Perspectiva histórica e desafios das mulheres na ciência são destaques de palestra ministrada pela presidente da Fiocruz

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A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, ministrou a palestra especial, “Gêneros e carreiras científicas: a experiência da Fiocruz”, no dia 12 de fevereiro. A sessão ocorreu de forma virtual, pela plataforma Zoom, como parte da programação realizada em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência (11/02). O encontro foi mediado pela vice-diretora de Pesquisa da Fiocruz Bahia, Camila Indiani, e contou com a participação da diretora da unidade, Marilda Gonçalves, que apresentou a palestrante.

“A nossa presidente é um exemplo importante da luta da mulher na ciência”, declarou Marilda. Nísia Trindade é a primeira mulher a ocupar a Presidência da Fundação em seus 120 anos de existência e, esse ano, após a eleição, foi reconduzida ao cargo para os próximos 4 anos. “É uma honra ter Marilda Gonçalves na direção do Instituto Gonçalo Moniz e, como mulher, é emocionante ver a consolidação da nossa liderança na instituição”, afirmou a presidente.

A palestra teve início com a exibição do documentário “Mulheres na Fiocruz: Pioneiras”, produzido pela Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), que conta a trajetória individual de 6 mulheres que se destacaram por seu pioneirismo nas atividades de ensino e pesquisa na instituição entre as décadas de 1940 e 1980 e de como protagonizaram o caminho para as gerações seguintes. “O filme nos faz refletir, em perspectiva histórica, sobre as dificuldades das mulheres na carreira científica, na ocupação desse espaço. Outras mulheres antecederam as homenageadas do filme, porém foi principalmente na década de 50 que os caminhos começaram a se abrir à carreira científica. No filme, vemos também a dificuldade de muitas dessas mulheres quanto à origem social, por serem imigrantes, pobres, e como a partir da educação foi possível esse percurso”, pontuou a presidente.

Segundo Nísia Trindade, mulheres de gerações posteriores também enfrentaram preconceito, ainda que tenham vivido o processo de emancipação das mulheres iniciado nos anos 1960. “Hoje, em todo o mundo, vemos uma realidade em que as mulheres ocupam cerca de um terço da atividade científica. Vemos também que, no Brasil, ainda que em instituições como a Fiocruz as mulheres sejam maioria, elas não ocupam, na devida proporção, os cargos de alta direção, sendo cerca de um terço desses cargos ocupados por elas”. 

A presidente da Fiocruz falou sobre o fato de ser a primeira mulher a ocupar esse cargo na instituição e destacou a importância das políticas públicas para que mulheres alcancem os cargos de direção. “Devemos homenagear trajetórias individuais, mas o que cabe fazer, no caso de mulheres que alcançaram essas posições como eu, é colocar de uma forma clara a necessidade de políticas institucionais e de políticas públicas que garantam as carreiras científicas para as mulheres e, efetivamente, a equidade de gênero que, ao lado da equidade de raça, é um dos princípios que orientam a nossa gestão”, comentou.

De acordo com a palestrante, um dos ensinamentos da história é que não existe caminho linear de progresso, por isso é necessário ter um trabalho constante para assegurar as posições já conquistadas pelas mulheres, ampliá-las e abrir espaço para as mulheres de todas as classes sociais. Trindade também mencionou a importância de ações voltadas para criar um ambiente cultural não permissivo para a discriminação contra as mulheres e avançar em medidas já existentes, como a avaliação acadêmica diferenciada em tempos de primeiros cuidados com os filhos.

Para a presidente, os efeitos da pandemia da Covid-19, nas questões dos direitos e da equidade de gênero, proporcionaram reflexões importantes. As mulheres de modo geral, bem como as mulheres de carreiras científicas, têm sofrido com o trabalho remoto, dado o acúmulo de trabalho com a realidade doméstica, uma vez que a divisão de tarefas geralmente as desfavorece. Outro fator é o crescimento da violência contra a mulher, que tem se mostrado um dos indicadores consideráveis do efeito negativo da pandemia. 

“Sabemos que, em realidades de forte desigualdade social, o comportamento da doença, a transmissão e seu impacto social são diferentes. Em todo o mundo se discute que esses tempos de pandemia têm demonstrado um possível retrocesso em relação a muitos objetivos do desenvolvimento sustentável da Agenda 2030, entre eles os que se referem à equidade de gênero. Assim como alguns indicadores que melhoraram ao longo do tempo, como mortalidade infantil e a superação dos quadros de fome, que também podem sofrer uma grave regressão”, afirmou. 

Nísia Trindade lembra que o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência é uma data para ser celebrada, mas também um dia de compromisso diante do que ainda precisa ser conquistado. “Ainda que tenhamos essa mensagem inspiradora do filme dessas 6 mulheres, não podemos descansar, porque não existe um futuro promissor. O que existe é um trabalho incessante de espaços a conquistar, de projetos educacionais e de busca para uma equidade efetiva”, declarou.

A palestra está disponível no canal do Youtube da Fiocruz Bahia, confira!

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