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A esquistossomose é uma das doenças parasitárias que afeta 12 países nas Américas, com prevalência na América Latina e países do Caribe, e continua um desafio para a saúde pública. No Brasil, há 95 municípios que são endêmicos, ou seja, onde há focos. Eles se distribuem pelas regiões Nordeste e Norte, e mesmo no Sul e Sudeste. Para o seu combate, é vital reduzir as desigualdades sociais, estar unidos para cuidar e conectados para avançar. Estes três pontos, importantes para o seu combate, foram pontuados na mesa de abertura do XVII Simpósio Internacional sobre Esquistossomose. O encontro, que começou final da tarde desse domingo (10/11), é organizado pela Fiocruz Bahia, a Rede Fio-Schisto e o Programa de Pesquisa Translacional, da Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas. A programação vai até esta quarta-feira (13/11).
O tema desta edição é Perspectivas para eliminação da esquistossomose. Parte dos especialistas que falaram na cerimônia de abertura lembrou que a esquistossomose é uma doença socialmente determinada. Por isto, é necessário intensificar esforços para enfrentá-la, melhorar as condições de vida da população e de saneamento nos países afetados.
Ricardo Riccio, presidente do simpósio, informou que o evento reúne pesquisadores de vários países, profissionais de saúde que trabalharam diretamente com a esquistossomose, agentes de saúde, técnicos de enfermagem e laboratórios, enfermeiros, farmacêuticos, sanitaristas e médicos. Isto reflete a colaboração do Ministério da Saúde com a Secretaria do Estado da Bahia e a Secretária de Saúde do município de Salvador. Entre as novidades da programação científica, ele destacou a mesa redonda dedicada à participação popular no combate às doenças negligenciadas. “O combate à esquistossomose exige, realmente, uma abordagem multifacetada e colaborativa”, concluiu.
A mesa de abertura foi composta pela diretora do Departamento de Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde (SVSA/MS), Alda Maria da Cruz; pelo representante da Organização Mundial de Saúde, Amanou Garba; pela diretora da Fiocruz Bahia, Marilda de Souza Gonçalves; por Ricardo Riccio, da Fiocruz Bahia; pelo vice-presidente do simpósio e pesquisador da Fiocruz Bahia, Leonardo Paiva Farias; pela coordenadora adjunta do Programa de Pesquisadora Translacional em Esquistossomose, Roberta Caldeira; pelo coordenador-geral de Vigilância da Hanseníase e Doenças em Eliminação da SVSA, Ciro Martins Gomes; além de representantes da Sociedade Brasileira de Parasitologia, do Conselho Estadual dos Secretários Municipais de Saúde da Bahia, do município de Salvador e da Secretaria do Estado da Bahia.
Homenagens
Manoel Augusto Pirajá da Silva, Zilton de Araújo Andrade, Rodrigo Corrêa-Oliveira e Eridan de Medeiros Coutinho foram os quatro pesquisadores que receberam homenagens e tiveram suas trajetórias rememoradas. O primeiro pela sua atuação no campo das doenças tropicais e a descoberta do Schistosoma mansoni – também conhecida como esquistossomíase mansônica – e os demais por seus estudos sobre a esquistossomose. As placas que os homenageiam serão destinadas a seus familiares e a instituições onde trabalharam, caso de Manoel da Silva.
A eliminação da esquistossomose no eixo Sul-Sul
A conferência principal, Perspectivas sobre a eliminação da Esquistossomose, foi ministrada por Alda Maria da Cruz. Ela lembrou que a abordagem do tema é para além da área médica. “A esquistossomose está no roteiro das doenças listadas pela OMS e o Brasil tem, praticamente, todas em alta prevalência. Mas, estamos comprometidos com essa agenda para eliminar a esquistossomose e outras doenças como problema de saúde pública”, disse. Alda também explicou que a esquistossomose afeta, principalmente, populações em vulnerabilidade social, então se fala mais em populações negligenciadas do que em doenças negligenciadas.
Atualmente, são 200 milhões de pessoas afetadas no mundo e 700 milhões em risco de se tornar doentes. É um problema que atinge principalmente as regiões subtropicais da África, Ásia, Caribe e América do Sul. Isto é, a doença está centrada no eixo Sul-Sul global, onde não há acesso a várias tecnologias de saúde fundamentais para o controle e eliminação. Para Alda, negligenciadas são as pessoas, não as doenças, porque não são ofertadas condições sanitárias básicas, acesso à água potável, além de haver um baixo nível de educação e de acesso aos serviços de saúde.
Como ainda não há a erradicação da esquistossomose, no momento, o conceito trabalhado é o de eliminação sob dois primas. “O primeiro é a eliminação da transmissão, ou seja, a redução para zero de incidência da infecção com o mínimo de risco de reintrodução. É o caso da filariose e da malária causada pelo Plasmodium falciparum. O segundo é a eliminação como problema de saúde pública”, ressaltou Alda. Uma das medidas do Ministério da Saúde nesse sentido é o programa Brasil Saudável. Seu objetivo é ter uma atuação sobre a fome, a pobreza, as iniquidades, a expansão dos direitos humanos e a proteção social. Além de trabalhar a comunicação entre trabalhadores, movimentos sociais e organizações da sociedade civil.
Por: Elisandra Galvão (VPPCB/Fiocruz) | Foto: Julia Lins