Propostas do Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) vinculados à Fiocruz Bahia foram aprovadas em chamada do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O resultado foi divulgado no site do CNPq no dia 30 de junho. Dos aprovados, três são sediados na Fiocruz Bahia, e três têm pesquisadoras da unidade na vice-coordenação. O programa foi criado em 2008, chega à sua quinta chamada pública, com um investimento de aproximadamente R$ 1,45 bilhão.
O objetivo da ação é fortalecer o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação por meio da consolidação e expansão dos INCTs, reunindo grupos de pesquisa de excelência para atuar de forma cooperativa, interdisciplinar e inovadora em áreas estratégicas e de impacto social e econômico.
Os institutos são formados a partir de uma instituição sede, caracterizada pela excelência de sua produção científica e/ou tecnológica, alta qualificação na formação de recursos humanos e com capacidade de alavancar recursos de outras fontes. Além de um conjunto de laboratórios ou grupos associados de outras instituições, articulados na forma de redes científico-tecnológicas que devem incluir pesquisadores de grupos em novos campi universitários, e/ou em instituições em regiões mais vulnerabilizadas.
Confira os INCTs sediados na Fiocruz Bahia:
Doenças Tropicais (INCT-DT)
O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Doenças Tropicais (INCT-DT) é coordenado por Edgar Marcelino de Carvalho Filho, e foi criado em 2007, por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Fiocruz-CPqRR-Minas Gerais.
Tem como linhas de pesquisa as imunopatogêneses da leishmaniose tegumentar, leishmaniose visceral, doença de Chagas e da infecção pelo HTLV-1, leishmaniose tegumentar e visceral canina, novas formas de tratamento das leishmanioses e controle da transmissão das leishmanioses.
O INCT-DT conta com um grupo de 21 investigadores sêniores, todos reconhecidos pelo CNPq, pertencentes a sete universidades: UFBA, UFRN, UFRB, UFMG, UFOP, UFRJ, USP; três institutos de pesquisas: Fiocruz-Bahia, IIEPAE-SP, Fiocruz Paraná; e situados em cinco estados: Bahia, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo; com a participação de jovens pesquisadores, alunos de pós-graduação, graduação e iniciação científica.
Outros sete pesquisadores da Fiocruz Bahia fazem parte do INCT: Lucas Carvalho, Thiago Marconi, Camila Indiani, Patrícia Veras, Deborah Bittencourt, Juliana Fullam e Diogo Moreira.
Edgar Carvalho explicou quea aprovação do instituto permitirá a ampliação e modernização de equipamentos que contribuirão para o avanço da ciência. “O INCT-DT, como os outros, são virtuais e os trabalhos são desenvolvidos com uma forte colaboração entre investigadores de diferentes estados brasileiros e a aprovação da proposta permitirá que as colaborações fiquem mais amplas e mais produtivas”, pontuou.
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Saúde Digital (INCT- DigiSaúde)
O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Saúde Digital (INCT DigiSaúde) será liderado por Manoel Barral Netto (coordenador) e Mauricio Lima Barreto (vice-coordenador), ambos pesquisadores sêniores da Fiocruz Bahia, e tem como principais desafios fortalecer a saúde pública no Brasil, com o desenvolvimento e aplicação de abordagens multidisciplinares e tecnologias inovadoras em saúde digital.
O projeto inclui estratégias para enfrentar diarreia infantil e arboviroses a partir de ferramentas de detecção antecipadas de surtos, sistemas inteligentes para prever a distribuição de enfermidades e educomunicação com recursos digitais. Também inclui análises sobre fatores climáticos, migração, impacto de políticas sociais e de imunização, além de investigações sobre anemia falciforme.
A pesquisa será conduzida em quatro eixos: Mudanças Climáticas, Investigações Genômicas e Imunológicas em áreas críticas identificadas, Modelagem Matemática e Computacional e Divulgação Científica. Esses eixos serão trabalhados de forma transversal, com objetivo de realizar análises complexas para tomadas de decisão e de tradução e disseminação de conhecimentos científicos. A proposta pretende realizar um diálogo permanente com movimentos sociais, formadores de opinião e tomadores de decisão, para produzir evidências científicas que possam subsidiar políticas públicas para a equidade e melhoria da qualidade de vida das populações mais vulnerabilizadas.
Além disso, o projeto visa se posicionar como catalisador de inovações no Sistema Único de Saúde (SUS) para responder aos desafios de saúde do país nos próximos anos, com alinhamento ao panorama científico global e fortalecendo a capacidade nacional de resposta em saúde pública.
A iniciativa é composta por 44 pesquisadores de instituições nacionais e internacionais. Além dos coordenadores, oito pesquisadores da Fiocruz Bahia fazem parte da iniciativa: Viviane Boaventura, Pablo Ramos, Aldina Barral, Marilda Gonçalves, Ricardo Khouri, Bethania Almeida e Leonardo Farias.
De acordo com Manoel Barral, a partir da conexão de informações de diversas fontes e origens, será criada uma base sólida de conhecimento em temas que impactam a saúde no presente e com potencial agravamento nos próximos anos, como doenças diarreicas, arboviroses, doença falcêmica, efetividade vacinal, migrações e mudanças climáticas, fatores socioeconômicos e ambientais, emergências epidemiológicas.
“Esses temas constituem um cenário complexo da saúde pública, formando relações de causa e efeito que afetam populações de formas diversas e desiguais e não podem ser entendidos isoladamente. Utilizaremos abordagens integradas, multidisciplinares e uso de dados multimodais para compreender, prever, comunicar e mitigar esses desafios”, afirmou Barral.
A criação do DigiSaúde representa um passo estratégico para incorporar inovações no SUS, utilizando as valiosas fontes de dados do Brasil e fortalecendo a capacidade nacional de responder aos desafios de saúde.
Instituto Nacional de Patologia Molecular e Computacional
Coordenado pelo pesquisador da Fiocruz Bahia, Mitermayer Reis, o Instituto Nacional de Patologia Molecular e Computacional tem como objetivo desenvolver ferramentas tecnológicas baseadas em Inteligência Artificial e Aprendizagem de Máquina para apoiar patologistas e pesquisadores no avanço do diagnóstico, monitoramento e tratamento do câncer e de outras doenças, com foco em medicina personalizada e inovação terapêutica.
De acordo com Mitermayer, o projeto propõe a integração de métodos clássicos com tecnologias avançadas, como genômica e transcriptômica, inteligência artificial e aprendizagem de máquina, visando acelerar a resolução de desafios relacionados à patologia.
O projeto será sustentado pela formação de redes interinstitucionais nacionais e internacionais, envolvendo grupos de pesquisa especializados em patologia e empregando abordagens inter e transdisciplinares. Essas redes serão fundamentais para a identificação de marcadores genéticos e epigenéticos, os quais auxiliarão na tomada de decisões clínicas relacionadas ao diagnóstico, tratamento e monitoramento da resposta terapêutica das doenças estudadas.
“Esperamos identificar novos marcadores moleculares e alvos terapêuticos com potencial de patenteamento, relevantes para a indústria farmacêutica no desenvolvimento de medicamentos. Planejamos a criação de biorrepositórios contendo amostras clínicas rigorosamente caracterizadas, processadas, armazenadas e rastreáveis”, relatou Mitermayer.
A INCT é composta por três pesquisadores brasileiros e seis estrangeiros; três estudantes de graduação e 10 de pós-graduação; cinco membros do Comitê Gestor; oito pesquisadores colaboradores; um coordenador e um vice-coordenador; e, um líder de Laboratório Associado. Oito instituições fazem parte do projeto: Fiocruz, UFBA, University of Sheffield (Reino Unido), University of Southampton (Reino Unido), Leiden University (Holanda), Kanazawa University (Japão) e Université D’Abomey-Calavi (Benin), e Pontifícia Universidade Católica (PUC-Chile).
INCTs com pesquisadoras da Fiocruz Bahia na vice-coordenação:
Instituto de Investigação em Imunologia (iii-INCT)
O Instituto de Investigação em Imunologia (iii-INCT) atua desde 2001. Atualmente é coordenado pelo pesquisador Jorge Kalil, e está sediado no Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). Conta com 30 pesquisadores de 20 centros de pesquisa localizados em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Goiás e Distrito Federal. Além da vice-coordenadora Aldina Barral, três pesquisadores da Fiocruz Bahia fazem parte do iii-INCT: Manoel Barral-Neto, Natália Machado Tavares e Viviane Boaventura.
Os projetos desenvolvidos atualmente estão divididos em seis áreas temáticas: alergia, autoimunidade, doenças infecciosas, imunodeficiências, transplantes e câncer. Cada uma reúne especialistas que trabalham de forma integrada, dinâmica e eficiente, compartilhando conhecimentos e ações.
Instituto de Multiômica Aplicada à Saúde de Precisão (IMASP)
O INCT – Instituto de Multiômica Aplicada à Saúde de Precisão (IMASP) é coordenado pelo pesquisador Roberto Giugliani, da UFRGS, e tem a pesquisadora Milena Soares como vice-coordenadora. Tem quatro linhas principais de investigação: farmacogenômica, doenças neurodegenerativas, terapias avançadas e genética médica populacional. Participam do IMASP 10 laboratórios de oito estados das regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste do Brasil.
Instituto de Investigação em Doenças infecciosas e crônicas nas mucosas e pele (INCT Mucosas e Pele)
O “Instituto de Investigação em Doenças infecciosas e crônicas nas mucosas e pele” estuda diferentes aspectos da imunologia das mucosas e da pele, com ênfase nos mecanismos imunológicos nessas superfícies corporais, na fisiologia desses locais de interação, bem como em doenças inflamatórias, infecciosas e tumorais que se originam nessas áreas. Além disso, o instituto investigará o impacto desses processos em outros órgãos e explorará alternativas diagnósticas e terapêuticas para essas doenças.
Coordenado pela pesquisadora da UFMG, Ana Maria Caetano Faria, tem a pesquisadora da Fiocruz Bahia, Claudia Ida Brodskyn como vice coordenadora. O INCT envolve 16 instituições do Brasil e 36 pesquisadores da área.
Os objetivos principais do instituto estão integrados em diversas linhas de pesquisa, interligados por iniciativas transversais como o estudo das interações com a microbiota local (mucosas e pele); plataformas diagnósticas e terapêuticas, incluindo: nanotecnologia, probióticos, moléculas bioativas isoladas de venenos, agentes imunobiológicos, leite materno, e o desenvolvimento de outras ferramentas de intervenção voltadas a essas vias.
Claudia Brodskyn relatou que os projetos visam investigar os mecanismos imunológicos ativados em mucosas e pele para manter a regulação imunológica local e sistêmica; auxiliar na defesa contra patógenos e tumores; compreender os processos envolvidos na interação entre mucosas, pele, fígado e cérebro. “Os desafios são muitos, mas entre eles estão: implantar novas tecnologias, cumprimento das metas e objetivos em diferentes partes do Brasil”, ressaltou.