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Um estudo, liderado pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador em colaboração com o pesquisador da Fiocruz Bahia, Guilherme Sousa Ribeiro, investigou surtos da Covid-19 ocorridos entre a tripulação de embarcações ancoradas na área de quarentena da Baía de Todos os Santos. O trabalho de investigação também contou com a parceria dos técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e dos Laboratórios Centrais do Município e do Estado da Bahia (Lacens).
Considerando que o setor marítimo foi mais um dos afetados pela pandemia do coronavírus e que a maioria dos relatos publicados referem-se a surtos ocorridos em navios de cruzeiro, a pesquisa teve como objetivo relatar os casos ocorridos em embarcações que não eram cruzeiros e discutir medidas de prevenção e controle da transmissão do SARS-COV-2. Estudos como este podem colaborar para melhores estratégias de enfrentamento de surtos e epidemias no referido setor.
Os surtos investigados ocorreram em oito embarcações e as tripulações variaram entre 22 e 63 membros. Dentre os resultados obtidos, foi possível identificar que a taxa de ataque (risco de infecção pelo SARS-CoV-2 entre os tripulantes) variou de 9,7% a 88,9% entre os surtos ocorridos em cada embarcação e que o risco de apresentar sintomas da doença também foi distinto entre a tripulação de cada embarcação (0% a 91.6%). Outros achados que merecem destaque foi que o risco de desenvolver sinais e sintomas da Covid-19 foi menor nos tripulantes vacinados e que 3 variantes do vírus SARS-CoV-2 que ainda não circulavam em Salvador foram identificadas (variantes: C.14, B.1.617.2 e B.1.351).
Em 2021, as vacinas contra Covid-19 foram introduzidas e ainda estavam em processo de distribuição entre os países. Nos primeiros quatro navios ancorados nenhum membro da tripulação ainda havia sido vacinado e suas tripulações apresentaram as maiores taxas de infecções sintomáticas. As últimas quatro embarcações, ancoradas em maio, julho, agosto e novembro, apresentaram taxas de cobertura vacinal de 3,7%, 40,7%, 80,6% e 58,3%, respectivamente. A menor taxa de infecção sintomática e de contágio foi encontrada entre a população da embarcação ancorada em agosto, que possuía a maior cobertura vacinal.
Os pesquisadores estimam que a vacinação prévia com pelo menos uma dose da vacina contra a Covid-19 teve uma eficácia global de cerca de 80% na prevenção do desenvolvimento da doença entre os infectados. Esses resultados mostram que a garantia do esquema vacinal completo das tripulações antes do embarque, principalmente entre os membros provenientes de países com baixa cobertura vacinal, pode ser uma forte política de contenção de surtos em embarcações. Apesar deste dado reforçar a importância da vacinação, os autores apontam para as limitações do estudo, que não tinha como objetivo principal avaliar a eficácia das vacinas.
Entre as conclusões da investigação, é salientado a importância para o segmento marítimo do empenho conjunto entre as autoridades de saúde e a tripulação para a prevenção e controle de surtos em embarcações, que são ambientes cujos espaços restritos favorecem a propagação de doenças transmissíveis como a Covid-19. Esse esforço será sempre necessário para reduzir a transmissão do SARS-CoV-2 dentro de embarcações e para conter a disseminação do vírus para cidades portuárias como Salvador.
O estudo, publicado na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, também ressalta a importância das parcerias entre as instituições de ensino e pesquisa e as instituições públicas de saúde para a ampliação dos conhecimentos e enfrentamento das doenças emergentes no âmbito da saúde coletiva.