os solteiros, viúvos e divorciados, foram os que mais morreram por suicídio (60,4%). Na comparação entre raça/cor, a maior incidência é na população indígena. A taxa de mortalidade entre os índios é quase três vezes maior (15,2) do que o registrado entre os brancos (5,9) e negros (4,7). “A reúne esforços entre as áreas de vigilância e assistência em saúde com programas de prevenção e cuidado da saúde mental para diminuir a mortalidade por suicídio”, ressaltou Quirino Cordeiro Junior, coordenador geral de Saúde Mental, álcool e outras drogas do Ministério da Saúde.

Entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio é maior entre os homens, cuja taxa é de 9 mortes por 100 mil habitantes. Entre as mulheres, o índice é quase quatro vezes menor (2,4 por 100 mil). Na população indígena, a faixa etária de 10 a 19 anos concentra 44,8% dos óbitos. “A notificação de casos é muito importante para que consigamos visualizar onde se encontram as regiões com maiores indicadores e reunir esforços para diminuir as taxas de suicídio. Já trabalhamos com ações de prevenção nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) que, em breve, devem chegar nas áreas de maior incidência”, enfatizou Maria de Fátima Marinho, Diretora do Departamento de Doenças e Agravos Não-Transmissíveis do Ministério da Saúde.

O documento apresenta ainda que, entre os anos de 2011 e 2016, ocorreram 48.204 tentativas de suicídio. Ao contrário da mortalidade, foram as mulheres que atentaram mais contra própria vida, 69% do total registrado. Entre elas, 1/3 fez isso mais de uma vez. Por raça/cor, a população branca (53,2%) registrou maior taxa. Do total de tentativas no sexo masculino, 31,1% tinham entre 20 e 29 anos. Além disso, 58% dos homens e mulheres que tentaram suicídio utilizaram substâncias que provocaram envenenamento ou intoxicação.

Entre os fatores de risco para o suicídio estão transtornos mentais, como depressão, alcoolismo, esquizofrenia; questões sociodemográficas, como isolamento social; psicológicos, como perdas recentes; e condições clínicas incapacitantes, como lesões desfigurantes, dor crônica, neoplasias malignas. No entanto, tais aspectos não podem ser considerados de forma isolada e cada caso deve ser tratado no Sistema Único de Saúde conforme um projeto terapêutico individual.

Assistência é fator de proteção 

Os serviços de assistência psicossocial tem papel fundamental na prevenção do suicídio. O Boletim apontou que nos locais onde existem Centros de Apoio Psicossocial (Caps), uma iniciativa do SUS, o risco de suicídio reduz em até 14%. Existem no país, 2.463 Caps e, no último ano, foram habilitadas 146 unidades, com custeio anual de R$ 69,5 milhões do Ministério da Saúde. Por isso, a agenda estratégia prevê a expansão dessas unidades nas regiões de maior risco.

Outro ponto para ampliar o atendimento é a parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV). O Ministério da Saúde tornou gratuito a ligação para a instituição que faz o apoio emocional por para prevenção de suicídios. A partir do dia 30 de setembro, além do Rio do Grande do Sul, o 188 ficará disponível sem custo de ligação para mais oito estados: MS, SC, PI, RR, AC, AP, RO e RJ. A expansão beneficiará 21% da população brasileira. Para se ter ideia do impacto da medida, no Rio Grande do Sul, onde já funciona desde setembro, número de atendimento aumento em treze vezes: de 4.500 ligações em setembro de 2015 para 58.800 em agosto deste ano. Além disso, a entidade também presta assistência pessoalmente, via e-mail ou chat. A representante do CVV, Leila Herédia, ressalta a importância da gratuidade das ligações para o aumento dos atendimentos. “O custo das ligações era um fator impeditivo na hora das pessoas procurarem ajuda. No momento de angústia, as pessoas querem ser ouvidas, querem conversar. A medida vai facilitar o acesso da população aos serviços do CVV”, afirmou.

Também está previsto materiais de orientação para ampliar a comunicação social e qualificar a informação aos jornalistas, profissionais de saúde e a população. Por isso, o Ministério lançou um folheto informativo para os jornalistas, com sugestões sobre como abordar o tema. Para a população, foi feito um folder com foco na identificação de sinais de alerta, como o que fazer e o que não fazer diante de uma pessoa com risco de suicídio. Já para profissionais de saúde, foi feito documento sobre a importância da notificação compulsória da tentativa de suicídio em até 24h e que traz informações técnicas sobre acolhimento na rede do SUS. Todos os documentos estão disponíveis para download no Portal da Saúde (www.saude.gov.br).

Já para a Educação Permanente dos profissionais de saúde na prevenção do suicídio, o Ministério da Saúde oferta, em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), um curso à distância sobre Crise e Urgência em Saúde Mental. Desde 2014, já foram capacitados 1.994 profissionais. A próxima turma, prevista para 2018, capacitará outros 1.500 profissionais da RAPS, com capítulo sobre suicídio. Outra capacitação prevista é a Oficina Nacional de Qualificação das Ações de prevenção suicídio entre povos indígenas, que será realizada em novembro. Também para os índios, ainda nesta ano, haverá a implantação das linhas de cuidados de prevenção do suicídio com capacitações em 16 DSEI prioritários e formação de jovens indígenas multiplicadores em estratégias de valorização da vida nas regiões com maior incidência de suicídio.

Confira a apresentação do boletim e outras informações no Portal da Saúde.

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Cursos de pós-graduação da Fiocruz Bahia têm excelência em avaliação da Capes

capes 6Os programas de pós-graduação em Patologia Humana (PgPAT – Fiocruz/UFBA) e em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa (PgBSMI) da Fiocruz Bahia receberam conceito 6, na última avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior (Capes), do Ministério da Educação (MEC). O resultado da avaliação quadrienal, cuja nota máxima é 7, foi divulgado nesta quarta-feira (20/9).

Este resultado é importante para a instituição, pois consolida a qualidade dos cursos. O PgBSMI passou do conceito 4 para 6 e o PgPAT manteve seu nível de excelência com conceito 6. A atribuição das notas 6 e 7 é reservada aos programas que têm desempenho reconhecidamente elevado e que podem ser comparados a programas de boa qualidade no exterior. São considerados: a formação expressiva de mestres e, sobretudo, de doutores, com elevada qualificação; produção científica de elevada qualidade aferida pela publicação de artigos por docentes permanentes e discentes em periódicos dos estratos superiores do Qualis (A1 e A2); inserção nacional e, especialmente, internacional; e consolidação e liderança nacional.

A vice-diretora de Ensino da Fiocruz Bahia, Patrícia Tavares Veras, afirmou que o resultado salienta a qualidade das publicações e do desempenho dos professores e alunos. Veras também ressaltou a importância do trabalho da Secretaria Acadêmica, que dá suporte diário aos docentes e discentes; do professor do PgBSMI Edson Duarte e da coordenadora geral das pós-graduações da Fiocruz, Cristina Guilam, que através de relatório fundamentaram a mudança da área de concentração do curso, antes de Biotecnologia, para Medicina 2; e do trabalho do novo coordenador do curso, o pesquisador Guilherme Ribeiro.

“O PgPat já é um curso consolidado, sendo o programa de Patologia melhor avaliado do Nordeste. O avanço para o conceito 6 pelo PgBSMI é muito significativo para a instituição, além de possibilitar aumento de financiamento e autonomia na administração dos recursos. Adicionalmente, acredito que poderemos ampliar o apoio à mobilidade estudantil e o processo de internacionalização fundamental para que os cursos passem para o nível 7”, afirmou a vice-diretora.

Empenho Coletivo

O coordenador do PgBSMI destacou a importância do resultado obtido e citou alguns avanços no curso que permitiram a ascensão do conceito do curso. “A nota 6 é um reconhecimento pela elevada qualidade do nosso programa em diversos aspectos. Temos um corpo docente de excelência, comprometido socialmente e engajados em produzir avanços científicos e tecnológicos que possam se traduzir em melhorias para a saúde e qualidade de vida das populações. Nossos alunos têm publicado conjuntamente com os docentes do programa de forma regular e essa produção tem alta qualidade”, explicou.

Ribeiro recordou que, em levantamento realizado no início do ano, durante o preparo do relatório para a Capes, identificou-se que 40% dos artigos com participação de alunos e professores do programa no último quadriênio tinham sido publicados em revistas de alto impacto, com Qualis A1 ou A2. “Além disso, o curso vem apresentando um expressivo crescimento no número de pós-graduados titulados. Mais da metade dos mestres e doutores que formamos defenderam suas dissertações e teses nos últimos quatro anos”.

E aproveitou para parabenizar todos que têm trabalhado pelo sucesso do programa. “Esse resultado é fruto do trabalho de muitos que tem contribuído para o crescimento curso desde sua abertura em 2006: coordenadores do programa, membros do colegiado, docentes, discentes, secretaria acadêmica e diretores do centro, todos tem um papel importante nessa conquista”, comemorou.

A pesquisadora da Fiocruz Bahia e coordenadora do PgPAT, Claudia Brodskyn, recebeu com “orgulho e satisfação” o resultado da Capes. “Continuamos sendo um curso de excelência e aproveitarmos o momento para agradecer todos os nossos professores, alunos, secretárias, diretoria e vice-diretoria de ensino do Instituto Gonçalo Moniz, bem como a Pró-Reitoria de Ensino da UFBA que sempre tem nos apoiado em todas as nossas ações”, declarou.

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Pesquisa identifica nova abordagem de exame diagnóstico para hanseníase

20 09 hanseniase filipeCom o objetivo de apresentar uma ferramenta adicional para o diagnóstico da hanseníase, pesquisadores realizaram um estudo para avaliar as respostas de anticorpos contra a proteína Mce1A em pacientes com a doença. Os resultados da pesquisa foram publicados, em 5 de setembro, na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. O Memórias é um periódico científico da Fiocruz, que esse ano obteve liderança do fator de impacto na América Latina.

Intitulado “ELISA-based assay of immunoglobulin G antibodies against mammalian cell entry 1A (Mce1A) protein: a novel diagnostic approach for leprosy”, o artigo é de autoria do mestrando Filipe Rocha e coordenado pelo pesquisador Sérgio Arruda, ambos da Fiocruz Bahia, além de profissionais vinculados a outras instituições de saúde e pesquisa nacionais e internacionais.

O diagnóstico de hanseníase é complexo e novas ferramentas e metodologias são necessárias para detectar casos em estágios iniciais e prevenir a transmissão. O genoma de Mycobacterium leprae contém o gene mce1A, que codifica uma proteína de entrada de células de mamífero. Os pesquisadores se basearam na hipótese de que a presença de Mce1A na superfície celular poderia ser detectada pelo sistema imunológico do hospedeiro e induzir a produção de biomarcadores sorológicos de infecção e doença por M. leprae.

Para realização da pesquisa, foi realizado um estudo transversal envolvendo 89 voluntários (55 casos de hanseníase, 12 contatos familiares e 22 controles endêmicos), no Hospital Couto Maia, em Salvador. Além das respostas de anticorpos contra a Mce1A, foram avaliados contatos domiciliares dos pacientes e da população em geral.

Os achados apontaram que esta nova abordagem de diagnóstico apresenta um método fácil, não invasivo e barato para o rastreio da hanseníase, que pode ser aplicável em áreas endêmicas.

Clique aqui e leia o artigo na íntegra.

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Dengue grave aumenta em cinco vezes as chances de bebê natimorto, diz estudo

19 09 lancet infectious diseaseA Zika não é mais a única infecção por arbovirose a ser considerada letal para um bebê em desenvolvimento. Um estudo científico detectou que a dengue também pode representar um risco à vida do feto. Ter dengue durante a gestação quase dobra a probabilidade de um bebê nascer morto ou morrer durante o parto, enquanto a dengue severa aumentaria em cinco vezes as chances de um natimorto – nome dado à morte do feto acima de 500g dentro do útero ou durante o parto.

O achado, publicado na edição de setembro do periódico The Lancet, foi obtido a partir da análise dos registros de sistemas de informações brasileiros.  Para chegar a tais resultados, os pesquisadores cruzaram os dados de mais de 162 mil natimortos e 1,5 milhão de nascidos vivos, sendo que, desses, 275 natimortos e 1.507 nascidos vivos tinham sido expostos a dengue. Este é o primeiro estudo realizado em larga escala a demonstrar a associação. Apenas um estudo anterior, com uma pequena amostra de um hospital, indicou a relação entre a infecção e natimorto.

O artigo, intitulado “Symtomatic dengue infection during pregnancy and the risk os stillbirth in Brazil, 2016-12: matched case-control study”, contou com a autoria dos pesquisadores do Centro de Integração de Dados e Conhecimento para Saúde (Cidacs/IGM/Fiocruz) Enny Paixão, Mauricio Barreto, Maria Glória Teixeira e Laura Rodrigues, em parceria com pesquisadores do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA), Universidade de São Paulo (USP) e da London School of Hygiene & Tropical Medicine, no Reino Unido.

Dados

O estudo foi realizado com dados obtidos entre dezembro de 2012 e janeiro de 2016 do Sinasc (Sistema de informação de Nascimentos), SIM (Sistema de Informação de Mortalidade) e Sinan (Sistema Nacional de Agravos de Notificação).

A análise indicou que o risco de natimortos entre todos os nascimentos registrados no período foi de 11 por 100 nascidos vivos. Já quando considerado apenas a amostra das mães infectadas por dengue, a taxa de incidência foi de 15 por 1.000. Quando considerada a gravidade da doença, a dengue severa aumenta o risco de natimorto em cinco vezes, cerca de três vezes mais que a dengue comum.

Os mecanismos pelos quais a dengue causaria o nascimento de natimortos é desconhecido, mas os pesquisadores apontam três hipóteses para explicar o fenômeno: os sintomas de dengue afetariam diretamente o feto; a dengue causaria mudanças na placenta; ou o próprio vírus teria um efeito direto no bebê em formação.

Apesar de desde os anos 1980 o Brasil passar por sistemáticas epidemias de dengue, a doença era considerada letal apenas quando atingia sua forma hemorrágica, que agravava o quadro do infectado podendo levar a morte. No entanto, com a epidemia de anomalias congênitas associadas à Zika ocorrida em 2015, a investigação científica se voltou para os efeitos das infecções virais durante a gestação.

Em 2015, cerca de 2.6 milhões de bebês foram considerados natimortos no mundo. A estimativa é que infecções virais, no geral, representam cerca de 14% de todos os óbitos fetais. Algumas infecções possuem forte evidência científica de associação com natimortos:  Sífilis, Toxoplasmose, Citomegalovírus e Parvovírus B19.

***

Confira abaixo a entrevista com a autora principal do estudo, a pesquisadora do Cidacs Enny Paixão, doutoranda da London School of Hygiene & Tropical Medicine, em Londres.

Esse estudo é pontual ou é parte de algum outro em andamento? Qual é a importância desse achado?

Este estudo compõe a minha tese de doutorado que tem por objetivo verificar se existe associação entre dengue e desfechos negativos da gravidez. Este achado é importante tanto para a formação de políticas públicas quanto para protocolos de assistência em unidade de saúde, que podem recomendar que em áreas endêmicas para dengue, mulheres grávidas sejam consideradas população de risco, por isso requerem monitoramento de perto. É importante notar que os efeitos do dengue ocorreram principalmente no momento agudo da doença, ressaltando a importância da assistência adequada para evitar o óbito fetal.

As epidemias de dengue estão ocorrendo de forma cíclica no Brasil desde a década de 1980, mas só agora, com a Zika, que a comunidade científica se atentou para os efeitos da infecção em gestantes. Por quê?

Na verdade, este estudo foi iniciado antes da relação entre o zika e a microcefalia ser detectada. Mas o advento do zika acelerou as pesquisas e alertou a comunidade cientifica sobre a importância dos possíveis efeitos de infecções virais durante a gestação. O papel das infecções virais como precursor de efeitos adversos na gestação ainda é pouco conhecido e pesquisas nesta área precisam ser conduzidas e aceleradas.

É possível que haja outros efeitos da infecção por dengue que ainda não foram pesquisados? Qual é o panorama atual do conhecimento científico sobre os flavivírus?

É possível, e também é possível que com a circulação de 3 arboviroses juntas no mesmo ambiente gere alguma modificação no padrão epidemiológico. Não sabemos nada sobre os efeitos da co-circulação das 3 arboviroses. Ainda existem lacunas na literatura sobre o zika. E os efeitos do dengue na gestação ainda precisam ser melhor compreendidos. Além da discussão sobre vacinação.

O que deve ser pesquisado daqui para frente?

Existe um amplo campo de pesquisa na área de arboviroses como um todo. Mas especificamente com relação a dengue e efeitos adversos da gestação, é importante identificar os mecanismos patológicos que envolvem essa associação, além de repetir esses estudos em outros lugares para verificar se os resultados são similares, verificar os efeitos de dengue na mortalidade materna.

Vocês utilizaram apenas registros dos Sistema de Informação em Saúde para encontrar essa relação. Como o uso de grandes volumes de dados pode ajudar na pesquisa em saúde? Você acredita que os estudos epidemiológicos, em um futuro próximo, ganharão mais precisão e credibilidade com a utilização desses registros administrativos?

O uso de dados administrativos é uma grande ferramenta, principalmente em estudos que envolvem desfechos raros e de longa duração, que estava sendo subutilizada no Brasil. Linkage (cruzamento entre diversas bases de dados) na área de saúde materna infantil tem sido amplamente utilizado em países desenvolvidos para entender a associação entre exposições ocorridas previamente e durante a gravidez e os efeitos no feto, nascimentos e até mesmo durante a infância. Como esses dados já são produzidos rotineiramente, esse tipo de pesquisa se torna mais barato, rápido, com menos perda de follow-up (acompanhamento dos pesquisados) por isso mais conveniente do que as coortes tradicionais. Claro que existem grandes desafios que precisam ser superados para que possamos produzir conhecimento com esses dados, principalmente relacionados a acurácia do linkage, mas estamos avançando e este estudo demostra que os dados de rotina produzidos pelo Brasil podem ser utilizados para alavancar diversas áreas de pesquisa e responder inúmeras perguntas de investigação.

Confira o artigo na íntegra clicando aqui.

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Participação de pacientes é destaque do XIII Simpósio Internacional sobre HTLV-1 no Brasil

Foto: Gerson Rosario/ Nucom EBMSP
Ao centro da mesa, a diretora da Fiocruz Bahia Marilda Gonçalves. Foto: Gerson Rosario/EBMSP

Pesquisadores, médicos, profissionais e estudantes da área de saúde se reuniram para discutir sobre pesquisa de ponta em HTLV, entre os dias 11 a 13 de setembro, no Centro de Convenções da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), em Salvador. Coordenado pelos pesquisadores da Fiocruz Bahia Bernardo Galvão e Maria Fernanda Grassi, o evento teve como objetivo difundir os avanços gerados pelos diferentes grupos de pesquisa, aprofundar a discussão sobre epidemiologia, patogênese e tratamento da infecção e fortalecer redes de colaboração entre os pesquisadores das diversas instituições.

De acordo com Grassi, mais da metade das cidades do estado da Bahia tem indivíduos infectados com HTLV e a estrutura do SUS ainda é muito precária para atender a esses pacientes, por isso a 13ª edição do evento visou também dar apoio à rede de profissionais das secretarias estadual e municipal de saúde. “Este ano, trouxemos diversos profissionais do SUS e fizemos palestras mais voltadas para a intervenção clínica, para que esses profissionais também entendam melhor a complexidade do paciente com HTLV”, explicou a pesquisadora.

Participaram do evento profissionais e pesquisadores vinculados a instituições de pesquisa e ensino, como Marilda Gonçalves, diretora da Fiocruz Bahia; Maria Luísa Soliani, diretora da EBMSP; Achileia Bittencourt, da Universidade Federal da Bahia (UFBA); Marzia Puccioni, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/ UFRJ); e Fernando Proietti, pesquisador da Fiocruz Pernambuco.

Foto: Gerson Rosario/ Nucom EBMSP
Participaram profissionais da saúde, estudantes e pacientes. Foto: Gerson Rosario/ EBMSP

“A realização desse evento demonstra o envolvimento da Fiocruz com um problema grave de saúde pública que é o vírus HTLV. Como uma importante instituição de pesquisa, não podemos medir esforços, ainda que com recursos escassos devido ao cenário nacional de restrição orçamentária, para buscarmos responder às questões pertinentes à doença e apoiar as ações relacionadas a pesquisa e assistência”, afirmou Marilda Gonçalves.

O pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/ Fiocruz) Abelardo Araújo, conferencista da palestra “Perspectivas do Tratamento do Paciente com HTLV”, ressaltou a importância do simpósio em Salvador, cidade com a maior prevalência de HTLV do país. “Esses eventos são importantes para levantar a bola de um problema grave, muito negligenciado, que afeta uma população de uma faixa economicamente ativa, que pode muitas vezes ficar incapacitada. O Brasil é o país com o maior número absoluto de infectados e ainda não há um número de centros suficientes para acompanhar esses pacientes”, salientou Araújo.

A pesquisadora da Fiocruz Bahia Fernanda Grassi. Foto: Gerson Rosario/ EBMSP
A pesquisadora da Fiocruz Bahia Fernanda Grassi. Foto: Gerson Rosario/ EBMSP

Os pacientes também participaram ativamente da programação, expondo suas demandas. A presidente da associação HTLVIDA de apoio aos portadores do vírus HTLV-1 e 2 do estado da Bahia, Adjeane Oliveira, disse ter esperança ao ver pesquisadores e profissionais de várias partes do Brasil e do mundo mobilizados para dar qualidade de vida aos portadores do vírus.

“Essa doença não tem cura, os pacientes não têm assistência e nem políticas públicas de apoio, diferente dos portadores do HIV. A gente precisa se unir para que seja dada mais atenção ao HTLV, para que deixe de ser uma doença tão negligenciada e as pessoas saibam sobre ela. Muita gente com os sintomas está perambulando de médico em médico e não tem diagnóstico final por desconhecimento”, comentou Oliveira.

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Inscrições abertas para curso Embase de base bibliográfica

EMBASEDando prosseguimento ao Programa de Treinamentos Continuados, a Biblioteca da Fiocruz Bahia realizará o curso Embase (base de dados bibliográfica). Interessados em participar podem se inscrever gratuitamente aqui, até às 12h, do dia 21/9.

Curso Embase
Quando: 21/09/2017
Horário: 15h às 17h
Local: Sala de Aula I da Biblioteca, Fiocruz Bahia – Rua Waldemar Falcão, 121, Candeal

Vagas limitadas!

Para maiores informações acesse o hotsite do Programa de Treinamentos Continuados.

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Tese demonstra que animais com leishmaniose apresentam maiores alterações inflamatórias no fígado.

AUTORA: Isadora dos Santos Lima
ORIENTADOR: Luiz Antonio Rodrigues de Freitas
TÍTULO DA TESE: Patologia da Leishmaniose Visceral Canina: ênfase no significado da resposta inflamatória granulomatosa no fígado.
PROGRAMA: Doutorado em Patologia Humana (UFBA /Fiocruz)
DATA DE DEFESA: 27/09/2017

RESUMO

O fígado está entre os principais órgãos afetados pela leishmaniose visceral canina. Dentre as alterações hepáticas descritas na literatura, destaca-se o granuloma como uma das alterações histopatológicas mais frequentes e de maior importância, uma vez que estudos apontam a relação direta entre aumento na carga parasitária e redução na formação e maturação de granulomas, bem como entre a resolução da infecção e a formação e maturação de granulomas no fígado de camundongos. Neste estudo mostramos que animais com infecção ativa por Leishmania sp. apresentam maior frequência de alterações inflamatórias no fígado. Essas alterações têm correlação, também com a gravidade das manifestações clínicas e com o grau de desorganização da polpa branca do baço, o que reforça seu significado. Além disso, mostramos que existe uma associação entre as alterações inflamatórias e as alterações hematológicas e bioquímicas avaliadas.

Observamos, ainda, uma associação entre a intensidade dessas alterações inflamatórias e a carga parasitária no baço dos animais. Vale ressaltar que, enquanto alterações como inflamação portal e perivascular e presença de granulomas em maior quantidade estão relacionadas com maior carga parasitária, o inverso é verificado em relação à linfocitose intrassinusoidal, formação de agregados intrassinusoidais de células inflamatórias mononucleares e hipertrofia de células de Kupffer, sugerindo uma relação entre essas alterações e uma resposta de controle do parasitismo por parte do hospedeiro. Em relação ao estudo dos granulomas, nossos dados mostram que granulomas pequenos possuem uma maior proporção de células TCD3+, enquanto que granulomas médios têm maior proporção de macrófagos MAC387+. Além disso, animais com baço desorganizado têm granulomas com uma maior proporção de células TCD4+ e macrófagos CD163+.

Mostramos também que granulomas médios expressam mais TNF-α e TGF-β do que granulomas pequenos, e que existe uma correlação positiva entre a quantidade de parasitas no granuloma e a expressão de TNF-α e TGF-β. No que se refere à resposta humoral, mostramos que cães com mais granulomas produzem mais IgA, IgE, IgG total, IgG 1 e IgG 2. Em conjunto, nossos dados sugerem que a leishmaniose visceral canina leva ao surgimento de alterações histológicas no fígado que refletem o quadro clínico do animal.

Palavras chave: leishmaniose visceral, fígado, histopatologia, patologia, inflamação, granulomas, perfil imunológico.

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Obsma lança 9ª edição destacando o Ano Oswaldo Cruz e Desenvolvimento Sustentável

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Estão abertas as inscrições para a 9ª edição da Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente (Obsma) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Coordenada pela Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (Vpeic) da Fiocruz, a Olimpíada é um projeto educativo voltado a professores e alunos da Educação Básica de todo o Brasil que busca estimular a produção de trabalhos interdisciplinares sobre saúde e meio ambiente em escolas públicas e privadas. Inscrições são gratuitas e vão até 31 de julho de 2018 – acesse o Regulamento.

A novidade na competição é o inédito Prêmio Obsma – Ano Oswaldo Cruz. Unindo-se às homenagens pelo centenário de morte do cientista, a Olimpíada irá conferir esta premiação especial a um trabalho sobre saúde e meio ambiente que tenha utilizado como fontes de pesquisa artigos, capítulos, livros, teses, dissertações e/ou recursos educacionais (multimídias, jogos educacionais, sites, entre outros) produzidos pela Fundação Oswaldo Cruz.obsma2

Além disso, a 9ª Obsma vai reafirmar a importância dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) preconizados pelas Nações Unidas estimulando que os trabalhos abordem de forma crítica e criativa temas da Agenda 2030. Uma das formas de promover esta iniciativa será por meio das Oficinas Pedagógicas, que a Olimpíada realiza desde 2013. Nelas, uma equipe multidisciplinar dialoga com grupos de professores sobre as relações entre educação, saúde, meio ambiente e ciência em sala de aula. As Oficinas, que acontecem com apoio do CNPq e parcerias locais, são gratuitas e abertas a professores da Educação Básica do estado, município ou região em que ocorrem, e a programação é sempre divulgada no site e nas redes sociais. Saiba mais sobre elas neste link.

Acesse o site oficial para conferir o Regulamento completo da 9ª edição, os próximos eventos e outras notícias: www.olimpiada.fiocruz.br. A Obsma também está no Facebook, no Twitter e no YouTube. A Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente conta com apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

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Avaliação do potencial da proteína cinase LinDYRK1 para fármacos anti-Leishmania é feita em tese

AUTOR: Vinicius Pinto Costa Rocha
ORIENTADORA: Milena Botelho Pereira Soares
TÍTULO DA TESE: Avaliação da Proteína Cinase DYRK (Dual-Specificity Tyrosine-Regulated Kinase) como Alvo Molecular para o Desenvolvimento de fármacos Anti-Leishmania.
PROGRAMA: Doutorado em Patologia Humana (UFBA /Fiocruz)
DATA DE DEFESA: 25/09/2017

RESUMO

INTRODUÇÃO: As leishmanioses compreendem um grupo de doenças com ampla distribuição mundial, causada por parasitos pertencentes ao gênero Leishmania. As doenças podem se manifestar de diferentes formas clínicas, como a forma visceral, a mais grave, e as formas cutâneas. O tratamento com os antimoniais pentavalentes apresenta inúmeros efeitos adversos, além do crescente número casos de falha terapêutica. Alternativas a este tratamento estão disponíveis, mas também são associadas a efeitos adversos graves, necessitam de hospitalização e monitoramento dos pacientes, além do alto custo. Assim, existe a necessidade pela busca de novos medicamentos para o tratamento das leishmanioses. A seleção e a validação de um alvo farmacológico constitui uma das estratégia empregadas para a descoberta de novos tratamentos. Parasitos do gênero Leishmania são heteroxênos, sendo capazes de sobreviverem em organismos distintos: o inseto vetor e o hospedeiro vertebrado. O conhecimento dos mecanismos moleculares que proporcionam a diferenciação da Leishmania nas formas metacíclica e amastigota, além da manutenção da viabilidade desta última no hospedeiro mamífero, certamente contribuirá para o desenvolvimento de novos fármacos. DYRKs são proteínas cinases encontradas em diferentes organismos, sendo relacionadas com a modulação do ciclo celular e a manutenção da viabilidade mediante condições de estresse, como alta temperatura e privação de nutrientes.

OBJETIVO: Avaliar o potencial de utilização da proteína cinase LinDYRK1 como alvo molecular para o desenvolvimento de fármacos anti-Leishmania.

MÉTODOS: Células superexpressando LinDYRK1 foram geradas a partir da transfecção de parasitos tipo selvagem com o vetor pXNG-LinDYRK1. Após a recombinação homóloga, a linhagem knockout facilitada foi gerada. A essencialidade da LinDYRK1 foi avaliada através da seleção negativa com o ganciclovir. O fenótipo de células knockout foi avaliado por microscopia confocal, análise do ciclo celular, microscopia eletrônica e infecção de macrófagos murinos in vitro. A análise do conteúdo lipídico foi realizada por espectrometria de massas e cromatografia gasosa.

RESULTADOS: Células superexpressando LinDYRK1 apresentam alteração do ciclo celular com retenção em G1. A ausência da LinDYRK1 é tolerada em promastigotas em fase replicativa. Células knockout não sustentam a fase estacionária e apresentam fenótipo induzido pela ausência desta cinase. O knockout apresenta morfologia arredondada durante a fase estacionária, além acúmulo na fase G2/M do ciclo celular. Ao nível ultraestrutural, observou-se alterações na membrana celular, intensa vacuolização no citoplasma e acúmulo de corpúsculos lipídicos. Entretanto, não houve aumento na produção destas moléculas na linhagem LinDYRK1 knockout. Por outro lado, houve um aumento discreto na quantidade de ácidos graxos saturados. Além disso, a ausência da LinDYRK1 resultou em maior sensibilidade de promastigotas ao choque térmico e menor sobrevivência no interior de macrófagos murinos.

CONCLUSÃO: Diante dos resultados apresentados é possível concluir que a cinase LinDYRK1 está envolvida com a manutenção da viabilidade do parasito durante a fase estacionária. A LinDYRK1 desempenha um papel biológico importante no ciclo de vida do parasito, podendo estar envolvida nos eventos iniciais de estabelecimento da infecção no hospedeiro vertebrado. Dessa forma, esta cinase pode constituir um alvo para o desenvolvimento de novos fármacos.

Palavras-chave: Leishmania. Leishmaniose. Farmacologia. Tratamento. Cinase.

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Estudo desenvolvido por pesquisador da Fiocruz Bahia tem repercussão internacional

artigo HIVUm estudo publicado na revista Science Translational Medicine, em 30 de agosto, sobre o mecanismo que faz com que portadores do vírus HIV tenham maior risco de acidentes cardiovasculares, repercutiu em diversos veículos de comunicação de países como EUA (Washington Post, EurekAlert, Medical Express e Scientific American), Espanha (El Mundo e JANO.es) e Índia (Medindia e CanIndia News), além do site do National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIH) e da Agência de Notícias da Aids no Brasil, dentre outros.

O pesquisador da Fiocruz Bahia, Bruno Bezerril Andrade, é um dos autores do trabalho realizado em parceria com instituições internacionais, sendo o responsável pela coordenação dos experimentos in vitro e em pacientes, além de supervisionar as análises estatísticas dos experimentos em macacos.

“Esta pesquisa foi fruto da curiosidade de entender porque pacientes infectados com HIV possuem risco permanentemente aumentado de desenvolverem eventos cardiovasculares, a despeito da eficácia da terapia antirretroviral em suprimir a replicação do vírus”, explica Andrade. O estudo demonstrou que mesmo com o baixíssimo número de vírus em decorrência da terapia antirretroviral, o sistema imunológico do paciente portador do HIV libera ao longo do tempo células de defesa específicas que acabam provocando inflamações e coágulos no sangue, que circulando pelo corpo, acabam gerando acidentes cardiovasculares.

Os resultados da pesquisa foram obtidos através da investigação detalhada de células do sangue e sua participação na formação de trombos em coortes diferentes de pacientes com HIV, além de pesquisa com modelos experimentais em macacos. “O próximo passo agora é entender como seria possível reduzir a capacidade destas células do sangue de promover estes eventos danosos que resultam em maior risco cardiovascular na infecção pelo HIV, como também em outras doenças inflamatórias”, afirma o pesquisador.

Saliva do carrapato

O mesmo estudo também apontou que a Ixolaris, uma proteína encontrada na saliva do carrapato do gênero Ixodes, pode ser a chave do tratamento para redução do risco da doença cardíaca relacionada ao HIV. De acordo com Bruno Andrade, muito trabalho ainda é necessário antes que esta substância seja validada para uso em humanos, por isso mais testes serão realizados.

“Estamos realizando estudos com mais pacientes e em outros países. Os resultados da nossa pesquisa apontam para a possibilidade de redução de risco de tromboses em diversas doenças marcadas pela inflamação crônica, em que a manipulação da atividade das células do sangue responsáveis por estes fenômenos pode trazer benefícios importantes”, esclarece Andrade.

Sobre o pesquisador

Bruno Andrade é pesquisador assistente da Fiocruz Bahia e do Instituto Brasileiro para a Investigação da Tuberculose (IBIT/Fundação José Silveira) e mantem posição de pesquisador associado do National Institutes of Health (NIH), EUA. Atua na área de estudos clínicos multicêntricos em Imunologia humana e medicina preditiva baseada em bioestatística multidimensional. Realiza ainda estudos imunológicos, epidemiológicos e de intervenção clínica em doenças como tuberculose, HIV, malária e leishmaniose.

Confira o trabalho publicado na Science Translational Magazine e os últimos artigos científicos do pesquisador:

Pesquisa elucida relação entre HIV e maior chance de acidentes cardiovasculares

Estudo identifica bioassinaturas de complicações em comorbidade Diabetes-Tuberculose

Vias de sinalização envolvidas na ativação do fator nuclear-κB na tuberculose são descritas em pesquisa

Resolvina D1 favorece o estabelecimento da infecção por Leishmania amazonensis, aponta estudo.

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Pesquisa elucida relação entre HIV e maior chance de acidentes cardiovasculares

06 09Um grupo de pesquisadores vinculados a instituições de saúde e pesquisa nacionais e internacionais realizaram um estudo cujos achados lançaram luz sobre a relação entre o HIV e o alto índice de acidentes cardiovasculares entre os portadores do vírus. Os resultados da pesquisa foram publicados na Science Translational Medicine, no artigo “Inflammatory monocytes expressing tissue fator drive SIV and HIV coagulopathy”, em 30 de agosto. Dentre os autores do trabalho, que teve repercussão internacional, está o pesquisador da Fiocruz Bahia, Bruno Andrade.

Na infecção pelo HIV, a inflamação persistente está ligada ao aumento do risco de complicações crônicas não infecciosas, como doença cardiovascular e tromboembólica. Por isso, muitas pesquisas nesta área são destinadas à melhor compreensão das vias inflamatórias e de coagulação na infecção pelo HIV, com a finalidade de otimizar o atendimento clínico.

No presente estudo, os pesquisadores identificaram um subtipo específico de monócitos (células de defesas do sangue) que expressam o fator tecidual (FT), que persistem mesmo após a supressão da carga viral e desencadeiam coagulação. Isto é, mesmo com o baixíssimo número de vírus em decorrência da terapia antirretroviral, o sistema imunológico do paciente com HIV libera ao longo do tempo tais monócitos, que se encontram expandidos e ativados, induzindo à coagulação persistente e inflamação crônica. Esses coágulos na circulação sanguínea, acabam gerando acidentes cardiovasculares.

Além disso, os pesquisadores também demonstraram que produtos microbianos provavelmente oriundos de translocação de microorganismos de superfícies de mucosas induzem a ativação destes monócitos no sangue de pacientes infectados. De maneira interessante, o grupo descobriu que os monócitos indutores de coagulação e inflamação também são capazes de reconhecer trombina, um produto da coagulação. O reconhecimento simultâneo de produtos microbianos e de trombina causa uma alça de amplificação que perpetua a coagulação e inflamação sistêmica na infecção pelo HIV, independente da eficácia de retrovirais.

Para chegar a essas conclusões, foi realizada uma série de experimentos em células de sangue de doadores saudáveis, assim como em populações de pacientes infectados com HIV antes da implementação da terapia antirretroviral e após o estabelecimento da supressão da carga viral induzida pelo tratamento. A equipe também realizou estudos em macacos e os achados validaram os resultados da pesquisa feita em infecções em humanos, ao mostrar que os monócitos inflamatórios que expressam FT foram associados à coagulação relacionada com o vírus da imunodeficiência símica (SIV), também conhecido como “AIDS símia”.

Substância da saliva de carrapato tem potencial terapêutico

A Ixolaris, uma proteína anticoagulante encontrada na saliva de carrapatos do gênero Ixodes que inibe a via FT, foi testada no estudo e bloqueou potentemente a atividade do FT in vitro na infecção por HIV e SIV, sem afetar a função de defesa dos monócitos contra estimulação por produtos microbianos.

Surpreendentemente, o tratamento in vivo de primatas infectados com SIV com Ixolaris foi associado a diminuições significativas no D-dímero (que indica quadros de trombose) e ativação imune. Esses dados sugerem que os monócitos que expressam FT estão no epicentro da inflamação e coagulação na infecção crônica por HIV e SIV e podem representar um potencial alvo terapêutico para redução do risco da doença cardíaca relacionada ao HIV.

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Em entrevista, Maurício Barreto fala sobre autonomia e futuro da Fiocruz

Foto de Mauricio Barreto

Raíza Tourinho (Nucom/Cidacs/Fiocruz Bahia)

“O compromisso central da Fiocruz é com a melhoria da saúde da população brasileira. Nesse processo, tudo aquilo que fere esses princípios a instituição deve adequadamente se posicionar contra”. É assim que o epidemiologista Mauricio Barreto, coordenador do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/IGM/Fiocruz), acredita que a Fiocruz deve se portar. A fim de refletir sobre o papel da Fiocruz em um panorama com crescimento da desigualdade social, avanço das mudanças climáticas e políticas de proteção social e o próprio Sistema Único de Saúde ameaçados, Barreto apresenta o Seminário “Desafios para a saúde global no contexto de ampliação das desigualdades e dos riscos ambientais e tecnológicos: reflexões sobre a Fiocruz do futuro”.

O evento é o primeiro encontro preparatório para VIII Congresso Interno da Fiocruz e será realizado no dia 6 de setembro, das 10h às 12h30, no Auditório Museu da Vida, no Campus Manguinhos. O coordenador de Relações Internacionais em Saúde (Cris), Paulo Buss, mediará o evento, que também é parte das comemorações do Ano Oswaldo Cruz.

Confira nesta entrevista com o pesquisador um pouco sobre o papel da Fiocruz no contexto brasileiro, a importância do posicionamento de instituições como a Fiocruz e a centralidade da ciência para subsidiar tomada de decisões públicas.

Como surgiu a ideia de abordar esse tema?

O tema nasceu de uma discussão sobre a necessidade de falar um pouco sobre o futuro a Fiocruz.  Quer dizer, trazer uma questão de saúde para falar um pouco sobre a instituição Fiocruz no futuro.

Enquanto epidemiologista, a minha reflexão é centrada na ideia de que as condições de saúde das populações humanas são um imenso reflexo do contexto em que vivem e da trajetória histórica. A partir dessa ideia – e de alguns elementos recentes, como o processo de neoliberalismo e ampliação das desigualdades sociais no mundo e o surgimento de uma série nova de riscos tecnológicos e ambientais diversos – proponho pensar como uma instituição tipo a Fiocruz, de importância e características universais, pode ser pensada e projetada para o futuro.

Evidentemente, minhas reflexões têm imenso limite, já que eu penso a partir das condições de saúde global e como a instituição poderia se projetar, mas há uma série de questões políticas e de posicionamentos institucionais que precisam ser adicionadas em análises complementares.

Considerando que o objetivo maior de uma instituição de pesquisa e desenvolvimento no campo da saúde é trazer melhorias para a saúde da população, começar a reflexão a partir dos problemas de saúde pode ser útil para projetar os dilemas, as dificuldades, e o papel que esse tipo de instituição tem a desempenhar no futuro da sociedade humana.

O Brasil vive um momento muito específico na história. No ano passado foi aprovada a PEC do Teto [Proposta de Emenda Constitucional 241/55], estamos tendo cortes sistemáticos nas áreas de ciência, tecnologia e saúde. Estamos vivendo um cenário de crise, sobretudo nas áreas de políticas sociais…

O caso do Brasil é especial. É quase que uma tragédia humana. Depois de um período de expansão dos campos de ciência e tecnologia e do conhecimento, em que se vislumbrava um projeto de sociedade mais humanizada e distributiva, o processo foi bruscamente interrompido ainda no início e o que vemos é um quadro dantesco de regressão. Se visualiza uma ampliação das desigualdades sociais e descompromisso com todas as políticas de futuro. Isso é muito grave na medida em que uma sociedade como a nossa não pensa em futuro. Faz parte das políticas econômicas e sociais pensar nisso.  Deixamos de pensar o futuro para construir uma sociedade baseada em preceitos ou manutenção do ‘status quo’, sem pensar como as políticas sociais e econômicas podem beneficiar a sociedade. Esperamos que isso seja transitório, mas evidentemente esse processo entra na equação.

A Fiocruz é uma instituição dentro dessa conjuntura e, evidentemente, está sofrendo. Se isso perdurar, vai continuar sofrendo e encontrando dificuldade para sua projeção. Como o momento mudou rapidamente, a expectativa é de haja uma nova inversão.

A própria história da Fiocruz é alinhada ao período histórico. Sofreu o massacre de Manguinhos, a retaliação durante a Ditadura Militar, se adiantou a Redemocratização do País [A partir de 1985, houve a institucionalização das práticas e do uso dos instrumentos democráticos e o primeiro presidente eleito, Sergio Arouca, dizia que “saúde é democracia e democracia é saúde”], auxiliou na Constituição de 1988. Enfim, sempre esteve alinhada e exercendo alguma influência no momento político. Qual a importância de uma instituição científica como essa se posicionar politicamente com embasamentos científicos? Adianta?

É uma questão complexa. Antes de se posicionar politicamente, é preciso se posicionar com os compromissos éticos e sociais, realizando transformações positivas para a sociedade. O compromisso central da Fiocruz é com a melhoria da saúde da população brasileira. Nesse processo, tudo aquilo que fere esses princípios a instituição deve adequadamente se posicionar contra. A política de uma instituição deve defender os seus princípios e compromisso com a sociedade.

Agir politicamente não é a função primária de uma instituição, mas é sua função defender os princípios fundamentais e dar a sociedade elementos que promovam a reflexão. As decisões políticas são tomadas pela sociedade. A Fiocruz precisa ter autonomia para se posicionar com base fundamentada sobre tudo aquilo que põe em risco sua trajetória.

No momento em que se desmonta um sistema de saúde que, em si, já é problemático, e se visualiza regressões no projeto de construção de um Sistema Único de Saúde – e os sinais disso são evidentes – é preciso se manifestar. São decisões que afetam o compromisso com a saúde da população brasileira. É papel da Fiocruz, nesse sentido político de ação, atuar como um alter ego, que vá à frente da sociedade, defenda e crie argumentos para mostrar os riscos, perigos e problemas, como a Fiocruz já vem fazendo em questões mais específicas.

Entender a conjuntura que se vive hoje e trabalhar com esse entendimento de que há riscos e quais mudanças eles podem trazer para a sociedade é parte de um projeto de defesa da sociedade. Não é uma política partidária, mas manifestação de compromisso com a sociedade. Se, a partir dos conhecimentos que gera, [a instituição] identificar que há riscos para a sociedade, é preciso se manifestar contra.

O Cidacs [centro coordenado por Barreto] trabalha com a visão de ciência para subsídio de políticas públicas. Há algum tempo o senhor estuda a questão de políticas públicas baseadas em evidências científicas e, atualmente vivemos um cenário adverso. Esse cenário pode mudar? A ciência pode passar a ser considerada um subsídio importante para a tomada de decisão?

Não sou daqueles que acham que a ciência é o único elemento para tomada de decisão.  A ciência é parte dos conhecimentos disponíveis para que a sociedade tome sua decisão. As decisões são construídas por um conjunto mais complexo de narrativas e a ciência é um desses elementos. A ciência pode oferecer subsídios para tomadas de decisão pela sociedade, mas vivemos um momento em que mesmo isso está sob riscos. No plano internacional, com a eleição de Donald Trump. Aqui no Brasil, vivemos os cortes no campo de ciência e tecnologia, a desvalorização das universidades, dos centros e institutos de pesquisa. Todo esse conjunto nos aponta um risco de minimizar esse papel ainda mais do que já é, não apenas pela descapitalização total e desfinanciamento dessas instituições, como também pela desvalorização do elemento principal que ela produz: o conhecimento.

Estamos vivendo um período de certa desvalorização desse conhecimento. Nos Estados Unidos, Trump vem tomando algumas decisões nesse sentido, um dos exemplos mais recentes é em relação as mudanças climáticas. O papel que o governo brasileiro vem tomando em relação à Amazônia, às políticas sociais, contenções orçamentárias para campos essenciais, como saúde, educação, tecnologia e ciência, nos mostra que estamos vivendo um momento que põe sobre risco essa possibilidade de restrição e minimização da importância desses elementos. No meu ponto de vista, é uma catástrofe. Vivemos um momento crítico nesse aspecto, cabe a sociedade encontrar soluções que permitam um processo de reversão dessa tendência que vem se implantando no país.

Sobre o médico epidemiologista Mauricio Barreto:

É coordenador do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs), pesquisador sênior do Instituto Gonçalo Moniz (IGM/Fiocruz) e professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (ISC/UFBA). Barreto acumula uma carreira de grande prestígio científico: ele é membro titular das academias baiana e brasileira de ciências, da The World Academy of Science (TWAS) e pesquisador I-A do CNPq; publicou mais de 400 trabalhos em revistas científicas, além de 40 monografias e capítulos de livros; orientou 18 dissertações de mestrado e 25 teses de doutorado; foi Conselheiro para América Latina da Associação Internacional de Epidemiologia (2002-2008) e participou de diversos comitês assessores na Organização Mundial da Saúde. Em maio, sua carreira foi reconhecida pela Assembleia Legislativa da Bahia com a Comenda 2 de Julho, a mais alta condecoração da casa.

*Colaborou Manuela Pena Cal

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Pós-graduandos da Fiocruz Bahia discutem possível corte de bolsas do CNPq

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Representantes dos estudantes ao lado da Diretora da Fiocruz Bahia, Marilda Gonçalves.

Discentes dos programas de pós-graduação em Patologia Humana (PgPAT) e em Saúde e Medicina Investigativa (PgBSMI) da Fiocruz Bahia discutiram, na última sexta-feira (25/8), possíveis cortes no valor das bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e direitos dos pós-graduandos. Além dos estudantes, estavam presentes na assembleia a Diretora da Fiocruz Bahia, Marilda Gonçalves, a Vice-Diretora de Pesquisa, Camila Indiani, a pesquisadora Claudia Brodskyn representando a Vice-Diretoria de Ensino, entre outros pesquisadores da instituição.

Juntos, os dois programas de pós-graduação da Fiocruz Bahia somam 162 estudantes (75 de mestrado e 87 de doutorado), destes 30 são bolsistas do CNPq. A instituição ainda possui alunos de Iniciação Científica, dos quais 30 são bolsistas da agência de fomento. Os estudantes reivindicaram melhorias nas bolsas e nas condições de pesquisa, nas relações acadêmicas, na assistência estudantil e nas verbas destinadas à ciência e tecnologia. “As reivindicações aqui apresentadas foram propostas em 2005. Estamos em 2017 e houve muito pouco avanço. Nos últimos dois anos, o valor da bolsa de doutorado sanduiche reduziu pela metade enquanto a inflação só aumentou”, afirmou Paulo Matos, representante dos alunos de doutorado do PgPAT.

Filipe Rocha, representante dos alunos de mestrado do PgPAT, comunicou que será agendada outra reunião, que contará com representantes da Associação de Pós-Graduandos da Fiocruz (APG), em data a ser definida, para discutir o andamento da mobilização. “Esperamos também o envolvimento de pesquisadores e demais servidores para reunir cartas de apoio e envia-las ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação (MCTIC) e ao CNPq”, comentou.

Na oportunidade, Marilda Gonçalves afirmou que os alunos de pós-graduação são 1,7 vezes o número de servidores na unidade. “Os estudantes são importantes não só para a produtividade dos programas de pós-graduação, mas também para o avanço científico e tecnológico do país. Recentemente, tivemos uma reunião no Rio de Janeiro para discutir este cenário preocupante de cortes de orçamento no MCTIC e no Ministério da Saúde. As negociações estão em curso, mas até agora não temos nada de concreto com relação a esses cortes”, declarou.

A Diretora afirmou ainda que documentos decorrentes das reuniões podem ser enviados à presidência da Fiocruz. “Queremos reforçar a luta dos pós-graduandos, essas reivindicações podem ser reunidas e repassadas à Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC). A presidência da Fiocruz, assim como a Fiocruz Bahia e a Asfoc estão apoiando a mobilização dos estudantes”, concluiu.

Mobilização nacional – Na última terça-feira (22/8), pós-graduandos da Fiocruz bolsistas do CNPq realizaram uma paralisação em protesto à política de contingenciamento de gastos. Com faixas e cartazes, os estudantes caminharam pelo campus de Manguinhos da instituição e fizeram um ato em frente ao Castelo Mourisco, no Rio de Janeiro.

O corte de 30% do orçamento do MCTIC, somados aos 40% contingenciados pelo governo (dos R$ 730 milhões destinados ao CNPq, R$ 672 milhões foram gastos até o final de julho) afetará, entre outras, pesquisas na área de arboviroses, como as voltadas para febre amarela, zika, chikungunya e dengue, causando um grande impacto na saúde pública. O corte afetará, em todas as unidades da Fundação, 245 alunos de iniciação científica, 75 de mestrado, 85 de doutorado, 28 de pós-doutorado e 245 pesquisadores com bolsa de produtividade. A instituição conta com 992 bolsas do CNPq e 213 projetos.

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Estudo identifica bioassinaturas de complicações em comorbidade Diabetes-Tuberculose

28 08 TBDM Bruno AndradePublicada na Scientifc Reporters, no dia 17 de abril, a pesquisa descrita no artigo “Systems Immunology of Diabetes-Tuberculosis Comorbidity Reveals Signatures of Disease Complications” teve como foco a inflamação neutrofílica e as vias de complicações diabéticas no contexto da morbidade e mortalidade associada à tuberculose. Dentre os autores do estudo estão os pesquisadores da Fiocruz Bahia Bruno Andrade e Kiyoshi Fukutani.

A diabetes mellitus aumenta o risco de tuberculose e se associa resultados terapêuticos adversos, mas as interações patológicas entre essas doenças ainda são pouco compreendidas. Diante deste cenário, os pesquisadores realizaram uma análise integrativa da expressão de genes de sangue total e de plasma, comparando pacientes do sul da Índia com tuberculose, com ou sem diabetes, e, para controles, diabéticos e não-diabéticos sem tuberculose.

Em ensaio realizado com o Luminex para citocinas plasmáticas e fatores de crescimento, resultados delinearam uma bioassinatura distinta na comorbidade diabete-tuberculose. O perfil de transcrição revelou elementos em comum com assinaturas de tuberculose publicadas de coortes que excluíram pacientes com diabetes. A contagem de neutrófilos correlacionou-se com o grau de perturbação molecular, especialmente em pacientes com tuberculose e diabetes.

O índice de massa corporal e o colesterol HDL foram negativamente correlacionados com o grau de perturbação molecular. As vias de complicações diabéticas, incluindo várias vias ligadas à reprogramação epigenética, foram ativadas no tuberculose-diabetes acima dos níveis observados com diabetes apenas. Trata-se do primeiro estudo em transcriptoma no contexto de tuberculose e diabetes, e os resultados apontam para identificação da inflamação neutrofílica e reprogramação epigenética como eventos importantes associados a esta comorbidade. O grupo no momento está realizando um estudo multicêntrico envolvendo a Índia, o Brasil e a África do Sul para tentar traçar um aspecto mais definitivo sobre as assinaturas moleculares da tuberculose e diabetes com a finalidade de identificação de potenciais alvos terapêuticos.

Leia aqui o artigo na íntegra.

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Tese analisa uso das Sirtuinas do Trypanosoma Cruzi no desenvolvimento de fármacos para doença de Chagas

AUTORA: Tanira Matutino Bastos
ORIENTADORA: Milena Botelho Pereira Soares
TÍTULO DA TESE: Uso das Sirtuinas do Trypanosoma Cruzi como alvos moleculares no desenvolvimento de fármacos para o tratamento da doença de chagas.
PROGRAMA: Doutorado em Patologia Humana (UFBA /Fiocruz)
DATA DE DEFESA: 21/09/2017

RESUMO

INTRODUÇÃO: A doença de Chagas, causada pelo protozoário flagelado Trypanosoma cruzi, afeta em torno de 6 a 7 milhões de pessoas mundialmente. O benznidazol e o nifurtimox, medicamentos utilizados no tratamento da  doença, apresentam eficácia limitada, e estão associados com a presença de efeitos colaterais graves. Portanto, torna-se necessária a identificação de novos alvos farmacológicos para a seleção de moléculas com boa eficácia contra o parasito e baixa toxicidade. Neste contexto, devido ao fato de atuarem em processos celulares vitais, as sirtuínas têm atraído interesse como potenciais alvos farmacológicos para o tratamento de diferentes doenças, incluindo a doença de Chagas.

OBJETIVO: O objetivo deste estudo foi caracterizar as sirtuínas de T. cruzi, TcSir2rp1 e TcSir2rp3, como alvos farmacológicos para a identificação de novas drogas para o tratamento da doença de Chagas.

METODOLOGIA: As TcSir2rp1 e TcSir2rp3 recombinantes foram produzidas utilizando sistema de expressão em bactérias e purificadas para posterior validação da atividade biológica das enzimas e triagem de 48 moléculas sintéticas e isoladas de produtos naturais. As moléculas que apresentaram atividade inibitória para as enzimas foram investigadas para avaliar o potencial em inibir as formas tripomastigota e amastigota do parasito, além da toxicidade em fibroblastos humanos. Além disso, foi investigada a propriedade antiparasitária in vivo de outros compostos que, apesar de não inibirem as sirtuínas do parasito, apresentaram atividade antiparasitária nos ensaios de triagem em sistema de High Content Screening padronizado para atividade tripanocida.

RESULTADOS: As sirtuínas recombinantes produzidas apresentam atividade de lisina desacetilase NAD+ dependente, sendo demonstrado, pela primeira vez, a atividade biológica de TcSir2rp1 em ensaio funcional. Dentre os 48 compostos que foram triados, 10 apresentaram atividade inibitória de sirtuínas do parasito, sendo 3 inibidores de TcSir2rp1 (compostos 4, 5 e 8), 5 deles inibidores de TcSir2rp3 (compostos 1, 2, 3, 6 e 7) e 2 inibidores de ambas as sirtuínas do parasito (compostos 9 e 10). Foi verificada atividade antiparasitária de todos os compostos selecionados no ensaio de triagem com as enzimas recombinantes. Porém, o ensaio de toxicidade em fibroblasto humano indica que a atividade destes compostos não é seletiva. Dentre os compostos que não inibiram as sirtuínas de T. cruzi, mas apresentaram atividade antiparasitária potente e seletiva (compostos 11, 12, 13 e 14), 2 deles foram selecionados para o ensaio de atividade em camundongo (compostos 11 e 14). Apesar do tratamento in vivo com os compostos 11 e 14 causar a redução da parasitemia, os animais vieram ao óbito, com sinais de toxicidade.

CONCLUSÕES: Este trabalho reforça o uso das sirtuínas do parasito como alvos farmacológicos, com a identificação de diferentes compostos que podem ser otimizados através da química medicinal com o intuito de identificar moléculas mais seletivas e potentes para serem usadas no tratamento da doença de Chagas.

Palavras-chave: Doença de Chagas; Trypanosoma cruzi; Sirtuínas; Alvos farmacológicos, Desenvolvimento de fármacos.

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Estudantes da Fiocruz fazem paralisação contra cortes do CNPq

Por: Matheus Cruz (CCS/Fiocruz)

Estdantes protestando em frente ao castelo fiocruz

Pós-graduandos da Fiocruz, bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) realizaram nesta terça-feira (22/8) uma paralisação em protesto à política de contingenciamento de gastos, que os afeta diretamente. Com faixas e cartazes, os estudantes caminharam pelo campus de Manguinhos da instituição e fizeram um ato em frente ao Castelo Mourisco.

O corte de 30% do orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), somados aos 40% contingenciados pelo governo (dos R$ 730 milhões destinados ao CNPq, R$ 672 milhões foram gastos até o final de julho) afetará, entre outras, pesquisas na área de arboviroses, como as voltadas para febre amarela, zika, chikungunya e dengue, causando um grande impacto na saúde pública. O corte afetará, em todas as unidades da Fundação, 245 alunos de iniciação científica, 75 de mestrado, 85 de doutorado, 28 de pós-doutorado e 245 pesquisadores com bolsa de produtividade. A instituição conta com 992 bolsas do CNPq e 213 projetos.

A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, que esteve presente à manifestação, afirmou que a maior preocupação no momento é com a perspectiva anunciada de que haverá potencialmente o não pagamento das bolsas de pós-graduação. Em sua visão, os cortes na ciência e na tecnologia tem efeitos dramáticos. “Porque isso não se recupera. Por exemplo, passada a crise econômica você pode ter a recuperação em algumas áreas em cinco anos, mas o que se perde na ciência e tecnologia muitas vezes não se encontra mais. Nem a possibilidade de desenvolver uma nova vacina, um novo medicamento, de mudar a gestão na atenção básica, de trabalhar novos modelos de atenção e novos modelos de saúde pública. Então tudo isso está em questão. É importante ressaltar que a ciência e a tecnologia, a saúde e o gasto social eles não deveriam ser vistos como gastos, mas como investimento no futuro do nosso país. Um futuro que depende da ciência, da tecnologia e da inovação”, afirmou Nísia.

Para o vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Manoel Barral-Netto, a dificuldade é “basicamente financeira”. Segundo ele, uma descontinuidade nas bolsas de pesquisa será um impacto enorme em várias atividades. É importante manter a atenção e esse cuidado com esse tema, até porque os outros financiamentos também estão abalados, bastante reduzidos. Isso faz com que toda a atividade de produção no conhecimento esteja em dificuldade. Além disso, uma interrupção de poucos meses, por exemplo, pode significar anos para recompor equipes, porque as pessoas capacitadas se afastam e vão procurar outras atividades. Então será um impacto enorme em várias atividades. Eventualmente, alguns poderão se manter, mas não é o esperado. Estamos esperançosos que realmente esse quadro tenha sido superado, mas é importante manter a atenção e esse cuidado com o tema”, disse Barral.

De acordo com a coordenadora-geral de Pós-Graduação da Fiocruz, Cristina Guilam, a melhor saída é pensar que o investimento na pesquisa é importantíssimo para o país e para a sociedade. “É preciso que as autoridades compreendam que não é possível desinvestir no CNPq e na ciência como um todo”.

Aluna de pós-graduação em Biologia Parasitária, Kate Batista diz que o corte das bolsas de produtividade científica afeta o aluno direta e indiretamente. “Quando começa a faltar luvas, reagentes, o aluno começa a sentir. Parando pesquisas, acaba a esperança”, disse. Marcelo Ferreira da Costa, que também estava na manifestação e é bolsista de pós-doutorado em Comunicação Científica na Fiocruz, diz que grande parte dos trabalhos em que está envolvido, todos envolvem, de uma forma ou de outra, alunos bolsistas. “Seja de doutorado, seja de iniciação científica, produtividade em pesquisa ou artigos. E isso é um exemplo claro de que, sem as bolsas de pesquisa, a ciência literalmente para no Brasil. Todos os tipos de cortes, seja para insumos, material, tudo isso gera um impacto grande nas pesquisas”.

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Identificação de microRNAs em lesões e sua associação com desfecho da leishmaniose é tema de dissertação

AUTORA: Sara Nunes de Oliveira Araújo
ORIENTADORA: Natalia Machado Tavares
TÍTULO DA DISSERTAÇÃO: Identificação de microRNAs expressos em lesões ativas de pacientes com leishmaniose cutânea localizada e sua associação com desfecho da doença.
PROGRAMA: Mestrado em Patologia Humana (UFBA /Fiocruz)
DATA DE DEFESA: 04/09/2017

RESUMO

A Leishmaniose é um complexo de doenças crônicas negligenciadas causadas por parasitos intracelulares do gênero Leishmania, através da picada de flebótomos infectados. A Leishmaniose Cutânea Localizada (LCL) é a forma mais frequente destas doenças, sendocaracterizada por lesão(s) de pele ulcerada com inflamação descontrolada. A LCL humana está associada a uma inflamação crônica que é crítica para a depuração do parasita, mas também para a lesão tecidual e a patogênese da doença. A noção de que a gravidade da LCL é principalmente o resultado de uma resposta inflamatória exacerbada do que uma consequência da alta carga de parasitos é sustentada por vários estudos. Os mecanismos subjacentes à sua patogênese não são completamente compreendidos e pouco é sabido sobre a regulação pós-transcricional durante LCL. Os microRNAs (miRNAs) surgiram como moléculas-chave na regulação de produtos de gênicos nos últimos anos. Esses pequenos RNAsendógenos enão-codificantes (19 a 25 nucleotídeos),modulam a expressão através da repressão da tradução e degradação de RNAs mensageiros alvo (mRNAs). Neste estudo, foram avaliados o envolvimento de 792 sondas de miRNAs e seus alvos em biópsias de pele de pacientes com LCL em comparação a controles saudáveis, utilizando dados de transcriptomadisponíveis publicamente [códigos de acesso GEO do GSE55664 (plataforma Illumina) e GSE63931 (plataforma Agilent)]. O estudo foi seguido de validação ex vivo. Além disso, as sondas de miRNAs observadas na LCL,foram analisadas em outras doenças inflamatórias de pele da plataforma Illumina, a fim avaliar a especificidade da expressão dessesmiRNAs para cada doença avaliada. A análise conjunta identificou 8 miRNAs high confidence alterados (-1.5 <diferença de expressão> 1,5 p-valor<0,05) entre lesões de LCL e pele não infectada.Esse estudo revela que a expressão de miR-193b, miR-671 e seus genes alvo estão associados ao tamanho da lesão, indicando um papel importante dessas moléculas na gravidade da doença. A análise de redes mostrou que, miR-193b, miR-671 e TREM1 apenas se correlacionam em pacientes que apresentam um tempo de cura de até 59 dias. Dado que estes miRNAs e TREM1 estão fortemente associados ao tamanho da lesão, este estudo mostrou que podem influenciar a patogênese e o prognóstico da LCL.

Palavras-chave: Leishmaniabraziliensis, microRNA, pele, transcriptomas.

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Vias de sinalização envolvidas na ativação do fator nuclear-κB na tuberculose são descritas em pesquisa

22 08 Cell Comunication InsightsUm estudo que descreve as principais vias de sinalização que regem o desfecho dos fagócitos hospedeiros infectados com Mycobacterium tuberculosis foi realizado pelos pesquisadores Bruno Andrade, da Fiocruz Bahia, e Eduardo Amaral, da Universidade de São Paulo (USP). No artigo intitulado “Nuclear Factor κB Activation Pathways During Mycobacterium tuberculosis Infection”, publicado no periódico Cell Communication Insights, os autores apresentaram os resultados da pesquisa e destacaram evidências de como o M. tuberculosis modula a ativação da via de sinalização do NF-κB para evadir a defesa antimicrobacteriana do hospedeiro.

As interações entre patógenos e células hospedeiras e a maneira pela qual a resposta imune é modulada durante esse processo determinam o desfecho da infecção. Os fagócitos expostos aos padrões moleculares associados ao M. tuberculosis ativam uma série de vias de sinalização. Neste cenário, a ativação do fator nuclear κB (NF-κB) inicia a transcrição de vários genes envolvidos na orquestração de funções antimicobacterianas.

Outro fator importante é que as interações complexas entre M. tuberculosis e células hospedeiras determinam se as vias NF-κB são ativadas ou suprimidas; tais determinantes moleculares estão associados ao destino das células infectadas e, em última análise, afetam os resultados da doença da tuberculose in vitro e in vivo.

No estudo, os pesquisadores afirmam que a manipulação das vias do NF-κB para subverter mecanismos de evasão microbiana e aumentar as respostas imunes antimicobacterianas pode servir como ferramenta potencial para reduzir a carga de doenças da tuberculose. No entanto, interferir nestas vias é difícil e representa um grande risco por causa de efeitos pleiotrópicos, uma vez que o NF-κ B está envolvido em várias outras vias metabólicas que são essenciais para as funções homeostáticas celulares.

Assim, uma compreensão mais profunda de como os caminhos de NF-κB são moduladas durante a infecção por M. tuberculosis é fundamental para delinear melhores estratégias de intervenção buscando a otimização do controle de doenças.

Clique aqui para acessar o artigo publicado em 14 de março.

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