Uma das preocupações de pessoas portadoras dos vírus HIV e HTLV é a continuidade de acompanhamento médico durante a pandemia de Covid-19, tendo em vista a recomendação do isolamento social para evitar o contágio do Sars-CoV-2 e o momento em que as unidades de saúde e hospitais se voltaram para o enfrentamento do novo coronavírus.
O HIV e o HTLV são retrovírus da mesma família. Menos popular que o HIV, que compromete o sistema imunológico causando uma imunodeficiência, o HTLV causa doenças como leucemia, incontinência urinária, disfunção erétil e problemas neurológicos, sendo a Bahia o estado com a maior taxa de infecção do Brasil.
A pesquisadora da Fiocruz Bahia, Fernanda Grassi, conta que o medo de se expor ao coronavírus levou alguns pacientes a não irem às unidades de saúde onde faziam acompanhamento. A médica ressalta que, embora o HTLV e o HIV controlado não sejam fatores complicadores para Covid-19, muitos desses pacientes possuem outras doenças que os incluem ao grupo de risco.
Fernanda explica que as pessoas com HIV que realizam tratamento antirretroviral, estando com seu sistema imune reconstituído, como é o caso da maioria dos indivíduos tratados, não possuem risco maior de complicações na infecção pelo coronavírus do que as pessoas que não portadoras de HIV.
“O risco para o paciente com HIV que possui comorbidades será o mesmo de pessoas que não são portadoras de HIV, mas que tenham doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade ou idade avançada, por exemplo. O HIV controlado não leva a maior morbidade da Covid-19”, salienta. O HIV requer o uso de antivirais que sejam utilizados de forma contínua. Segundo a pesquisadora, a interrupção do tratamento pode fazer com que ocorra resistência do vírus, então é imprescindível a continuação.
No caso do HTLV, Fernanda afirma que não existe, até o momento, nenhum relato de que a Covid-19 aumente a gravidade da doença. No entanto, os pacientes portadores desse vírus frequentemente são pessoas com idade avançada e com comorbidades, por isso podem pertencer ao grupo de risco do coronavírus.
Embora não exista um tratamento específico para o vírus HTLV, o acompanhamento médico dessas pessoas é importante por conta das doenças que ele causa, como problemas neurológicos e a leucemia de célula T. A interrupção leva ao agravamento dos casos.
Telemedicina
Para a pesquisadora, a telemedicina é uma ferramenta importante para que os tratamentos dessas doenças não sejam interrompidos. Um serviço de telemedicina foi implantado para pacientes com HIV em tratamento de Profilaxia Pós-Exposição (PEP), coordenado pela professora Inês Dourados, na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Um esquema para atendimento remoto também foi montado para atender esses pacientes no Centro de HTLV da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), coordenado pelo pesquisador emérito da Fiocruz, Bernardo Galvão, instituição em que Fernanda também atua como professora. O Centro oferece o serviço por vídeo-chamada para orientar os pacientes com HTLV, não só com o atendimento pelos médicos infectologistas e neurologista, como também por toda a equipe multidisciplinar.
Contato: Centro de Tratamento ao Portador de HTLV (EBMSP) – 3276-8281