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Os problemas relacionados ao zika vírus e sua ligação com o aumento dos casos de microcefalia em bebês no Brasil foram destaque na seção “In Depth” da Science Magazine, tendo como título da reportagem “A race to explain Brazil’s spike in birth defects”. Para saber como os centros de pesquisa do país vêm se preparando para enfrentar a surto da doença, a jornalista Gretchen Vogel entrevistou epidemiologistas de diversas instituições, como Albert Ko, da Yale University e Fiocruz Bahia, Ana Maria Bispo de Filippis, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), além de Manoel Sarno e Federico Costa, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), dentre outros.
Após o alerta global emitido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), indicando medidas preventivas e locais onde existem maior densidade de focos da doença, muitas mulheres grávidas no Brasil têm entrado em pânico. A OMS pede o reforço no combate ao mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypti, o aumento da capacidade de diagnóstico e atenção especial com as gestantes, para que elas não entrem em contato com o mosquito.
Diante deste cenário, o governo declarou uma emergência de saúde pública, sendo que alguns médicos recomendam às mulheres para que não engravidem até que se saiba mais sobre o assunto. As autoridades sanitárias brasileiras simplesmente recomendam que as mulheres grávidas evitem ser picadas. Isso significa vestir roupas de proteção, manter portas e janelas teladas, além do uso do repelente de insetos.
Na entrevista à Science Magazine, de acordo com Albert Ko, especialista em doenças tropicais, o vírus Zika nunca foi ligado a microcefalia. “O nosso grande desafio é que a epidemia explodiu e nossa comunidade ainda tem muito a conhecer sobre a história natural do vírus Zika”, diz. Ainda segundo a revista, a ligação entre Zika e microcefalia não vieram à tona antes porque surtos anteriores foram simplesmente muito pequenos.
Para chefe do Laboratório de Flavivírus do IOC, Ana Maria Bispo de Filippis, existem algumas teorias sobre como o agente pode ter se tornado mais patogénico. “Alguns virologistas suspeitam de uma alteração genética recente também permitiu que o vírus se espalhe mais facilmente”, disse. Ainda segundo ela, outra possibilidade é que as mulheres grávidas que possuem anticorpos contra a dengue podem ter uma resposta imune menos intensa à Zika e isso pode aumentar a chance de que o vírus atravessa a placenta e contamina o feto.
Perguntas sem respostas – Enquanto a comunidade científica se prepara para evitar a propagação da doença, muitas perguntas básicas ainda estão por ser respondidas, afirma Federico Costa. Se uma mulher teve Zika, mas se recuperou, as futuras gerações estão seguras? Quanto tempo o vírus Zika permanece em uma pessoa infectada? A zika está causando também outros tipos de danos em bebês em fase de gestação com o aparecimento de sequelas mais tarde, depois de nascidos?
São muitos os desafios a serem enfrentados e a velocidade com que o vírus se espalha não está necessariamente acompanhando o ritmo de pesquisas, já que muitos dos laboratórios brasileiros não estão equipados suficientemente para promover diagnósticos precisos. Enquanto isso, para além das fronteiras, já foram confirmados casos de zika em nove países das Américas: Brasil, Chile (Ilha de Páscoa), Colômbia, El Salvador, Guatemala, México, Paraguai, Suriname e Venezuela.