A Academia de Medicina da Bahia (AMB) realizou, no último dia 30/07, uma sessão pública em homenagem aos 63 anos do Instituto Gonçalo Moniz (IGM/Fiocruz Bahia). A sessão, realizada na modalidade virtual, contou com a presença de mais de 70 pessoas, entre elas membros da AMB, pesquisadores e colaboradores da Fiocruz Bahia e também da Fiocruz de outros estados.
O presidente da Academia, Antonio Carlos Vieira Lopes, cumprimentou a todos os presentes e parabenizou a Fiocruz Bahia pelo trabalho no contexto da saúde pública brasileira, que surgiu graças ao esforço do governo federal e estadual para oferecer as bases para práticas da pesquisa científica, do desenvolvimento tecnológico e da formação de recurso humano qualificado.
“Tudo isso para o enfrentamento de problemas de saúde pública do Estado da Bahia e todos aqueles relacionados a doenças infectocontagiosas de caráter epidêmico”, destacou Antonio Carlos.
O presidente destacou também a presença de diversos membros da Academia de Medicina na Bahia na Fiocruz Bahia, exercendo atividades de ensino e pesquisa ao longo das décadas na instituição, como o pesquisador Zilton Andrade, falecido recentemente, e sua esposa e também pesquisadora da unidade, Sônia Andrade.
O membro da academia e pesquisador emérito da Fiocruz Bahia, Bernardo Galvão Filho, conduziu o evento, dando destaque aos diretores que já passaram pela instituição e a participação de pesquisadores e colaboradores importantes no sucesso da Fiocruz Bahia.
Fiocruz Bahia e a Covid-19
A primeira apresentação ficou por conta da diretora Marilda Gonçalves, que trouxe a experiência da instituição no enfrentamento da Covid-19, neste período de pandemia. Medidas de contingência foram divulgadas no dia 16 de março pela Diretoria, em consonância com o Plano de Contingência da Fiocruz nacional, orientações da Gestão do Trabalho da instituição e dos Planos de Contingência do Município de Salvador e do Governo do Estado, sendo atualizadas e aprovadas pelo Conselho Deliberativo (CD) da Fiocruz Bahia.
Desde o início, a Fiocruz Bahia vem realizando ações de enfrentamento ao novo vírus para garantir a segurança dos seus colaboradores e auxiliar o Sistema Único de Saúde no Estado da Bahia e do município de Salvador, tendo um diálogo direto com as esferas federais, estaduais e municipais.
Entre as ações está o Tele Coronavírus – 155, que já realizou mais de 110 mil atendimentos por telefone com orientações para a evitar que a população circule até os postos de saúde. Os atendimentos são feitos por estudantes voluntários de medicina do quinto e sexto ano, supervisionados por médicos.
Marilda também destacou a instalação da Plataforma de Diagnóstico para Covid-19 como uma das ações realizadas pela Fiocruz Bahia, onde são realizados os testes moleculares para detecção do SARS-CoV-2, viabilizada a partir da cooperação da com a Secretaria Municipal de Saúde da Bahia (SESAB) e Prefeitura de Salvador.
Outra ação é a Rede Covida, formada por cerca de 150 pesquisadores e tem como objetivo o monitoramento da pandemia no Brasil, com previsões de sua possível evolução e produção de sínteses de evidências científicas, tanto para apoiar a tomada de decisões pelas autoridades sanitárias quanto para informar o público em geral.
A diretora também deu destaque a participação de pesquisadores da Fiocruz Bahia em ações de enfrentamento da Covid -19 em projetos estaduais e municipais; ações de comunicação e divulgação científica nas redes sociais; ações de pesquisa, ensino e divulgação científica com palestras on-line e aprovação de projetos no Edital Inova Fiocruz, que visa apoiar propostas voltadas para a pandemia da Covid-19 que possam trazer ações, decisões e respostas rápidas.
Finalizando sua apresentação com a frase de Oswaldo Cruz, “Não podemos esmorecer para não desmerecer”, Marilda disse se sentir honrada em ser diretora dessa instituição que tem destaque nacional e internacional. “Tudo isso porque nós tivemos várias pessoas que contribuíram e contribuem para que ela seja uma instituição de excelência” concluiu a diretora.
Apresentações
Fernanda Grassi, pesquisadora do IGM, falou sobre a imunidade e proteção na infecção pelo SARS-CoV-2, um tema que saiu dos centros de pesquisas e foi parar no cotidiano das pessoas, sendo discutido por toda a população.
Alguns estudos recentes mostraram que em pacientes com forma mais graves da Covid-19 apresentaram números mais elevados de anticorpos do que em relação aos indivíduos com a forma mais leve ou assintomáticos.
A sessão pública contou com a apresentação da estudante egressa da Fiocruz Bahia, Jaqueline Góes, que ficou conhecida por fazer parte do grupo que realizou o sequenciamento do genoma do novo coronavírus em tempo recorde no início da pandemia no Brasil.
Jaqueline contou sua experiência durante o doutorado ao participar do Projeto Zibra, que sequenciou o vírus Zika em 2015 pelo nordeste do Brasil. Essa vivência a colocou no grupo da pesquisadora da Universidade de São Paulo, Ester Sabino, onde realiza o pós-doutorado atualmente, e a introduziu uma nova tecnologia que é capaz de sequenciar outros vírus, entre eles o SARS-Cov-2.
Para falar sobre a situação da pandemia na América Latina, o pesquisador da Fiocruz Bahia e membro da Academia de Medicina da Bahia, Mitermayer dos Reis Galvão, realizou uma apresentação voltada para as questões sociais que envolvem os países desta região.
Os fatores que contribuem para tornar a América Latina o epicentro do novo coronavírus e a prolongação da pandemia tem relação com a rápida e intensa transição demográfica, criando as megacidades com uma grande população de pessoas que moram em situações de vulnerabilidade.
Segundo Mitermayer, as epidemias chegam através das camadas mais privilegiadas das populações, mas migra para as áreas onde ficam as pessoas mais vulneráveis da sociedade. Há também uma dificuldade de implementação das medidas de controle dessa pandemia nessa população, uma vez que moram em situação precária, sem saneamento básico e muitas vezes amontoadas em um único cômodo.
A oferta insuficiente de teste também foi um ponto tocado na apresentação de Mitermayer. Sem testagem em massa, não é possível identificar os indivíduos infectados e seus contatos diretos, podem isolá-los.
Os comentários finais do evento foram feitos pela acadêmica Eliane Elisa de Sousa e Azevedo, agradecendo o conhecimento passado pelos expositores que falaram sobre a Covid-19 e os aspectos da saúde pública para seu enfrentamento.