Pesquisador e alunos da Fiocruz Bahia são premiados em congresso de patologia   

Integrantes do Laboratório de Patologia Estrutural e Molecular (LAPEM), da Fiocruz Bahia, receberam prêmios de Melhor Apresentação de Trabalho, Apresentação de Pôster e de Iniciação Científica, durante o 33° Congresso Brasileiro de Patologia e 26° Congresso Brasileiro de Citopatologia. Entre os reconhecidos no evento realizado entre os dias 3 e 6 de agosto, em Foz do Iguaçu (PR), estão os doutorandos do Programa de Patologia Humana e Experimental (UFBA/ Fiocruz Bahia), Jonathan Fontes e Bianca Mesquita, o estudante de Iniciação Científica, Matheus Piza, e o pesquisador colaborador Luiz Antonio Rodrigues de Freitas.

“É bom ter uma confirmação externa da relevância do que fazemos em patologia no IGM”, afirma o pesquisador Washington LC dos-Santos, chefe do LAPEM. O professor mostrou-se orgulhoso em ver três de seus orientandos terem seus trabalhos reconhecidos. Ele reforça ainda a importância da participação de especialistas em eventos do tipo. “Há a importância dos cursos curtos que são oferecidos nas várias áreas da patologia, pela possibilidade de apresentar e discutir seus trabalhos e os de outros estudantes e professores, pelo estabelecimento de contatos que proporcionam oportunidades de colaboração futura”. 

O pesquisador explica que uma das linhas de pesquisa do LAPEM se baseia no estudo dos marcadores histológicos de diagnóstico, atividade e cronicidade de doenças. “Estamos em fase de identificação de moléculas e desenvolvimento de sistemas computacionais para automatização do diagnóstico. Temos já algumas publicações nas duas áreas”, conta. Essa é a área de especialização do doutorando Jonathan Fontes, cujo estudo apresentado analisou as transformações ocorridas no baço em consequência da leishmaniose visceral.

“Ver o seu trabalho ser premiado, dentre tantos outros trabalhos incríveis, é motivo de muito orgulho, principalmente para um pesquisador em formação”, afirma Jonathan, reconhecido pela Apresentação como Pôster. O trabalho desenvolvido faz uma análise dos leucócitos e da expressão gênica no baço de pacientes com a doença. “Isso foi, além de tudo, uma motivação para fazer um trabalho melhor a cada dia, e continuar as investigações acerca da leishmaniose visceral”, comenta.

A doutoranda Bianca Ramos foi premiada com o 5° lugar de Melhor Apresentação Oral com o trabalho “Alterações da celularidade e da microarquitetura do baço em pacientes com Covid-19: Um estudo de autópsia minimamente invasiva”. A pesquisadora conta que há momentos em que se sente desmotivada devido à desvalorização da pesquisa. “Estes momentos de premiação fazem com que todo esforço e dedicação tenham mérito e nos dê forças para continuar. Concorrer com pessoas com anos de carreira e com trabalhos robustos e ter um lugar na premiação mostra que nunca somos jovens demais para ter destaque nas nossas áreas”, assegura.

O pesquisador Luiz Freitas ficou em 4° lugar na categoria de Apresentação Oral, com o trabalho “Venopatia portal obliterativa (VPO), uma entidade negligenciada em nosso meio: Correlações clínico-patológicas em uma série de casos com e sem hipertensão portal”. Já o graduando Matheus Piza recebeu o prêmio de Iniciação Científica com o trabalho “Quais características visuais das imagens são utilizadas por pessoas para agrupar lesões glomerulares? Um estudo de agrupamento de imagens histológicas por similaridade”. O estudo faz parte da linha de pesquisa do LAPEM que se concentra em desenvolver sistemas de patologia computacional para a automação do processo de busca de marcadores de doenças renais. 

Sobre o congresso  

O 33º Congresso Brasileiro de Patologia retornou no formato presencial depois de dois anos interrompido pela pandemia. Com o tema “A era da multidisciplinariedade”, o evento contou com a participação da Sociedade Brasileira de Citopatologia, em seu 26° Congresso Brasileiro de CItopatologia. Juntas, as Sociedades de ambas as áreas buscaram o compartilhamento dos aprendizados e a promoção da patologia brasileira. 

Esse ano, o congresso teve a participação de palestrantes nacionais e internacionais. Além da apresentação de pôsteres pelos pesquisadores e residentes, e das premiações, houve também a realização de conferências, simpósios, seminários com exposição de lâminas atualizando diversos segmentos da Patologia – como a Hemopatologia, a Dermopatologia, a Nefropatologia e a Patologia Infecciosa.

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Abertas inscrições para vaga de estágio em engenharia elétrica

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em conjunto com a Universidade Patativa do Assaré – UPA, publicou o novo edital para recrutamento e seleção de estagiários(as) para a vaga de Engenharia Elétrica, para fins de estágio não obrigatório. As inscrições podem ser feitas de 16 a 30 de agosto de 2022, neste site.

Confira:

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CoronaVac tem efetividade moderada contra casos graves em crianças, sugere estudo

Publicado na revista Nature Communications, um estudo do projeto VigiVac do CIDACS/ Fiocruz Bahia analisou a efetividade da vacina CoronaVac em crianças de 6 a 11 anos, durante o período de predominância da variante Ômicron do SARS-CoV-2. Os cientistas concluíram que as duas doses da vacina têm nível baixo de proteção contra infecções sintomáticas, mas possuem proteção moderada contra hospitalizações por casos graves. Clique aqui e confira o artigo completo.

Após duas semanas de aplicação da segunda dose, a CoronaVac apresentou efetividade de 39,8% contra a infecção sintomática e 59,2% de proteção contra os casos graves da Covid-19. Nenhuma morte por coronavírus foi registrada nos casos analisados.

Para a pesquisa, os cientistas analisaram dados de 197.958 pessoas, referentes ao período de 21 de janeiro a 15 de abril de 2022. Os dados foram coletados do e-SUS Notifica, o sistema nacional de vigilância de resultados da testagem para Covid-19, e do SIVEP-Gripe, sistema de informações sobre doenças respiratórias agudas.

No artigo, os pesquisadores comentam que uma publicação do Chile relatou níveis similares de proteção da vacina em crianças de 3 a 5 anos (38,2% contra infecções sintomáticas e 64,6% contra os casos graves), durante a predominância da variante Ômicron, enquanto no período de predominância da variantes Delta o nível foi de 77,8%.  

Os estudiosos reforçam a importância da vacinação do público infantil pois, apesar de serem raros os casos graves de Covid-19 em crianças, há ainda outros efeitos que a doença pode causar, como a síndrome da COVID-19 longa e síndrome inflamatória multissistêmica que podem, além do impacto na saúde, levar a prejuízos na escolarização.

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Fiocruz Bahia lança documentário sobre os cientistas Sonia e Zilton Andrade

Os mais de 40 anos de companheirismo e dedicação à ciência do casal de estudiosos Sonia Gumes Andrade e Zilton de Araújo Andrade serão homenageados no documentário produzido pelo Instituto Gonçalo Moniz (IGM/ Fiocruz Bahia). O filme “Sonia e Zilton – ciência, saúde e amor” será lançado no dia 31 de agosto, às 17h, no canal de Youtube da instituição.  

O documentário teve o apoio do edital interno de Memória Institucional da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e narra os momentos mais marcantes da vida e da produção do notório “casal Andrade”. Sonia e Zilton Andrade (1924-2020) construíram um legado de pesquisa e fizeram parte da história da Fiocruz Bahia. O objetivo é contar, através da trajetória dos dois, parte da própria história da unidade da Fiocruz no estado.  

A diretora da Fiocruz Bahia, Marilda de Souza Gonçalves, conta que o IGM, apoiado pela COC, já vem trabalhando em ações de memória institucional. “A primeira delas, que deu origem à ideia do filme, foi a confecção do acervo físico do casal Andrade, atividade que também envolve a parceria com a UFBA e o apoio e acompanhamento dos familiares dos pesquisadores. Nesta linha, o documentário busca valorizar as pessoas que fizeram a história do IGM, ao mesmo tempo que procura contar a história da instituição para outras gerações, afirmando o compromisso da Fiocruz com a saúde, com a ciência e com a sociedade”.

Casados em 1953, eles tornaram-se reconhecidos por suas pesquisas na área de Patologia, Parasitologia e Doenças Tropicais. Juntos também construíram uma família com seis filhos. Zilton foi chefe do Laboratório de Patologia Experimental (LAPEX – inicialmente “Laboratório de Esquistossomose”) desde seu começo e Sonia chefiou o Laboratório de Chagas Experimental, Autoimunidade e Imunologia Celular (LACEI, atual LAPEC), ambos núcleos da Fiocruz Bahia.

Casal Andrade

Sonia Gumes Andrade, natural de Caetité (BA), formou-se em 1953 na Faculdade de Medicina da UFBA. A doutora iniciou sua carreira explorando a área de Medicina Tropical, mas foi na pesquisa sobre a doença de Chagas que deixou sua maior contribuição. Estudou a Patologia e Imunopatologia da enfermidade, com atividades também na área de Imunologia. Integrou a Academia de Medicina da Bahia, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Comitê Científico da Organização Mundial de Saúde (OMS), e foi professora emérita da UFBA, onde coordenou o curso de pós-graduação em Patologia Humana, desde a sua criação, hoje realizado em ampla associação com a Fiocruz Bahia. 

Sua contribuição foi reconhecida com o prêmio e medalha Samuel Pessoa da Sociedade Brasileira de Patologia, em 1987; a medalha do Centenário do Instituto Oswaldo Cruz, no ano 2000; diploma de Honra ao Mérito pelos serviços prestados à saúde pública e a ciência da Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, em 2008; a medalha do Centenário da descoberta da Doença de Chagas, em 2009, e recentemente, em 2021, a medalha de Mérito Científico Carlos Chagas, da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, entre outras condecorações recebidas ao longo da vida. Em 2012, tornou-se pesquisadora emérita da Fiocruz. 

“Aprender a tirar satisfação de suas atividades diárias mantém o indivíduo ativo, e contribui para tornar uma pessoa saudável e de bem com a vida”, foi o conselho deixado por Zilton em uma entrevista sobre o segredo para se manter ativo. O professor, natural de Santo Antônio de Jesus (BA), recôncavo baiano, era pesquisador emérito da Fiocruz desde 2012. Em números, sua carreira resultou na publicação de 277 artigos científicos, na orientação de 59 alunos de mestrado e doutorado, nos mais de 50 anos de docência e 30 anos de pesquisa na Fiocruz. Tornou-se professor emérito da UFBA em 1985, onde ajudou a fundar a Residência Médica em Patologia, o Mestrado e o Doutorado em Patologia.

Zilton Andrade foi uma autoridade científica internacional em doenças infecciosas e parasitárias, com destaque para a doença de Chagas, esquistossomose e leishmaniose. Entre os seus títulos destacam-se a comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico (1995), o título de comendador da Grã-cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico da Presidência da República do Brasil (2005) e a nomeação como membro da Academia Brasileira de Ciências (2006). Recebeu ainda o Prêmio Alfred Jurzykowski da Academia Nacional de Medicina (1972) e o Prêmio Nacional de Ciência e Tecnologia do CNPq (1984). Zilton fez parte de muitas sociedades voltadas à pesquisa, entre elas a Academia de Medicina da Bahia, assim como sua esposa. 

Ficha técnica do filme 
Nome: Sonia e Zilton – ciência, saúde e amor
Duração: 63 min
Direção: Ulla Macedo
Realização: Instituto Gonçalo Moniz/Fiocruz Bahia

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I Simpósio de História da Medicina na Bahia está com inscrições abertas

O I Simpósio de História da Medicina na Bahia acontecerá na sede da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Famed/UFBA), localizada no Terreiro de Jesus, Pelourinho, no período de 02 a 05 de novembro de 2022. O evento tem como tema “A Medicina na História: as lutas e conquistas pela saúde”, abordando assuntos como escravidão e saúde no Brasil, história da loucura, história da medicina e saúde: perspectivas disciplinares e história da medicina materno-infantil. 

As inscrições podem ser realizadas no site http://www.simposiohistoriamed.ufba.br/.

A programação conta com uma conferência de abertura, mesas redondas, seminários temáticos, painéis de apresentação oral e terá como produto a publicação de um caderno de resumos, anais e um livro de coletâneas com artigos de professores conferencistas. O objetivo é proporcionar discussões teórico-metodológicas de forma interdisciplinar acerca da História da Saúde, da Medicina e da Ciência a fim de dialogar com pesquisadores de diferentes áreas, tendo em vista a urgência de explorar sobre a temática dos estudos já realizados ou em processo de construção.

O evento é uma atividade acadêmica promovida pela Faculdade de Medicina da UFBA em parceria com o curso de História da UFBA e UNEB, com o Instituto Baiano de História da Medicina, Academia de Medicina da Bahia e com a Sociedade Brasileira de História da Ciência, sendo uma extensão universitária de caráter social, cultural e educacional com vistas à abertura ao grande público e à democratização do conhecimento científico.

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Dissertação busca identificar agentes virais associados a encefalites

Autoria: Maria Paula de Souza Sampaio
Orientação: Tiago Gräf
Co-orientadora: Isadora Cristina de Siqueira
Título da dissertação: “IDENTIFICAÇÃO DE AGENTES ETIOLÓGICOS VIRAIS DE CASOS DE ENCEFALITES E OUTRAS SÍNDROMES NEUROLÓGICAS AGUDAS”.
Programa: Pós-Graduação em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa
Data de defesa: 29/08/2022
Horário: 14h00
Local: Sala virtual do Zoom
ID da reunião: 828 6232 9488
Senha de acesso: 071184

Resumo

INTRODUÇÃO: A encefalite é uma síndrome neurológica grave. O termo se refere a um processo inflamatório no parênquima cerebral que pode estar relacionado à autoimunidade ou outras etiologias, mas geralmente é devido a uma infecção, especialmente por agentes virais. Dentre os vírus causadores de encefalites, a família Herpesviridae é a causa mais comum, seguido pelos enterovírus. Os vírus transmitidos por artrópodes (arbovírus) são o terceiro e mais diverso grupo de patógenos com uma importante associação epidemiológica com as encefalites. No Brasil, pouco se conhece a respeito dos agentes causadores de encefalites e outras síndromes neurológicas agudas. Isso se deve, em parte, à grande dificuldade de se identificar os agentes etiológicos desta doença, devido à dificuldade de acesso ao sistema nervoso central e à baixa viremia nesse compartimento corporal. OBJETIVO: Neste trabalho pretende-se identificar os agentes virais associados a casos de encefalites através de diversos métodos laboratoriais. MATERIAIS E MÉTODOS: Amostras de soro e líquor de pacientes com suspeitas de encefalites virais foram recebidas e processadas. Técnicas de diagnóstico molecular (PCR convencional e Real-Time PCR) e sorológico foram realizadas para a detecção dos vírus mais comumente associados à doença, para a detecção dos vírus chikungunya (CHIKV), dengue e Zika e para a detecção de forma genérica de flavivírus e alfavírus. RESULTADOS: Até o presente momento foram incluídos 43 pacientes
internados nos hospitais participantes. Dentre as comorbidades apresentadas pelos pacientes, hipertensão arterial sistêmica foi a mais frequente. Antes dos sintomas neurológicos, 32,5% dos indivíduos referiram a presença de sintomas de infecção viral. Os sintomas virais mais frequentes que antecederam os sintomas neurológicos foram febre (71,4%) e artralgia (50%). Os principais sintomas neurológicos na admissão hospitalar foram confusão mental (32,5%) e sonolência (30,2%). Todos os exames do líquor foram considerados alterados e com aumento de celularidade. Nove pacientes (20,9%) testaram positivo na sorologia anti vírus chikungunya (CHIKV) IgM. Através do qPCR Multiplex foi detectado CHIKV em duas amostras de soro e em uma amostra de líquor e todas as amostras tiveram resultado negativo para os vírus Zika e dengue. Na sorologia IgM anti-DENV houve um resultado positivo (3%) e na pesquisa do antígeno NS1 DENV obtivemos dois resultados positivos (6%). O qPCR Neuro 9 detectou três resultados positivos para o vírus Epstein-Barr (7,5%), dois para o adenovírus humano (5%), um para enterovírus (2,5%) e um para o vírus varicela-zoster (2,5%). CONCLUSÕES: Estes resultados sugerem um importante papel do CHIKV como eventual causador de encefalites e contribuem com novas informações sobre a epidemiologia de encefalites no Brasil.

Palavras-Chave: encefalites virais, herpesvírus, enterovírus, arbovírus, diagnóstico molecular

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Academia de Ciências da Bahia lança documento para candidatos ao governo do estado

Com o objetivo de iniciar o diálogo com todos os candidatos ao cargo de governador da Bahia e de pautar temas vitais para a população baiana, a Academia de Ciências da Bahia (ACB) lançou, na manhã desta quarta-feira (10/8), o documento “Ciência, Tecnologia e Inovação para o desenvolvimento da Bahia”. Com a presença de membros da ACB, professores e pesquisadores, o documento foi divulgado em evento híbrido, no auditório principal da Fiocruz Bahia. 

Participaram da mesa de abertura a diretora da Fiocruz Bahia, Marilda de Souza Gonçalves, o presidente da ACB, Jailson Bittencourt, o vice-presidente da ACB, Manoel Barral-Netto, e o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação da Bahia, André Joazeiro.

O documento estabelece cinco pontos fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico do estado e da população: assegurar um meio ambiente saudável e produtivo; estimular o desenvolvimento socioeconômico e cultural dos baianos; utilizar, de forma sustentável, os recursos naturais do estado; proteger os baianos dos grandes riscos à saúde; e água e alimentação saudáveis para todos. A partir desse trabalho, busca-se também destacar o papel das ciências e tecnologias no avanço e resolução das questões elencadas.  

O presidente da ACB e vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências, Jailson Bittencourt de Andrade, explica a escolha de lançar o documento nesta época. “Neste momento eleitoral, a Academia se movimentou para mostrar aos candidatos de todos os partidos como nós vemos o sistema de ciências e tecnologias”, conta o pesquisador. Ele explica ainda que esta não é a primeira aproximação feita pela ACB com os órgãos públicos.  

“São várias questões que vêm sendo trabalhadas há tempos. Um assunto é abordado em um governo, outro governo aborda outro, mas o nosso sistema é interconectado. Se você alimenta alguém, mas ele não tem água, ele vai definhar”, assegura o dirigente.  “No caso da Academia, ela está sempre disposta a interagir e ajudar, mas não a participar de nenhum dos governos”.  

Manoel Barral-Netto reforçou a visão interdisciplinar proposta. “Cada vez mais, nós temos que reconhecer que as áreas não são isoladas. Essa interligação, que fica cada vez mais evidente, exige que não tenhamos uma visão estrita”. Para o pesquisador, a novidade está em pautar a produção científica como um caminho para o desenvolvimento. “A nossa aspiração é que ciência e tecnologia tenham uma política de estado e impacto na vida dos baianos”, defende. 

Marilda Gonçalves mencionou, dentre diversos pontos, a importância das discussões sobre acesso à água, os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, insegurança alimentar e do complexo industrial da saúde. “Temos que ter um olhar atento para a população, para as cooperativas, para os serviços que estão sendo feitos e a ciência tem que ser introduzida nesses aspectos”.

O trabalho enviado aos candidatos é uma síntese de estudos feitos pela instituição há pelo menos três anos, em parceria com diferentes pesquisadores e profissionais. O texto destaca ainda algumas condições necessárias para enfrentamento dos desafios apresentados, como: letramento em matemática e ciências com educação continuada dos professores e profissionais; reativação e modernização do Museu de Ciência e Tecnologia Professor Roberto Santos; sustentabilidade com autonomia financeira e operacional da FAPESB. 

Clique aqui e acesse o documento na íntegra.

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Inscrições abertas para 2ª edição do SciNext

A segunda edição do “SciNext: Nova geração de cientistas” prorrogou as inscrições até 05 de setembro, que podem ser feitas neste link. O evento, composto de palestras online, acontece no dia 10 de setembro de 2022, pelo Zoom. O público alvo é de discentes do ensino médio, graduação, pós-graduandos e interessados no tema, da Fiocruz e Instituições de Ensino Superior.

O SciNext é resultado da parceria entre Grupo Mulheres do Brasil- núcleo Vale do Silício e Fiocruz Bahia. O evento tem por objetivo discutir sobre a valorização do cientista, estratégias e oportunidades de carreira científica nacional e internacional. As palestras e mesas redondas serão ministradas por pesquisadoras convidadas, cientistas da Fiocruz Bahia e brasileiras que exercem cargos científicos nos Estados Unidos em diversas áreas. Na programação, também estão previstas oficinas e atividade prática interativa de posturas, respiração e concentração.

Confira a programação completa e outras informações no site do evento https://bit.ly/3p3dqxc.

Confira as palestrantes convidadas:

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Vacina da Pfizer apresenta alta proteção contra casos graves em adolescentes

Uma pesquisa, realizada por meio de parceria entre pesquisadores da Fiocruz Bahia e da Universidade de Edimburgo (UK), analisou a efetividade das vacinas da Pfizer contra Covid-19 em adolescentes de 12 a 17 anos, que receberam as duas doses do principal imunizante licenciado para essa faixa etária. Os resultados do trabalho, o primeiro estudo multinacional a avaliar os resultados desta vacina contra as formas graves da doença, foram publicados, nesta segunda-feira (8/8), na revista The Lancet Infectious Diseases (clique aqui para acessar).

Para a investigação, os pesquisadores coletaram informações sobre RT-PCR, testes de antígenos, vacinas, dados de hospitalizações e óbitos do DATASUS – departamento de Informática de Dados em Saúde do Ministério da Saúde do Brasil, no período de 2 de setembro de 2021 a 19 de abril de 2022, e do Early Pandemic Evaluation and Enhanced Surveillance (EAVE II) – banco de dados sobre a Covid-19 da Escócia, entre 6 de agosto de 2021 a 19 de abril de 2022. No total, foram analisados 503.776 testes do Brasil e 127.168 da Escócia.

O estudo apontou que, mesmo após 98 dias de aplicação da segunda dose, a eficácia da Pfizer contra a forma grave da doença, no Brasil, permaneceu em um nível alto, acima de 80%. Na Escócia não foi possível realizar esta análise, devido ao número baixo de casos graves no país. Em ambos os países, foi constatada que a eficácia da vacina contra a infecção sintomática da doença atingiu o pico entre 14 e 27 dias após a segunda dose no período de ambas as variantes. Depois de 98 dias, a efetividade no período Ômicron caiu para 50,6% na Escócia e 5,9% no Brasil.

A pesquisa também demonstrou que a efetividade do imunizante oscila a depender da variante predominante. O grau de proteção durante o período de maior transmissão da Delta foi mais elevado (80,7% no Brasil e 92,8% na Escócia), que a proteção apresentada durante a alta da Ômicron (64,7% no Brasil e 82,6% na Escócia). Isto sugere que a imunização apresenta melhores resultados a depender da variante em circulação.

Para os cientistas, a diferença nos resultados pode estar relacionada a diferentes componentes da resposta imune, como os anticorpos ou as células T, assim como diferenças na circulação do vírus nos dois países. No entanto, eles reforçam que os resultados sugerem que duas doses da vacina não são suficientes para impedir a circulação do vírus SARS-CoV-2.

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Inscrições abertas para eventos sobre medicina personalizada

O EULAC PerMed, projeto que visa melhorar a colaboração entre os países da América Latina e do Caribe com a Europa no campo da medicina personalizada, do qual a Fiocruz faz parte, está promovendo dois eventos, que acontecem de forma híbrida na Cidade do Panamá, no Panamá. O processo seletivo e os eventos serão realizados em inglês

Nos dias 15 e 16 de novembro, acontece a Fourth EULAC PerMed Summer School: “Clinical studies on Personalised Medicine. As inscrições encerram no dia 1º de setembro. 

Em 17 e 18 de novembro, será realizado o EULAC PerMed Technical Workshop in Panama: “Clinical trials in Personalised Medicine’. Inscrições até 05 de setembro. 

Ambos os eventos incentivam participantes da América Latina e do Caribe, mediante processo seletivo. Para mais informações sobre o projeto acesse https://www.eulac-permed.eu/.

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Tese investiga indicadores de morbidade, mortalidade e prognóstico da doença falciforme

Autoria: Rodrigo Mota de Oliveira
Orientação: Marilda de Souza Gonçalves
Título da dissertação: “Caracterização epidemiológica e biomarcadores de prognóstico da doença falciforme nos territórios de identidade do Estado da Bahia”.
Programa: Pós-Graduação em Patologia Humana
Data de defesa: 30/08/2022
Horário: 14h00
Local: Sala virtual do Zoom

ID da reunião: 879 2941 0792
Senha de acesso: defesa

Resumo

INTRODUÇÃO: a doença falciforme (DF) é uma doença genética, caracterizada pela presença da hemoglobina variante S (HbS) associada a outra hemoglobina variante ou talassemia. A etiologia da DF decorre da mutação de ponto no sexto códon do gene da globina β, com substituição do ácido glutâmico pela valina na cadeia polipeptídica. A forma mais grave da DF é a anemia falciforme (AF), caracterizada pela presença em homozigose do aleno beta S, dando origem ao genótipo HbSS. As complicações da DF variam em gravidade e podem ser classificadas como agudas ou crônicas. A etiologia das hemoglobinas variantes HbS e HbC é de origem africana e está associada ao período da invasão europeia em território brasileiro, o que pode explicar o motivo de a DF apresentar prevalência elevada em indivíduos afrodescendentes. O presente estudo tem como objetivo principal investigar indicadores de morbidade, de mortalidade e de prognóstico associados a DF no estado da Bahia. MÉTODOS: foram realizados estudos envolvendo 178 indivíduos com DF entre 6 e 54 anos de idade em tratamento em um centro de referência na cidade de Salvador, Bahia. O estudo abrangeu o período de 2006 a 2017. As informações referentes às manifestações clínicas, o uso de medicamentos, os dados laboratorias, os dados socioeconômicos e sociodemográficos foram obtidas através da consulta aos prontuários clínicos dos pacientes estudados. RESULTADOS: o primeiro manuscrito teve a casuística de 177 indivíduos com DF, sendo 129 com o genótipo HbSS e 48 com o genótipo HbSC. Esse estudo teve como objetivo descrever a frequência da população com DF nos territórios de identidade (TI) do estado da Bahia. Os resultados mostraram que os indivíduos eram oriundos de 23 TI. A maior prevalência da DF foi encontrada na TI da Região Metropolitana de Salvador (RMS), seguida pelas TIs do Recôncavo da Bahia e Portal do Sertão. Esses dados reforçam a presença histórica de africanos escravizados na Bahia. O segundo manuscrito teve a casuística de 178 indivíduos com DF analisados em um estudo de seguimento retrospectivo entre os anos de 2006 e 2017. O objetivo desse manuscrito foi descrever as principais manifestações clínicas presentes na população estudada. Observamos que o evento vaso-oclusivo/crise de dor foram as manifestações clínicas mais frequentes e o infarto medular, a menos frequente. Assim, pudemos caracterizar a população de DF atendida nesse centro de referência. O terceiro manuscrito foi resultado de uma coorte retrospectiva envolvendo a casuística de 99 pacientes com DF em tratamento com o medicamanto hidroxiureia (HU). Nesse estudo, analisamos as manifestações clínicas e laboratoriais dos pacientes com DF antes e durante o uso de HU e percebemos que a HU foi capaz de reduzir as manifestações clínicas da população analisada, bem como melhorar seus parâmetros laboratoriais. CONCLUSÕES: a partir dos resultados obtidos, observou-se que as manifestações clínicas que atingem indivíduos com DF continuam contribuindo para a prevalência elevada de morbidade e mortalidade, principalmente na população mais vulnerável economicamente. Acrescenta-se ainda que os dados apresentados nesse trabalho mostram a presença marcante dos descendentes de africanos escravizados no Brasil. Nossos dados também confirmam a persistência das desigualdades sociais e econômicas que afetam esses indivíduos ao longo do desenvolvimento do Brasil, bem como esclarece que o tratamento farmacológico de pacientes HbSS e HbSC com HU continua apresentando benefícios clínicos e aboratoriais significativos a longo prazo.

Palavras-chave: doença falciforme; morbidade; mortalidade; afrodescedência; território de identidade cultural; hidroxiureia; manifestações clínicas.

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Pessoas com pré-diabetes têm mais chance de ter Covid-19 grave, aponta estudo

Pesquisadores da Fiocruz Bahia analisaram biomarcadores sanguíneos para entender as causas do agravamento da Covid-19 em pacientes com a pré-diabetes mellitus. Foi percebida uma associação entre os níveis da citocina interleucina-6 (IL-6) e o desenvolvimento de casos graves da doença. Também se constatou que os pacientes não apresentam grandes sequelas após três meses de recuperação. O estudo, liderado pelas pesquisadoras Natália Machado e Viviane Boaventura, foi publicado na revista Frontiers in Endocrinology. 

A pesquisa comparou os biomarcadores sanguíneos de pacientes com pré-diabetes e pacientes sem pré-diabetes durante a fase mais grave da infecção e três meses após a hospitalização. Foi notado que pacientes pré-diabéticos necessitaram de maior tempo de hospitalização, com uma média de 15 dias comparada a média de 8 dias dos pacientes sem pré-diabetes. Indivíduos pré-diabéticos que requeriram cuidados intensivos chegaram a 78% dos casos, em comparação com 56% dos pacientes sem pré-diabetes que necessitaram dos mesmos cuidados. Além disso, pré-diabéticos também apresentaram maior grau de lesão pulmonar.

Foi encontrada uma relação entre esses casos mais graves e os níveis de IL-6. Esse fator, associado com a redução da oxigenação no sangue, achava-se elevado em 63% dos quadros de pré-diabetes, mas não haviam grandes alterações em outros biomarcadores, como o TNF – Alfa e o Leucotrieno B4. Através desta observação, os pesquisadores entenderam que altos níveis de IL-6 podem ser um fator relevante para o agravamento da Covid-19.

Também foi investigado os impactos da doença em pacientes pré-diabéticos após três meses. Através do exame do nível de qualidade de vida e de sintomas residuais, não foram constatadas diferenças significativas nos parâmetros laboratoriais no período de três meses após a fase aguda da doença, nem grandes mudanças nos sintomas residuais entre pacientes com e sem pré-diabetes.

O mesmo grupo de trabalho já produziu outra pesquisa, analisando a interação do Leucotrieno B4 no agravo de casos de Covid-19 em pessoas com diabetes.

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Pesquisadores estudam casos de síndromes de Guillain-Barré e Miller Fisher em surto de arbovirose

Pesquisadores realizaram um estudo de casos de síndrome de Guillain-Barré e síndrome de Miller Fisher (que atingem o sistema nervoso) durante o surto de arbovirose em Salvador, no período de maio de 2015 a abril de 2016, em dois hospitais gerais de referência. Para a análise, foram coletados dados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais, e realizados exames de eletromiografia e estudos de condução nervosa. A pesquisa contribui para o conhecimento sobre a apresentação clínica das síndromes e seus subtipos, associadas a arbovírus.

Os resultados do trabalho, coordenado pela pesquisadora da Fiocruz Bahia, Isadora Siqueira, foram descritos em artigo publicado no periódico Frontiers in Medicine. Dos 14 pacientes avaliados, 10 foram diagnosticados com síndrome de Guillain-Barré, sendo dois casos de um subtipo que apresenta fraqueza bifacial e de um subtipo com paralisia parcial dos membros inferiores. Quatro participantes tinham síndrome de Miller Fisher, sendo um caso clássico e outros três com subtipo que atinge a coordenação motora.

Do total, 11 foram diagnosticados com arbovírus: oito com zika, três com chikungunya, um com dengue e um com co-infecção por dengue e chikungunya. A maioria dos participantes relatou sintomas característicos de infecção viral antes do início dos sintomas neurológicos, como erupção cutânea, dores nas articulações, prurido, dor de cabeça, febre e sensação de formigamento.

Cerca de 70% dos pacientes com síndrome de Guillain-Barré apresentam gravidade clínica. Dez pacientes precisaram de internação em unidade de terapia intensiva, mas nenhum necessitou de suporte ventilatório mecânico ou foi a óbito. O tempo médio de permanência hospitalar foi de 11 dias para pacientes com síndrome de Guillain-Barré e 12 dias para os com síndrome de Miller Fisher. Todos apresentaram uma recuperação dentro dos 30 dias após a alta.

Os autores do estudo afirmam que mais estudos precisam ser realizados para definir se existem peculiaridades clínicas da síndrome de Guillain-Barré associada a arbovírus. Os pesquisadores alertam para a necessidade de reconhecer estas síndromes e seus subtipos, para o tratamento imediato e cuidados aos pacientes, prevenindo sequelas a longo prazo e óbitos, além da importância de realizar o diagnóstico de arboviroses em pacientes com as síndromes de Guillain-Barré e Miller Fisher e seus subtipos.

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Pesquisa avalia risco de anemia em pacientes com HIV e tuberculose

Observando o risco de portadores do HIV desenvolverem tuberculose e anemia, cientistas da Fiocruz Bahia, coordenados pelo pesquisador Bruno de Bezerril Andrade, analisaram dados de 159 pacientes vivendo com HIV, do México e da África do Sul. Os pesquisadores obtiveram o perfil inflamatório desses pacientes através do estudo dos marcadores sanguíneos de inflamação antes da terapia com os antirretrovirais. A pesquisa, publicada no periódico Frontieres in Immunology, em artigo que tem como primeira autora Mariana Araújo, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Patologia (PgPAT – UFBA/ Fiocruz Bahia), investigou o grau de perturbação inflamatória (Degree of Inflammatory Perturbation, ou DIP na sigla em inglês) em pacientes com e sem tuberculose, com e sem anemia.

Os resultados apontaram que há relação entre a concentração mais baixa de hemoglobina no sangue e perturbações inflamatórias. Mesmo sem a tuberculose, pessoas com HIV ainda apresentam altos níveis no Grau de Perturbação Inflamatória . Em ambos os grupos, pacientes anêmicos apresentam maior DIP que os não anêmicos.

A perturbação inflamatória dos participantes do estudo foi caracterizada por alterações nos marcadores Interferon-gama (IFN-g) e TNF (Fator de Necrose Tumoral). Foi constatado que o DIP dos pacientes está associado com a ocorrência de anemia e a co-infecção por tuberculose. Além disso, apesar de se ter observado uma maior presença da tuberculose entre pacientes da África do Sul comparados aos do México, não se encontrou nenhuma diferença significativa entre ambos os grupos quanto à incidência de anemia.

Pessoas com tuberculose possuíam níveis menores de hemoglobina, demonstrando que apresentavam anemia em maior frequência. No grupo das pessoas com a doença, 80% apresentaram anemia, enquanto entre aqueles sem tuberculose, 65% apresentaram anemia. Os pesquisadores reforçam ainda que pessoas infectadas com tuberculose e HIV que apresentam anemia também estão sujeitas a maior risco de morte e diminuição da qualidade de vida.

Segundo um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) mencionado no estudo, em 2019, aproximadamente 10 milhões de pessoas foram diagnosticadas com tuberculose. Desses pacientes, 8% estavam também infectados com o HIV.

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Estudo analisa relação entre disglicemia e HIV em pessoas com tuberculose

Uma pesquisa foi realizada para avaliar a prevalência e perfil clínico de disglicemia e infecção por HIV em pessoas com tuberculose pulmonar no Brasil. O trabalho, liderado pelo pesquisador da Fiocruz Bahia, Bruno de Bezerril Andrade, analisou a  associação da presença do vírus com a os níveis de disglicemia (pré-diabetes e diabetes) presente em casos da tuberculose no país. O estudo foi publicado na revista Frontiers in Medicine, em artigo que tem como primeira autora a doutouranda María Arriaga, do Programa de Pós-graduação em Patologia (PgPAT – UFBA/Fiocruz Bahia).

A disglicemia foi considerada, no estudo, como um espectro de disfunções metabólicas relacionadas ao nível de glicose, que pode ter origem em doenças como diabetes ou pré-diabetes. A pesquisa foi realizada a partir de dados do consórcio de pesquisa em tuberculose RePORT – Brazil e do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan), referentes ao período entre 2015 a 2019.

Os resultados apontaram uma alta prevalência de diabetes em pessoas com tuberculose, independente da infecção  por HIV. Já a presença do HIV não representou um impacto no nível glicêmico dos pacientes.

Os dados do RePORT apontaram para a presença de 23,7% de pacientes com tuberculose que também possuíam diabetes e de 37,8% com pré-diabetes. Pacientes com comorbidade tripla (HIV, disglicemia e tuberculose) representaram 21,4% da amostra. Já nos dados obtidos a partir do SINAN, apenas 9,2% dos pacientes com tuberculose apresentaram diabetes. Entre aqueles que possuíam diabetes, a tuberculose e o HIV estavam presentes em 4,1%. Importante frisar que, no caso do SINAN, o diagnóstico de diabetes é reportado pelos próprios pacientes.

A análise também se centrou nos hábitos dos pacientes. Em ambos os bancos de dados, o grupo de pessoas com as três comorbidades também apresentaram uma frequência alta de uso do tabaco (no RePORT 64,3%, e no SINAN 27,9%) e consumo de álcool (no RePORT 94,6% e SINAN 28,4%). Além disso, também se buscou relacionar o quadro clínico dos pacientes com o uso de drogas ilícitas. O centro RePORT mostrou uma tendência entre este uso e a presença da pré-diabetes, enquanto o consumo de álcool e o hábito de fumar estavam mais associados com a diabetes.

A associação entre tuberculose e diabetes teve como apresentação clínica a maior carga bacilar no escarro e o retardamento do processo de depuração de bactérias, quando comparado aos pacientes com nível glicêmico normal.

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Presença de alunas indígenas marca evento do Meninas Baianas na Ciência

O projeto Meninas Baianas na Ciência, da Fiocruz Bahia, iniciou mais uma ação, com o apoio da Secretaria de Educação do Estado da Bahia e o financiamento da 2ª chamada Garotas STEM, do British Council e Fundação Carlos Chagas. A iniciativa organizada pelas pesquisadoras Isadora Siqueira, Karine Damasceno e Natália Machado, recebeu, na terça-feira (26), a visita de estudantes baianas de nove colégios estaduais da rede pública.

A programação contou com as palestras da diretora da Fiocruz Bahia, Marilda de Souza Gonçalves, e de Zélia Profeta, coordenadora de Estratégias de Integração Regional e Nacional da Presidência da Fiocruz, seguidas de debates com as estudantes. O projeto busca despertar o interesse das estudantes baianas da rede pública para a área científica, com uma série de apresentações com participação das pesquisadoras da Fiocruz Bahia. A iniciativa irá promover um evento todo mês, até novembro, para que as alunas conheçam o trabalho da instituição.

A mesa de abertura foi composta por Marilda Gonçalves; o vice-diretor de Pesquisa da Fiocruz Bahia, Ricardo Riccio; a vice-diretora de Ensino e Informação, Claudia Brodskyn; e a representante da Secretaria Educação da Bahia, Andreia Santana. “É importante que a gente tenha mais projetos com essa temática, de forma a incentivarmos que as meninas façam parte desse universo, um universo que é grande”, afirmou Marilda. A diretora agradeceu a participação das estudantes, assim como o apoio que tornou possível o projeto. “Espero que possamos influenciar a formação dessas meninas na ciência”.

Para Claudia Brodskyn, é necessário aplaudir iniciativas como esta. “A gente tem alcançado um nível de envolvimento das meninas muito grande. Isso nos anima a continuar mostrando para elas o que é a ciência hoje, o que a gente faz aqui, para que essa geração também sinta o prazer que a gente sente em fazer ciência”.

Ricardo Riccio salientou que projetos como o Meninas Baianas na Ciência podem e devem mudar o cenário predominantemente masculino da ciência. “É fundamental que a gente tenha olhares diversos na ciência, para que possamos responder aos desafios e perguntas de forma que possa envolver a todos”. O pesquisador destacou que as portas da instituição estão abertas para todas as alunas.

Também presente na abertura, Deborah Bittencourt, coordenadora da Pós-Graduação de Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa (PGBSMI), afirmou ter a expectativa de ver algumas das presentes na pós-graduação. “A gente espera que algumas participem das feiras de ciência”, convidou a professora. Juliana Perrone, vice-coordenadora da Pós-Graduação em Patologia Humana e Experimental (PGPAT), também reforçou o desejo de ver novas colegas na área e apresentou os programas da Fiocruz.

Inclusão

Um dos objetivos do trabalho é ampliar a representatividade das meninas alcançadas pelo projeto. Para isso, a comissão organizadora do Meninas Baianas na Ciência recebeu a visita de jovens indígenas da nação Pataxó, estudantes do Colégio Indígena da Coroa Vermelha, da aldeia da Coroa Vermelha, localizada em Santa Cruz Cabrália, no sul da Bahia. Acompanhadas da professora Siuane de Oliveira Lima, Maria Eduarda Guedes e Rauane Andrade, de 16 e 15 anos respectivamente, visitaram as instalações da Fiocruz Bahia antes das palestras.

“Espero sair daqui com novos aprendizados e que possa continuar nesse caminho da ciência”, afirmou Maria Eduarda, que deseja ser médica. Rauane sonha em se tornar advogada, mas não estava menos interessada na visita e nas oportunidades que se apresentaram. “Quis aprender mais e passar para o meu povo também. Porque, eu, vindo aqui e aprendendo, posso voltar para lá e mostrar para eles, para que eles também possam ter interesse e queiram também aprender”, contou.

“A ciência que nós fazemos é para a população. As comunidades tradicionais merecem todo o nosso respeito e admiração. Estamos aqui porque elas vieram antes de nós. Acho muito importante essa aliança do presente com o passado, que eles representam, e auxiliar para que também façam parte do nosso futuro”, declarou Marilda Gonçalves.

As escolas que participaram do evento foram Colégio Estadual Deputado Rogerio Rego; Colégio Estadual Heitor Villa Lobos; Colégio Estadual Mãe Stella; Colégio Estadual Cosme de Farias; Colégio da Polícia Militar – Unidade I/Dendezeiros; Colégio Estadual Eduardo Bahiana; Colégio Estadual da Bahia Central; e Escola Estadual Deputado Naomar Alcântara, além do Colégio Indígena da Coroa Vermelha.

Palestras

Zélia Profeta iniciou citando a missão da Fiocruz e a busca por equidade de gênero na instituição, que teve ênfase em 2017, com a eleição de Nísia Trindade para a presidência, que culminou em um manifesto das trabalhadoras da instituição. “Colocamos o nosso papel como mulheres cientistas de pensar um outro modelo de desenvolvimento, um modelo que fosse mais inclusivo, que pensasse o Sistema Único de Saúde de forma que ele fosse mais universal e equânime, que trabalhássemos para o fortalecimento de políticas”, compartilhou.

Dentro das ações da Fiocruz, ela também destacou o “Programa Meninas e Mulheres na Ciência”, lançado em 2019, com atividade em todas as unidades. Atualmente 56% da força de trabalho da instituição são mulheres, mas, apesar das iniciativas, a proporção delas em cargos estratégicos flutua em torno dos 30%. “Apresentar esses desafios, não é para desanimar ninguém. Eu acho que a gente tem que atuar em programas e projetos como esse que estamos desenvolvendo, agarrar essas oportunidades e também atuar na discussão com outros grupos para eliminar a desigualdade”, declarou.

Marilda Gonçalves relatou que a abordagem de gênero e raça dentro da instituição foi desenvolvida em consonância com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 5 para Agenda 2030, da Organização Mundial de Saúde (OMS). “Somente reforçando, os homens ainda são 70% dos pesquisadores em todo o mundo. Nós precisamos realmente mudar esse quadro”, comentou. “Quanto mais estivermos abertos a falar sobre as desigualdades, mais se materializa a necessidade de reduzi-la”, finalizou a diretora.

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Encontro marca retorno presencial do Papo Acadêmico 

A Vice-Diretoria de Ensino e Informação da Fiocruz Bahia promoveu, no dia 22 de julho, o primeiro Papo Acadêmico em formato presencial, após um ano e meio sendo realizado em modelo remoto devido à pandemia de Covid-19. O encontro reuniu estudantes dos programas de pós-graduação, Programa Institucional de Iniciação Científica (PROIIC) e Programa de Formação Técnica em Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (Profortec-Saúde), para planejamento das atividades presenciais para o segundo semestre. 

O evento abordou o curso que será oferecido de técnicas de teatro para apresentações acadêmicas, as atividades de divulgação científica em eventos da Fiocruz, o e-book que será publicado de Didática Especial, disciplinas compartilhadas, o plantão de acolhimento psicológico – PsiU, em parceria com a UFBA, dentre outros temas. Na ocasião, também foram doados aos participantes livros da área de saúde publicados pela Editora Fiocruz, através da iniciativa Fiocruz Acolhe com Livros.

“Queríamos que os alunos se sentissem acolhidos e se manifestassem sobre os diversos assuntos. Já estamos programando o próximo Papo Acadêmico para dar continuidade a essa ação, para que os estudantes se sintam bem no ambiente onde estão”, afirmou Claudia Brodskyn, vice-diretora de Ensino e Informação da Fiocruz Bahia. 

A estudante do Programa de Pós-Graduação em Patologia (UFBA/Fiocruz Bahia), Thaline Sousa, achou o encontro importante e acolhedor. “Foi uma oportunidade de ouvir e entender as novas propostas para o semestre e um espaço para que nós, alunos, manifestássemos nossas opiniões sobre diversos tópicos”. Para a doutoranda do PGPAT, Camila Andrade, o papo acadêmico é uma das iniciativas mais importantes para os alunos de pós-graduação, “principalmente pelo acolhimento e oportunidade de escuta das nossas demandas. Durante a pandemia este momento foi um pouco prejudicado, como diversas situações do antigo normal”.

Já Yasmin Macedo, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa (PGBSMI), comentou que o papo acadêmico serve como uma via de conexão fundamental entre os pós-graduandos e a coordenação dos cursos. “É um momento para aprimorar os cursos vigentes, esclarecer dúvidas e ofertar sugestões para que novos estudantes possam obter o melhor das vivências acadêmicas”. Romero Nazaré, representante discente e doutorando do PGBSMI, espera por mais momentos como este. “Os estudantes puderam esclarecer dúvidas, anseios, tocar experiências, além de ter um momento de conversa aberta com os coordenadores dos cursos e outros profissionais”, declarou.

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Dissertação avalia uso da fotobiomodulação em câncer de cabeça e pescoço

Autoria: Larissa Matos Almeida Moura
Orientação: Marcus Fernando da Silva Praxedes
Título da dissertação: USO DA FOTOBIOMODULAÇÃO EM PACIENTES COM CÂNCER DE CABEÇA E PESCOÇO TRATADOS EM UM SERVIÇO DE ONCOLOGIA NO BRASIL
Programa: Pós-Graduação em Pesquisa Clínica e Translacional
Data de defesa: 29/07/2022
Horário: 09h00
Local: Sala virtual do Zoom

ID da reunião: 830 9324 8343
Senha de acesso: defesa

Resumo

Introdução: O câncer de cabeça e pescoço (CCP) é a sétima neoplasia mais comum no mundo, sendo responsável por cerca de 800.000 novos casos e 270.000 mortes anualmente. O tratamento com Quimiorradioterapia (QRT), especialmente a com uso de platina em altas doses, é frequentemente utilizado nos pacientes com doença localmente avançada e está associado a um ganho significativo de sobrevida e maior controle de doença. Porém, esse tratamento ocasiona uma elevada toxicidade. A mucosite oral (MO) é um evento adverso frequente e potencialmente grave associado ao tratamento com QRT, sendo caracterizada lesões na mucosa oral, associado a dor local intensa e dificuldade de deglutição, que costuma progredir para um quadro de desidratação e perda ponderal importante. Esse evento adverso pode gerar uma necessidade de interrupção, temporária ou definitiva, da terapia e, nos casos mais severos, internamento hospitalar, aumentando o custo global do tratamento. Até o momento, existem poucas terapias eficazes para MO induzida por QRT, com destaque para a fotobiomodulação, que é considerada uma das terapias mais efetivas para a prevenção e tratamento deste evento adverso. Objetivo: Avaliar o uso da FBM profilática e sua relação na perda ponderal e no desenvolvimento da mucosite oral em pacientes com CCP que receberam tratamento oncológico com QRT em um serviço privado de oncologia no Brasil. Métodos: Estudo de coorte retrospectiva, que incluiu pacientes com CCP submetidos a tratamento com radioterapia em concomitância com terapia sistêmica. Os pacientes foram divididos em dois grupos: 1) pacientes que receberam tratamento com FMB e 2) pacientes que não receberam FMB. Resultados: 30 pacientes foram incluídos no estudo, 15 em cada grupo, com média de idade de 62 anos no grupo PBM e 63,2 anos no grupo controle. A maioria dos pacientes era do sexo masculino, com doença localmente avançada (estadiamento III ou IV), submetidos a tratamento com intenção radical com radioterapia concomitante a cisplatina em alta dose (100 mg/m² a cada 3 semanas). O uso de FBM apresentou efeito protetor em relação ao desenvolvimento de MO graus 3 ou 4 [Odds Ratio 0,22 (0.04-1.11)], independentemente do tamanho do tumor (p= 0.5508) e do acometimento linfonodal (p= 0.3564). A intensidade de perda ponderal foi mais acentuada no grupo controle, com uma redução no risco de perda ponderal maior que 5%, porém essa diferença não apresentou significância estatística. Conclusão: O uso da FBM profilática mostrou relação com menor risco de perda de peso e efeito protetor no desenvolvimento de MO grave na população deste estudo, embora a diferença entre os dois grupos não tenha sido estatisticamente significante. Esses resultados podem ter impacto direto na qualidade de vida do paciente, além de possibilitar maior adesão ao tratamento, menor número de internações e, consequentemente, redução dos custos globais do tratamento. Estudos adicionais com uma amostra maior e melhor controle de possíveis fatores de confusão são justificados. Espera-se que esses resultados sejam levados em consideração pelos gestores locais a fim de reforçar o benefício do uso profilático da FBM.

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Fiocruz Bahia participa de fórum internacional de tecnologia e inovação social

Nos dias 19 a 21 de julho, o I Fórum Internacional de Tecnologia e Inovação Social para as Pessoas e o Planeta, que aconteceu em Salvador, contou com a participação da Fiocruz Bahia. O evento teve como objetivo debater, principalmente, tecnologia e inovação social no âmbito das iniciativas da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (ODS). A organização é da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030 (EFA 2030), do Atlantic International Research Centre (Air Centre), da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura no Brasil (FAO Brasil), com patrocínio da Fundação de Apoio à Fiocruz (Fiotec). O encontro reuniu cerca de 300 pessoas presencialmente e 500 online.

A abertura do evento contou com a apresentação musical do Quinteto de Cordas da Orquestra Sinfônica Juvenil (Neojiba), seguida da mesa composta representantes das instituições organizadoras e parceiras. A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, falou sobre esperança em perspectivas diversas, a partir da academia, de movimentos sociais, da sociedade civil. “Falamos na mesa de pobreza, fome, desigualdades, mudanças climáticas, guerra, falamos sobretudo de cenários de insegurança frente ao alcance dos ODS e incertezas. Mas ao mesmo tempo falamos de resiliência, aliança para construção de agenda positiva em torno dos ODS, sustentabilidade, diplomacia da ciência e da saúde, cooperação em prol da agenda 2030, juventude, movimentos sociais, aprendizados. Falamos, portanto, de esperança”, comentou.

“Estamos reunidos aqui por um sentimento de urgência que sentimos com enfrentamento de uma crise planetária, um modelo de desenvolvimento iníquo, que se agravou com a pandemia e a guerra. Precisamos dar um salto para aquilo que nós nos colocamos como necessidade, a de construir ecologia de saberes, processos compartilhados de desenho e implementação de ações, a de inovar de maneira radical a maneira como se estabelece relação entre governos e movimentos sociais, em um nível nacional e global”, disse Paulo Gadelha, coordenador da EFA 2030 e do evento.

A diretora da Fiocruz Bahia, Marilda de Souza Gonçalves, salientou a importância do evento, que tem como um dos objetivos criar uma rede dinâmica e participativa com diferentes instituições nacionais e internacionais visando priorizar a tecnologia social e inovação como elemento fundamental para implantar a Agenda 2030 e os ODS. “As discussões foram direcionadas para o marco conceitual de tecnologia social, água, clima e segurança alimentar e nutricional, com a apresentação de iniciativas bem sucedidas, além de uma discussão fundamental sobre os principais problemas que a população global tem passado e que foram agravados com a pandemia da COVID-19, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia e a inflação, com o aumento das desigualdades sociais, principalmente da fome e da pobreza”.

Tecnologias e inovações sociais para a saúde 

No primeiro dia, Nísia Trindade ministrou a palestra intitulada “Tecnologia social, saúde e inovação: é possível falar em revolução democrática?”, moderada pela diretora da Fiocruz Bahia, Marilda Gonçalves, com comentários de Xiaolan Fu, do Centro de Tecnologia e Gestão para o Desenvolvimento da Universidade de Oxford, Adélia Maria Carvalho, secretária de Saúde da Bahia, e Naomar de Almeida Filho, da UFBA. 

“Como transformar isso em potência democrática? As várias experiências reveladas trazem a questão de escala, como sair de um território específico, como transformar muitas ações em políticas públicas?”, questionou a presidente. “São perguntas que permanecerão, sem pretensão de respondê-las”. Nísia também apontou para a existência de uma grande potência, nos meios urbano e rural. “Mudança não vem da noite para o dia, existe tradição, mas existe também recriação que nos faz pensar diferente alguns problemas, na relação da academia e das políticas públicas com movimentos sociais e lideranças indígenas. Não sei se há revolução, mas há potência democrática em curso. A trajetória, mais que ascendente, precisa ser constante para que potência possa, de fato, significar uma revolução democrática”.

Na última mesa do dia, com o tema “Exemplos de tecnologia e inovações sociais para a Saúde”, foi debatido como instituições acadêmicas e da sociedade civil podem atuar para desenvolver ferramentas, ações e estudos em prol da saúde pública.  Entre os participantes estavam o presidente da Associação Nacional Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu, Raimundo Nonato da Silva; a diretora fundadora da Redes da Maré, Eliana Sousa Silva; o coordenador do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), Mauricio Barreto; e o administrador do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência, de Portugal, Rui Oliveira. A coordenação foi do chefe de Gabinete da Presidência da Fiocruz, Valcler Fernandes. 

Barreto apontou como “usar bem os dados que a sociedade produz” pode gerar conhecimento científico inovador, como ocorreu com o projeto Coorte de 100 Milhões de Brasileiros, no qual a análise de dados utilizados pela administração pública, como as informações do Cadastro Único e o Sistema de Mortalidade, identificou, por exemplo, que a mortalidade em crianças menores de 5 anos nascidas de mãe indígena é três vezes maior do que os de uma mãe branca. O primeiro dia do fórum contou ainda com palestras, apresentação de conceitos sobre tecnologia social e, ao fim do dia, um momento para discussões finais.  

Segurança alimentar e nutricional

A diretora da Fiocruz Bahia coordenou a última mesa do evento, com o tema “Exemplos  de tecnologias e inovações sociais para a Segurança Alimentar e Nutricional”, composta pelos palestrantes Ananias Viana, do Turismo Étnico Comunitário Rota da Liberade; Denise Cardoso, presidente da Cooperatica Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc); Ana Paula Perles, do Programa Cozinhas Solidárias; Milton Barbosa, Superintendente de Economia Solidária e Cooperativismo da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia; e Veerle Vandeweerd, cofundadora do Global Sustainable Technology and Innovation Conference Series (G-STIC).

Marilda falou da importância das políticas públicas e apresentou dados do relatório de junho da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL/ONU), com previsões econômicas para a América Latina, no qual consta que oito milhões de pessoas passarão a viver em situação de insegurança alimentar. Falar de segurança alimentar, hoje, no nosso país, é muito importante e uma obrigação de todos nós. Temos um desafio enorme, aqui na Bahia e, eu tenho certeza, que em todo o Brasil as mulheres negras foram o grupo que foi mais atingido”.

O modelo de turismo comunitário desenvolvido em comunidades do município de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, denominado de Rota da Liberdade, foi abordado por Ananias. “O turismo comunitário foi pensado com as organizações e conselheiros das  próprias comunidades, para desenvolver um novo modelo não só do turismo, mas também de todas outras produções que tem dentro das comunidades. E o turismo é o carro-chefe para carregar todas essas produções”.

Denise comentou sobre o modelo de inclusão e fortalecimento do cooperativismo e da lógica de sustentabilidade. “A Coopercuc é o resultado da convivência com o semiárido, seca não se combate se convive, e a gente mostra que é possível conviver com o semiárido”, afirmou. “A gente traz a valorização do bioma caatinga, desde o produto na prateleira até a relação com o cooperado, promovendo o empoderamento feminino”. 

Ana Paula apresentou o Programa Cozinhas Solidárias, do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), que atende pessoas em condição de insegurança alimentar. “Além de entregar alimento, a gente tem desenvolvido parcerias com advogados, então tem atendimento para as pessoas que estão na fila, de saúde, reforço escolar, enfim diversas atividades que acontecem ali, que conseguem deslocar essa essa comunidade não só em torno da alimentação, mas também em torno da sua própria cultura. Ali as pessoas podem se reunir, debater, a gente tem o próprio Jornal da Cozinha Solidária”. 

As conclusões e o encerramento do dia foram realizadas por Marilda Gonçalves e Patrícia Jaime, da Universidade de São Paulo (USP). No final do encontro, houve a cerimônia de encerramento, em que participaram da mesa Paulo Gadelha, Olivia Cordeiro e a coordenadora da Superintendência de Vigilância e Proteção da Saúde do Estado da Bahia, Rívia Barros. Gadelha leu a Carta da Bahia, assim intitulada pela diversidade do estado, das contribuições durante o evento tanto de agentes públicos, como dos movimentos sociais e comunitários. O evento foi encerrado com a apresentação de Amadeu Alves e as Morenas de Itapoã.

*Com informações do Portal Fiocruz.

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Covid-19: CoronaVac com reforço da Pfizer protege contra casos graves

O surgimento da Ômicron causou questionamento quanto à eficácia das vacinas contra uma nova variante do coronavírus. Para verificar a situação no Brasil, um estudo do projeto VigiVac avaliou, durante o período em que a variante omicron do vírus foi predominante, a eficácia da aplicação de duas doses de CoronaVac com reforço da Pfizer.  Pela Fiocruz Bahia, participaram Thiago Cerqueira Silva, Vinicius Oliveira, Maurício Barreto, Viviane Boaventura e Manoel Barral-Netto, em co-autoria com pesquisadores da UFBA, UFRJ, UERJ, UNB e London School of Hygiene and Tropical Medicine.

O trabalho foi publicado na revista Nature Communications e abrange dados de 1° de janeiro a 17 de abril de 2022. Segundo os pesquisadores, a aplicação do reforço com vacina baseada na tecnologia mRNA após a aplicação de vacinas de outros tipos continua a oferecer proteção adequada contra casos graves, mesmo tendo transcorrido 120 dias após o recebimento da última dose, apesar de mostrar decréscimo na proteção a casos leves da doença.

Para efeitos de comparação, o estudo estimou a resistência de pessoas imunizadas com a dose de reforço contra aqueles que haviam recebido apenas as duas doses da CoronaVac e aqueles que não foram vacinados. A eficácia do reforço contra casos graves da Covid-19 foi estimada em 84,1%, mas não foi avaliada uma proteção significativa contra a infecção sintomática da doença.

A pesquisa também se debruçou no resultado demonstrado pelas vacinas em determinadas faixas etárias, principalmente idosos com mais de 80 anos. Neste grupo, foi detectada uma queda da eficácia de proteção, com variação de 81,3%, no período de 31 a 60 dias após a aplicação, até 72,9%, transcorridos 120 dias após a vacinação. Para os pesquisadores, é importante haver um foco especial nesta faixa etária por conta de sua vulnerabilidade ao vírus e ao intervalo maior entre a aplicação das doses neste grupo.

Foram analisados dados de 2 milhões de pessoas testadas durante a onda de casos causada pela Ômicron. O estudo coloca ainda que, com a perspectiva de circulação dessa variante, surge a necessidade do desenvolvimento de vacinas que previnam não apenas casos graves da doença, mas também mantenham a proteção contínua contra infecções do vírus.

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Projeto analisa a efetividade das vacinas em crianças e adolescentes

O projeto da Fiocruz Bahia VigiVac estudou a efetividade das vacinas contra a COVID-19 nos grupos de crianças e adolescentes. O boletim, que apresenta resultados da análise até maio deste ano (clique aqui para acessar), descreveu a avaliação da efetividade da imunização contra casos leves e graves da doença. No grupo infantil, foi analisada a proteção da CoronaVac e, nos adolescentes, foi estudada a Pfizer, devido a aplicação majoritária dessas vacinas nestes respectivos grupos.

Nos jovens de 12 a 17 anos, observou-se que a proteção contra casos graves de COVID-19 manteve-se em 80%, mesmo 98 dias após a aplicação da segunda dose. No entanto, há um declínio da proteção contra casos leves da doença já a partir dos 28 dias de aplicação da vacina. Até 19 de maio, 68,9% deste grupo apresentava esquema vacinal completo. Já na população infantil, entre 6 e 11 anos, a CoronaVac apresentou uma proteção de 39,8% para infecções sintomáticas e 58,8% para casos graves da COVID-19. O boletim alerta ainda para a baixa cobertura vacinal das crianças. No período estudado, apenas 40% das crianças de 5 a 11 anos tomaram a segunda dose.

O boletim também destaca a vulnerabilidade da população infantil à doença. Segundo o documento, crianças podem desenvolver efeitos prolongados da infecção como a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica e sintomas de COVID longa. Para combater os picos de transmissão da doença, recomenda-se a continuidade das medidas de prevenção (uso de máscaras e a limitação da aglomeração), mas também a ampliação da vacinação para crianças abaixo de 5 anos.

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Novo índice aponta que desigualdades sociais em saúde no brasil se aprofundaram na pandemia

Adalton dos Anjos | Cidacs/Fiocruz Bahia

Durante a pandemia de Covid-19, não faltaram relatos e reportagens que mostravam como determinados grupos populacionais vivenciaram este período com mais dificuldades do que outros. O desemprego, a fome, bem como as dificuldades de acesso às máscaras, álcool gel e até a água atingiram fortemente comunidades vulnerabilizadas. Diante deste contexto, pesquisadores do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) construíram um índice que mede os efeitos das desigualdades sociais em saúde na pandemia no Brasil e descobriram que o abismo entre as regiões Norte-Nordeste e Sul-Sudeste se aprofundou neste período.

“A Região Norte, antes do início da pandemia [fevereiro de 2020], estava com quase 98% dos municípios na pior situação de desigualdade social em saúde e, mesmo com tantos investimentos em saúde desde então, praticamente a totalidade deles permanece nessa situação nos outros momentos”, explica a epidemiologista Maria Yury Ichihara, coordenadora do projeto que desenvolveu o Índice de Desigualdades Sociais para a Covid-19 (IDS-COVID-19). No caso de municípios da região Sul, o índice demostra que, do início da pandemia comparando com janeiro deste ano, a situação de desigualdades sociais em saúde reduziu 16%, sobretudo por conta do aumento da oferta de serviços de saúde.

Os dados oferecidos pelo índice alertam que a situação de desigualdade social em saúde no Brasil preexistia à Covid-19. Antes da pandemia, 98% dos municípios da Região Norte estavam nos agrupamentos 4 e 5, os dois piores grupos classificados pelo IDS-COVID-19. Na Região Sudeste, eram 35% dos municípios e no Sul, apenas 7%. “As desigualdades entre as regiões se aprofundaram, considerando que há uma melhoria dessas desigualdades em alguns municípios, embora não seja grande, enquanto outros permaneceram em situação crítica”, destaca a epidemiologista.

O IDS-COVID-19 foi calculado com base em dados socioeconômicos, sociodemográficos e de acesso aos serviços de saúde. Os pesquisadores exploraram bases de dados do Censo Demográfico do IBGE de 2010, bem como do Cadastro Nacional dos Equipamentos de Saúde (CNES) para capturar números de leitos de UTI e respiradores, e do Índice Brasileiro de Privação (IBP), que leva em consideração a renda, educação e condições de domicílio.

Foram definidas também variáveis que mais se relacionavam com as desigualdades sociais em saúde na Covid-19 como o percentual de população residente em domicílios com densidade domiciliar maior que 2, percentual de idosos em situação de pobreza, além do percentual de pretos, pardos e indígenas. “A pandemia atingiu as pessoas negras de forma distinta por conta das desigualdades raciais. Era preciso que a gente desse evidência a isso. E o índice tem uma função de dar a gente uma forma de mensuração das desigualdades”, afirma a epidemiologista Emanuelle Góes, pesquisadora associada ao Cidacs e que fez parte da equipe de construção do IDS-COVID-19, explicando como se inseriu o racismo estrutural como categoria de análise no índice.

Região Norte concentrou maior proporção de municípios nas piores situações de desigualdades

“Todas as proibições mexeram diretamente com a atividade de algumas mulheres ribeirinhas, mulheres da floresta ou da região rural porque as atividades foram paralisadas”, explica a pesquisadora em Ciências Farmacêuticas Terezinha de Jesus, que integra o Instituto de Mulheres Negras do Amapá e participou de reuniões com a equipe de pesquisadores do IDS-COVID-19 para compartilhar suas experiências.

Segundo ela, além das condições socioeconômicas e sociodemográficas, uma série de outras ocorrências foram marcantes para que o estado do Amapá e a própria Região Norte tenham tido impactos profundos por conta da pandemia. “As pessoas foram para casa de parentes no interior e levaram o vírus para lá, inclusive muitas pessoas morreram”, relembra Terezinha. Ela ainda destacou a grande circulação de desinformação, a espera por até uma semana para a chegada dos resultados dos testes de Covid-19 analisados em Belém (PA) e a situação de fome na região onde mora.

Após a primeira onda da pandemia de Covid-19, somente 3% dos municípios da Região Norte conseguiram reduzir as condições de desigualdades em saúde, segundo dados do IDS-COVID-19. Em uma comparação com municípios da Região Sul, por exemplo, 8% deles apresentaram redução das desigualdades.

Os dados do índice também mostram que nos quatro momentos medidos mais de 90% dos municípios da Região Norte ficaram na pior classificação quanto ao nível de desigualdades sociais em saúde.

“Todo mundo viu a onda se formando, o tsunami vindo e ninguém fez nada”

Na Região Nordeste, a realidade medida pelo IDS-COVID-19 não foi diferente. Em fevereiro de 2020, quase todos os municípios, 99%, estavam nos dois piores grupos com relação à situação de desigualdades sociais em saúde. Ao longo da pandemia, a região apresentou uma ligeira redução nessa condição com 95% em julho de 2020, 93% em março de 2021 e 92% em janeiro de 2022.

Para quem viveu na pele os efeitos da pandemia no dia a dia, não faltam relatos de dificuldades e soluções que poderiam ter sido implementadas para que menos pessoas morressem ou se contaminassem com o novo coronavírus sobrecarregando os serviços de saúde. “Para mim, a água naquele momento tinha que ser distribuída para todo mundo ter acesso, assim como álcool gel. Não é que a gente foi pego desprevenido na pandemia. Todo mundo viu a onda se formando, o tsunami chegando e ninguém fez nada” afirma Ivana Braga, mestre em Políticas Públicas e integrante o Grupo de Mulheres Negras Mãe Andresa no Maranhão, que também participou do projeto de construção do IDS-COVID-19.

Para Durvalina Rodrigues, doutoranda em Antropologia e integrante da Rede Mulheres Negras do Nordeste e Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras na Paraíba, um grupo em especial tem sido mais afetado pela pandemia. “Como as mulheres negras são a base da pirâmide social, essas mulheres foram as mais atingidas não só pelas iniquidades sociais, mas pelas desumanidades que aconteceram no nosso país, através dos nossos governantes. Foi trágico”, reflete.

“A maioria das mulheres negras chefiam suas casas e cuidam dos seus filhos. Você ter uma situação em que você tinha mulheres chefes de família em situação de adoecimento, de cuidar sem ter esse cuidado, e com filhos em situação de risco” reflete Lúcia Gato, integrante do Grupo de Mulheres Negras Mãe Andresa.

O Maranhão, estado onde Lucia vive, apresenta uma situação ainda mais intensa com relação às desigualdades sociais em saúde medidas pelo IDS-COVID-19 que é o fato de 214 dos 217 municípios analisados terem estado na posição de maior desigualdade no início da pandemia. Nos momentos seguintes medidos pelo índice, esse número se manteve quase o mesmo, com 208 municípios nesta situação desigual na comparação

entre fevereiro de 2020 e janeiro de 2022. Os municípios de São Luís e Imperatriz foram os que apresentaram a maior redução desde quando a pandemia começou.

Municípios da Região Centro-Oeste apresentam diferentes níveis de desigualdade

Uma das características dos municípios da Região Centro-Oeste é a distribuição deles em diferentes níveis de desigualdade, segundo os cálculos do IDS-COVID-19. No entanto, ainda há um maior volume de locais classificados nos dois piores grupos com relação à situação de desigualdades sociais em saúde.

Em uma escala de 1 a 5, com 1 para menos desigual e 5 para mais desigual, a Região tinha 134 municípios no grupo 3, 270 municípios no grupo 4 e 51 no grupo 5 antes do início da pandemia. Dos municípios que estavam nos grupos 4 e 5, 76% deles mantiveram a situação de desigualdade social em saúde na comparação entre fevereiro de 2020 e janeiro de 2022. O destaque vai para as capitais do Centro-Oeste, além de Brasília, que mantiveram suas respectivas situações de menor nível de desigualdade desde o início da pandemia até o último momento analisado, em janeiro de 2022.

“A pandemia piorou a situação das desigualdades e dos direitos humanos”

“O que me chamou mais atenção nesse processo foi a total dificuldade ou negação do acesso a serviços. Você tinha CRAS [Centro de Referência da Assistência Social] e creches fechadas, escolas e hospitais fechadas – só as grandes unidades abertas” elenca Lúcia Xavier, que coordena o Observatório de Direitos Humanos Crise e Covid-19 e a ONG Criola. Ela ainda destaca a violência policial no Rio de Janeiro, cidade onde vive, o isolamento dos sistemas prisionais, a fome e a elevada quantidade de mortes no período.

De acordo com dados do IDS-COVID-19, a distribuição de municípios quanto à classificação pela situação de desigualdade social em saúde esteve mais concentrada entre os níveis intermediários no Sudeste. Em Minas Gerais, no início da pandemia, 50% dos municípios foram classificados nos dois últimos grupos, com pior situação de desigualdade, e 33% em uma posição intermediária. Por outro lado, em São Paulo 41% dos municípios estavam nos agrupamentos com menor nível de desigualdade e 11,3% nas duas piores posições.

No Rio de Janeiro, dos 92 municípios que compõem o estado, 39 iniciaram a pandemia nas piores situações relativas às desigualdades, segundo o índice, e 28 deles mantiveram o lugar ao longo dos períodos analisados pelos pesquisadores.

No município do Rio de Janeiro, uma das principais reclamações da população era a falta de dados sobre os números de casos e óbitos por Covid-19. “Havia casos e relatos de muitos óbitos acontecendo em municípios de favela e não percebíamos esses dados na grande mídia. Sabíamos que a situação era grave e o apoio não chegava de maneira adequada”, explica Renata Gracie, pesquisadora da Fiocruz e participante do Painel Unificador Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro. A iniciativa resultou na criação de um painel com dados levantados localmente pelos próprios moradores de territórios de favela e, que depois também passou a ser alimentado também por outras bases de dados, que foram mapeadas pelos CEPs.

Região Sul tem melhora na situação desigualdades sociais em saúde

Enquanto a situação de desigualdades sociais em saúde se manteve praticamente inalterada em municípios do Norte e Nordeste, que já viviam condições inferiores, no Sul, o IDS-COVID-19 mostra uma ligeira redução das desigualdades. A Região não teve nenhum dos 1188 municípios classificados (3 deles não foram incluídos na pesquisa) no pior agrupamento antes da pandemia (fevereiro de 2020). Além disso, do último momento analisado (janeiro de 2022) para o período antes da pandemia, 196 municípios reduziram as desigualdades, de acordo com o índice.

Por outro lado, entre os 84 municípios que estiveram classificados na lista dos mais desiguais da Região Sul no início da pandemia, 65 permanecem nessa condição. Para Débora Olímpio, da Rede Mulheres Negras para Soberania e Segurança Alimentar Nutricional no Paraná, a fome foi uma das maiores dificuldades visualizadas neste período. “A gente vinha de um processo de insegurança alimentar no Brasil e ela se agrava com a pandemia” reflete Débora, que relembra que a organização que integra teve que novamente fazer um trabalho de busca de financiamento e distribuição de cestas básicas. “Voltamos para um momento de precarização mesmo. Olha a que ponto estamos?!”, questiona.

Participação de gestores e membros da sociedade civil marcam construção do IDS-COVID-19

Um dos pilares do projeto de pesquisa responsável pela construção do IDS-COVID-19 foi o envolvimento dos públicos durante o processo de investigação. O objetivo principal deste esforço de estabelecer uma relação mais estreita entre os diversos participantes é, ao ouvir suas experiências cotidianas durante a pandemia, ser mais assertivo nos resultados da pesquisa e permitir a aplicabilidade do índice.

A experiência dos convidados relacionadas às desigualdades sociais e a pandemia foram bastante importantes para o andamento da pesquisa. “A ideia é que o índice tenha utilidade no dia-a-dia das pessoas e, para isto, precisamos ouvi-las durante o processo de andamento da pesquisa”, defende Maria Yury Ichihara, coordenadora do projeto e vice-coordenadora do Cidacs.

Foram convidadas cerca de 40 pessoas entre representantes da área de gestão pública, representantes de entidades e associações de comunidades, pesquisadores e jornalistas. Cada um destes grupos participou de algumas atividades que permitiram o encontro e diálogo com os pesquisadores. Durante os grupos de discussão, as reuniões técnicas e webinários, os públicos eram consultados sobre os caminhos adotados na construção do IDS-COVID-19.

Débora Olímpio afirma que aceitou colaborar com o projeto para compreender como está a situação da população negra neste momento, pois este indicador, dentro deste processo, pode indicar a vulnerabilidade desta população. “Existe um potencial e um olhar nosso de ver que quem está nesse processo de maior desigualdade da pandemia é a população negra, mas precisamos disso materializado, em formato de estudo, de forma palpável para cobrar da gestão pública e para buscarmos financiamento junto a outras instituições”, defende.

Sobre o IDS-COVID-19

O projeto “Avaliando os efeitos das desigualdades sociais durante a pandemia de Covid-19”, tem por objetivo avaliar a relação entre um Índice de Desigualdades Sociais para Covid-19, a ocorrência de casos e óbitos em agrupamentos de municípios. O projeto faz parte do Grand Challenges ICODA pilot initiative, promovido pelo Health Data Research UK e financiada pela Fundação Bill & Melinda Gates e Fundação Minderoo.

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