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O editorial da Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, intitulado Zika virus pandemic: a human and public health crisis, assinado pelos pesquisadores da Fiocruz Bahia, Guilherme Ribeiro e Uriel Kitron, discute o impacto na saúde pública do surto causado pelo vírus da zika, delineando um breve histórico da disseminação do vírus pelo mundo e apresentando lacunas científicas e de infraestrutura para o controle e prevenção da doença e suas complicações.
De acordo com o editorial, o surto iniciou-se no Brasil no início de 2015 e, ao fim do ano, 19 estados do país tinham casos autóctones de zika confirmados laboratorialmente. Em Salvador (BA), a vigilância epidemiológica estabeleceu um sistema de notificação para casos de doenças exantemáticas agudas indeterminadas e registrou cerca de 15 mil casos no período de fevereiro a junho do mesmo ano. No entanto, estima-se que a dimensão do surto tenha sido muito maior, atingindo, provavelmente, um terço da população da cidade.
Complicações da zika e impacto na saúde pública
Logo após a detecção da circulação do vírus da zika na região nordeste do país, foi observado um aumento nos casos de doenças neurológicas autoimunes, como a síndrome de Guillain-Barré, além dos casos de microcefalia, uma síndrome congênita que afeta o desenvolvimento cerebral, causando diminuição na circunferência da cabeça. Em outubro de 2015, o governo brasileiro declarou situação de emergência nacional na saúde pública, devido a um aumento no número de crianças nascidas com o problema no estado de Pernambuco.
Como o surto de síndrome congênita do Zika foi precedido pela epidemia de Zika cerca de 7-9 meses antes, infecções pelo vírus Zika durante a gravidez foram apontadas como provável causa para o surto de microcefalia. De acordo com os pesquisadores, em apenas 3 meses, entre o início do monitoramento e o início de 2016, foram relatados 3.893 casos suspeitos de microcefalia, em 21 estados e 764 municípios.
Bahia, Pernambuco e Paraíba foram os estados com mais casos notificados, sendo que de 512 casos investigados clinicamente, o diagnóstico de microcefalia havia sido confirmado em 230. Diante desses índices, a pesquisa salientou a necessidade urgente de serviços de saúde adaptados a prestar assistência a esse grande contingente de crianças afetadas, o que exige diagnóstico neurológico e um suporte, a longo prazo, de neurologistas, fisioterapeutas e outros profissionais da saúde.
Lacunas de detecção e combate ao vírus
O surgimento da epidemia de Zika e das complicações neurológicas associadas à infecção pelo vírus surpreendeu o serviço público de saúde, que não estava preparado para enfrentar a enorme carga de demandas associadas à doença. Atualmente, os métodos sorológicos para o diagnóstico do vírus são dificultados pela reatividade cruzada com outros flavivírus, principalmente o da dengue, e poucos laboratórios no Brasil, assim como em outros países, têm a capacidade de diagnosticar a infecção pelo vírus zika por RT-PCR. Consequentemente, o número de casos da zika confirmados no Brasil permanece baixo, uma vez que o Ministério da Saúde estima que entre 500 mil e 1,5 milhões de pessoas foram infectadas em 2015.
Os métodos para controlar o mosquito vetor, Aedes aegypti, no Brasil não foram eficazes, o que é evidenciado pela crescente epidemia de dengue, zika e chikungunya. Como ainda não existe uma vacina efetiva para que proteja contra os três vírus, o combate e controle do vetor permanecem como principais ações de enfrentamento dessas arboviroses. Porém, o investimento em medidas de infraestrutura urbana, como saneamento e coleta de lixo, é fundamentalmente necessário.
Clique aqui e acesse o editorial publicado em fevereiro de 2016.