Como parte das ações do Novembro Negro, a Fiocruz Bahia realizou no dia 22 de novembro o seminário “Saúde e pesquisa: Desafios e perspectivas para a população negra”, no Auditório Aluízio Prata, na sede da instituição.
A atividade foi promovida pela Diretoria da Fiocruz Bahia em parceria com a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB. O evento teve como principal objetivo propor o diálogo entre a sociedade civil, pesquisadores e demais profissionais atuantes na luta pelos direitos da população negra e na construção de políticas de reparação racial, além de fomentar discussões no âmbito da saúde pública.
A assistente social, Roseli Rocha, da Coordenação Colegiada do Comitê Pró-equidade de Gênero e Raça da Fiocruz, que tem o objetivo de consolidar uma agenda institucional pelo fortalecimento dos temas étnico-raciais e de gênero na Fundação, participou do evento através de um vídeo. Em sua fala, Roseli destacou as ações do comitê, como as estratégias para combater o racismo institucional.
A mesa de abertura do evento contou com a presença da diretora da Fiocruz Bahia, Marilda Gonçalves, da coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Raça e Saúde da UFRB, Denize Ribeiro, e do coordenador da Rede de Combate ao Racismo e Intolerância Religiosa da Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade Racial – SEPROMI, Clerisvaldo Paixão.
Para Marilda, realizar esse primeiro encontro sobre a saúde da população negra, com perspectiva de atuar mais em pesquisa direcionadas à saúde desse público, é um momento bastante especial. “Os espaços são ocupados por uma minoria da população negra e, mesmo com algumas políticas que têm tentado trazer igualdade, ainda falta muito para que os negros realmente assumam lugares importantes dentro da sociedade”, afirmou.
“Fazer esse seminário é histórico para mim, como pesquisadora, como diretora da Fiocruz Bahia, e espero que esse momento se perpetue dentro da instituição e que muito mais pesquisadores negros estejam na Fiocruz, não só na unidade da Bahia”, acrescentou a diretora.
Denize Ribeiro destacou a parceria entre a UFRB e a Fiocruz e ressaltou o desejo de reafirma-la através dessa discussão da saúde da população negra. Também representando, Fabya Reis, secretária da SEPROMI, Clerisvaldo Paixão disse que a SEPROMI tem buscado fortalecer a atuação dos gestores dos municípios com relação à saúde da população negra. O coordenador levantou, como exemplo, o Centro de Referência de Combate ao Racismo Nelson Mandela, onde as pessoas podem fazer denúncias de racismo e intolerância religiosa e disponibilizam também auxílio jurídicos às vítimas.
Saúde da População Negra
A assistente social e doutora em Saúde Pública, Maria Inês Barbosa, falou sobre a saúde da população negra a partir da implantação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, uma conquista dos movimentos de homens e mulheres negras que lutaram para modificar o que era considerado saúde pública até então.
Em seguida, a enfermeira e doutora em Saúde Pública, Emanuelle Góes, trouxe a discussão sobre violência obstétrica e o viés racial implícito. Em sua fala, Emmanuelle mostrou como muito da questão da violência obstétrica tem relação com o que é construído historicamente no imaginário coletivo. Um exemplo disso é como muitas vezes a mulher negra sofre discriminação e tem seus direitos de atendimento básico durante a gestação, ou na hora do parto, ceifados por serem tidas como “mais fortes”.
Denize Ribeiro debateu com as outras palestrantes suas experiências como mulheres negras usuárias de serviços de saúde pública e falou sobre o Mestrado Profissional em Saúde da População Negra e Indígena que será oferecido pela UFRB a partir de 2020, pioneiro no país em estudos voltados para estas populações.
Práticas e experiências no campo social
Para a segunda mesa, a jornalista Alana Reis, representante do ODARA – Instituto da Mulher Negra, contou sua experiência profissional em comunicação voltada para a comunidade negra e as ações de comunicação realizadas pelo Instituto.
Em seguida, o jornalista, Igor Leonardo, falou sobre o aplicativo AfroSaúde, no qual é cofundador e foi desenvolvido para conectar profissionais de saúde e pacientes negros e será lançado em breve.
Para finalizar a mesa, o estudante de medicina da UFRB e membro do coletivo de alunos e alunas negros de medicina (NegreX), Ícaro Ferreira, relatou as questões raciais que alunos negros precisam enfrentar em um curso de maioria brancos e a atuação do coletivo para quebrar esses preconceitos.