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Uma pesquisa avaliou os efeitos da inflamação numa proteína chamada conexina 43 (Cx43), em camundongos infectados com Trypanosoma cruzi, protozoário causador da doença de Chagas. O trabalho, que foi tese de doutorado de Breno Cardim pelo Programa de Pós-Graduação em Patologia (PGPAT), da Universidade Federal da Bahia em ampla associação com a Fiocruz Bahia, foi coordenado pela pesquisadora Milena Soares, da Fiocruz Bahia, e publicado no periódico Frontiers in Immunology.
As arritmias cardíacas são a principal causa de morte súbita em pacientes com cardiomiopatia chagásica crônica (CCC), uma complicação da doença de Chagas. No estudo publicado, investigou-se a expressão e padrão de fosforilação da conexina 43 (Cx43), uma proteína essencial para a comunicação entre células cardíacas vizinhas, localizada na região dos discos intercalares (junções especializadas que conectam as células do músculo cardíaco, permitindo a sincronização da contração cardíaca), e sua relação com a ocorrência de arritmias.
Utilizando camundongos infectados pelo parasita Trypanosoma cruzi, os pesquisadores realizaram avaliações cardíacas nos animais aos 6 e 12 meses após a infecção, por meio de testes ergométricos e eletrocardiogramas e, posteriormente, amostras cardíacas desses animais foram utilizadas para avaliação dos níveis de inflamação, fibrose, expressão gênica e distribuição da Cx43 total e suas formas fosforiladas no tecido cardíaco.
Os resultados mostraram que a infecção crônica levou a uma piora na função cardíaca, com aumento da inflamação, fibrose e expressão elevada dos genes das citocinas pró-inflamatórias IL-1β, TNF e IFNᵧ. Análises com microscopia confocal revelaram que a expressão e localização das Cx43 estavam alterados, assim como as suas formas fosforiladas, com a proteína dispersa em áreas fora dos discos intercalados, incluindo as membranas laterais e o citoplasma das células.
Além disso, em amostras de corações humanos com CCC, os mesmos padrões de redistribuição da Cx43 foram observados, reforçando a hipótese de que essa desorganização contribui para a geração de distúrbios de condução elétrica e arritmias.
Adicionalmente, foi testado um modelo de microambiente inflamatório em culturas de células cardíacas de rato e humanas (cardiomiócitos derivados de células-tronco de pluripotência induzida), onde foi utilizada uma combinação de citocinas (IL-1β, TNF e IFNᵧ) para simular o ambiente inflamatório da CCC, e com isso os pesquisadores observaram uma redução na duração do potencial de ação (importante para a contratilidade cardíaca) e na transferência de corante entre células, sugerindo uma redução na comunicação celular.
Esses achados indicam que a inflamação crônica no coração afeta diretamente a função da Cx43, contribuindo para a ocorrência de arritmias em pacientes com doença de Chagas, e abre portas para estudos futuros que busquem uma compreensão mais profunda das vias de sinalização que podem ser ativadas por citocinas pró-inflamatórias na CCC, resultando na desregulação de Cx43. Além disso, os pesquisadores destacaram a importância de explorar potenciais alvos terapêuticos que poderiam melhorar a função de Cx43 e prevenir o desenvolvimento de arritmias graves em pacientes com doença de Chagas.
Por Jamile Araújo, com supervisão de Júlia Lins