Em defesa da ciência, Fiocruz Bahia participa do desfile cívico do 2 de julho

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A Fiocruz Bahia marcou presença no desfile cívico em homenagem à Independência da Bahia, realizado neste domingo (02/07). Vestindo a camisa do 2 de Julho pela Ciência, movimento promovido pela Academia de Ciências da Bahia, pesquisadores, alunos, colaboradores e demais membros da comunidade participaram do cortejo entre o Largo da Lapinha e a Praça do Campo Grande. A caminhada também contou com a presença da coordenadora nacional da Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente, Cristina Araripe

A diretora da Fiocruz Bahia, Marilda Gonçalves, participou do cortejo e falou sobre a importância de aproximar a ciência da população, especialmente neste dia de reverência aos heróis e heroínas na independência. “Nós estamos celebrando o bicentenário da Independência do Brasil na Bahia e é importante que a comunidade científica também esteja nas ruas para festejar as conquistas, mas também para nos unir em defesa da ciência. Esse é um dia importante para que possamos nos fortalecer para que juntos possamos superar os desafios que ainda temos pela frente”, afirmou. 

A pesquisadora da Fiocruz Bahia, Viviane Boaventura falou sobre a importância de aproveitar a data para relembrar a participação das mulheres e grupos historicamente invisibilizados nas lutas pela independência. “Participar do cortejo em comemoração ao 2 de julho tem um significado muito especial. Trata-se de um momento de resgate à memória da independência do Brasil iniciada na Bahia, feita pelo povo e representada pela cabocla e caboclo, com participação feminina, de negros e trabalhadores pobres. Representa o resgate das suas reivindicações, especialmente por melhoria nas condições de vida. Esses anseios são compartilhados pela Ciência que entende a sua importância para que haja pleno desenvolvimento do país”, afirmou.

Mesa de debate sobre a “A visão popular de Independência no 2 de Julho” finaliza a programação do  “Dois de Julho pela Ciência”

Na terça-feira (04/07), foi realizado o debate “A visão popular de Independência no 2 de Julho”, no Espaço Cultural 2 de Julho, na Reitoria do Instituto Federal da Bahia (IFBA). Marcando o encerramento das atividades promovidas pela Academia de Ciências da Bahia (ACB) para o “Dois de Julho pela Ciência”, a mesa redonda teve a participação de Sérgio Guerra, doutor em História Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e professor Adjunto da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), o Hendrik Kraay, doutor em História pela University of Texas at Austin e professor da University of Calgary e a Wlamyra Albuquerque, doutora em História Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e professora da UFBA. O debate foi moderado por João José Reis, doutor em História pela Universidade de Minnesota e professor da UFBA.

Abrindo a mesa, Manoel Barral, presidente da ACB e pesquisador da Fiocruz Bahia, falou sobre a necessidade de ações que promovam a importância da liderança feminina, não somente no contexto da discussão histórica sobre o 2 de julho, mas também no cenário atual. “Houve avanços, mas ainda existe a necessidade de ir além do diagnóstico das falhas, no que tange a falta de representatividade feminina em posições de liderança na ciência, planejando ações concretas com um prazo razoável para solução do problema”, sinalizou. Esteve presente também a Luiza Mota, reitora do IFBA, que reforçou, em sua fala, a importância de discussões sobre o bicentenário da independência que reflitam sobre os avanços das políticas públicas do ensino público brasileiro e o enfrentamento dos desafios atuais.

Durante o debate, ganhou destaque a discussão sobre a importância do reconhecimento das lutas contra as tropas portuguesas na Bahia para a independência do Brasil, assim como o trabalho de resgate da história de figuras emblemáticas durante este processo, especialmente figuras femininas e negras. “É importante a movimentação pela conscientização popular de que os eventos ocorridos em 7 de setembro de 1822 não foram um cessar dos confrontos contra tentativas de avanço das tropas portuguesas em diversas regiões do Brasil. Assim como ocorreu na Bahia, houve uma alta adesão de mulheres, pessoas escravizadas, negros e pobres livres nos processos de luta pela independência em conflitos pelo terrítorio nacional, diferente da narrativa disseminada sobre a data de 7 de setembro, que erroneamente faz parecer que a independência brasileira foi um resultado baseado unicamente em decisões feitas por gabinetes políticos”, argumentou Sérgio Guerra durante sua fala.

Em seguida, Hendrik Kraay apresentou alguns pontos-chave na história da comemoração da independência do 2 de julho na Bahia, focando no século 19, assim como a participação de mulheres, membros da classe trabalhadora e povos racializados nessas celebrações. “Como toda festa popular, as comemorações do 2 de julho tem a sua própria história em particular, constantemente renovada por aqueles que participam da festa, em um processo de invenção das tradições, através da criação, reinvenção e ressignificação dos elementos culturais e históricos que marcam a celebração”, pontuou.

Complementando o debate, Wlamyra Albuquerque reforçou a relevância nacional da história de independência do 2 de julho e a sua comemoração, não somente como um marco histórico regional, mas como um forte marcador na reconstrução narrativa sobre o Brasil enquanto república, em rompimento com a visão da independência nacional como uma conquista política alcançada por forças militares. Ainda em sua fala, a professora apontou que, ao longo da história, a festa do 2 de julho em Salvador os elementos presentes nas comemorações sempre tiveram um caráter plural , evidenciando as demarcações territoriais na cidade baseadas em raça e classe social. “A medida em que a festa se organiza, ela nos conta sobre as dinâmicas urbanas fundadas em hierarquias sociais, contudo, isso não significa que o Estado consegue totalmente moldar as comemorações com base na sua idealização de sociedade soteropolitana. A festa do 2 de julho é também um espaço de luta popular e construção da política cotidiana”, completou. 

Finalizando as falas apresentadas pela mesa, João José Reis destacou o papel fundamental executado pela população negra baiana nos campos de batalha pela independência na Bahia, não somente dos negros libertos, mas também de negros escravizados. “Muitos escravizados fugiram com o intuito de lutarem na guerra, acreditavam que a luta pela independência do país poderia também ser a luta pela sua própria independência e liberdade”, completou.

O 2 de Julho pela Ciência conta com o apoio da Fundação Oswaldo Cruz, além da Academia Brasileira de Ciências, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Academia de Letras da Bahia, Academia de Engenharia da Bahia, Institutos de Ciência e Tecnologia, Sociedade Brasileira de Física, dentre outras instituições atuantes na produção de conhecimento, na defesa, divulgação e popularização da ciência. 

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